sábado, 7 de abril de 2018

Dois Poemas de Eduardo Aroso


VARIAÇÕES DO LABIRINTO *
(Sobre meditação-estudo de Lima de Freitas)

1
Não se entra no labirinto.
Alarga-se quando se está.
Só a saída é probabilidade.

2
É a cidade, alicerces solitários,
O estádio, a claque, o dízimo alienado.
Mas a praça central desconhece a amêndoa.

3
O labirinto mantém-se.
O mesmo de quem tem vários empregos
Para ganhar mais dinheiro.

4
É essa fome estranha e roedora
Que não sabe de que alimento
E afoga-se na água que procura.

5
No labirinto os corredores baixam ao Hades
Se o fio se perde.
Oh, angústia da memória!

6
Nele existe o melhor da escola
Da verdade sem sombras:
Discernir o círculo e o quadrado.

7
O labirinto só é
Enquanto há larva.
Se surge borboleta, é céu.

8
Nele o tempo é espaço
- O tal ponto em toda a parte
E em lado nenhum.

9
Não te iludas: os ecos sufocam
A melodia única que conduz.
Uma gota de orvalho basta-se.

10
No labirinto busca-se a saída
Como o poema perfeito
Onde falta sempre a última palavra.

* inédito

Eduardo Aroso
Páscoa, 2018



NOVA  CARTOGRAFIA

Ultimam-se as cartas


Com referências a paragens
Nunca suspeitadas.
Agora é desfraldar a vela,
Ser o aqui e o além
A não perder de vista;
Cá dentro há longas costas,
Cadinho para alquimistas
Celebrarem sínteses de etnias.
Completa é a última carta
- Onde quer que viajemos
No pensamento ou na acção
Deixaremos sempre
O nosso padrão.

E ai de quem volte atrás,
De quem troque o Sonho pelo pesadelo
E queira ter o amargo gosto
De saber se a máscara do Velho do Restelo
Ainda serve ao nosso rosto!

De «A Quinta Nau» (Edições Gresfoz, 2003)
Eduardo Aroso

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