VARIAÇÕES DO LABIRINTO *
(Sobre meditação-estudo de Lima de Freitas)
1
Não se entra no labirinto.
Alarga-se quando se está.
Só a saída é probabilidade.
2
É a cidade, alicerces solitários,
O estádio, a claque, o dízimo alienado.
Mas a praça central desconhece a amêndoa.
3
O labirinto mantém-se.
O mesmo de quem tem vários empregos
Para ganhar mais dinheiro.
4
É essa fome estranha e roedora
Que não sabe de que alimento
E afoga-se na água que procura.
5
No labirinto os corredores baixam ao Hades
Se o fio se perde.
Oh, angústia da memória!
6
Nele existe o melhor da escola
Da verdade sem sombras:
Discernir o círculo e o quadrado.
7
O labirinto só é
Enquanto há larva.
Se surge borboleta, é céu.
8
Nele o tempo é espaço
- O tal ponto em toda a parte
E em lado nenhum.
9
Não te iludas: os ecos sufocam
A melodia única que conduz.
Uma gota de orvalho basta-se.
10
No labirinto busca-se a saída
Como o poema perfeito
Onde falta sempre a última palavra.
* inédito
Eduardo Aroso
Páscoa, 2018
NOVA CARTOGRAFIA
Ultimam-se as
cartas
Com
referências a paragens
Nunca
suspeitadas.
Agora é
desfraldar a vela,
Ser o aqui e o
além
A não perder
de vista;
Cá dentro há
longas costas,
Cadinho para
alquimistas
Celebrarem
sínteses de etnias.
Completa é a última
carta
- Onde quer
que viajemos
No pensamento
ou na acção
Deixaremos
sempre
O nosso
padrão.
E ai de quem
volte atrás,
De quem troque
o Sonho pelo pesadelo
E queira ter o
amargo gosto
De saber se a
máscara do Velho do Restelo
Ainda serve ao
nosso rosto!
De «A Quinta
Nau» (Edições Gresfoz, 2003)
Eduardo Aroso
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