sexta-feira, 27 de abril de 2018

Erva-de-são-roberto



Está no tempo propício para colher a erva-de-são-roberto!

por Miguel Boieiro

Quem fervilha nos meios urbanos, em atividade intensa e desgastante, precisa regularmente de visitar a natureza para a conhecer e desfrutar das suas benesses. Ir ao campo ou à praia, para além de constituir um passeio desintoxicante, se soubermos evitar os arreliadores “engarrafamentos”, é uma ocasião soberana para descansar a mente e apurar os nossos dotes inatos de observação. É também uma boa oportunidade para se receber uma admirável lição de lógica – a lógica da natureza, onde tudo se encadeia harmoniosamente.

Vem isto, a propósito, dos milhares e milhares de citadinos que, durante todo ano, frequentam o extenso areal que vai da Costa da Caparica à Fonte da Telha. Cremos que toda a gente se dá conta do imenso acacial que antecede a duna primária, mas quantos reparam na complexa sociologia vegetal que se desenvolve por debaixo dos arbustos? Quantos conhecem essa utilíssima planta que dá pelo nome de erva-de-são-roberto? E, no entanto, essa planta medicinal medra aí, na semi-penumbra, em doses industriais que quase daria para abastecer o mundo. O facto é de que muitas pessoas usam o “chá”, comprando a erva seca nas ervanárias, mas desconhecem que a respetiva planta vegeta à nossa volta com o seu odor inconfundível e aparência muito própria que não escapa ao bom observador.

Vamos então detalhar o Geranium robertianum L, da família das Geraniáceas, uma das minhas plantinhas preferidas.

Trata-se de uma delicada erva selvagem que pode atingir 40 cm de altura. Possui caules parcialmente avermelhados e algo peludos, e folhas alternas, pentagonais muito recortadas, de pecíolo longo, cuja forma e tamanho fazem lembrar a salsa. As flores possuem tons rosa-violáceos. As sementes formam cinco carpelos com extremidades ponteagudas que lembram o bico de um grou. Por isso, no Brasil, também é conhecida por “bico-de-grou”. Os caules, muito frágeis, são mais avermelhados junto à raiz e possuem intumescências nos nós.

A erva-de-são-roberto tem o seu habitat nos terrenos húmidos e baldios, em lugares sombrios, por todo o país. É muito frequente nas matas, onde alastra em grandes extensões.

A planta deve ser colhida logo que se encontra em flor. Deve-se evitar apanhá-la quando existe humidade, dada à sua textura muito tenra que ocasiona rápida deterioração. Pela mesma razão, a secagem deve fazer-se, com cuidado, ao abrigo do sol e em lugares secos.

Finalmente, para que serve a erva-de-são-roberto? Pois, para um nunca mais acabar de moléstias: doenças intestinais, como colites, prisão do ventre e outras, úlceras de estômago e do aparelho digestivo em geral, dores de dentes, feridas, doenças da pele, anginas, diabetes, edemas, hemorragias, infeções oculares, e nefrites. Há até quem a recomende para o tratamento de doenças cancerosas.

Contém princípios ativos à base de tanino, óleo essencial, substância amarga, ácidos orgânicos e vitamina C.

Principais propriedades: adstringente, anti-espasmódica, diurética, hemostática, tónica, vulnerária, etc.

Utiliza-se tradicionalmente a infusão, bastando 15 gramas por litro de água, dispensando-se a fervura demorada. O reputado Dr. Indiveri Colucci costumava receitar a erva fresca finamente cortada e misturada com gema de ovo, tomando o doente esta mistura em jejum. No caso de não se conseguir a planta em verde, deve seguir-se o mesmo método com a planta seca pulverizada.

Podemos também utilizá-la sob a forma de compressas, lavagens exteriores, bochechos, em pó e em essência.

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