sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Das azinheiras e árvores sacras de Valinhos, Fátima


Pedro Teixeira da Mota
Das azinheiras sagradas de Fátima e mais precisamente de Valinhos, eis o registo realizado a 28-VII-2018 da via sacra delas, nas margens que ladeiam a tradicional via sacra cristã e que as pessoas percorrem detendo-se em frente das capelinhas comemorativas dos passos da paixão de Jesus em orações, cantos ou reflexões.   
 Fazem-no, todavia, sem darem muita atenção ou mesmo admiração e amor às árvores centenárias que as rodeiam ou acompanham,  sagradas já que também elas consubstanciam a ligação ou intermediarização entre a Terra e o Céu, não só ao longo dos séculos ou mesmo milénios, mas no próprio processo das aparições marianas e angélicas, que sobre elas se realizaram, e que de um modo ou outro abençoam estas terras e gentes e, potencialmente, os muitos peregrinos que, com esta unidade consciencializada, poderiam mais ganhar energética e espiritualmente.

 Troncos trinitários, Pai, Mãe e Filho; Masculino, Feminino e unificado, passado, presente e futuro; Eu, tu, nós, ou outras trindades, mundos etrimurtis....
As árvores abrem-se no caminho, ou abrem alas e asas para os caminhantes, pois gostam de dar sombra refrescante, energia revigorante e som inspirador às almas peregrinas...
 Diálogos subtis de seres, formas, texturas, raízes, cores que vagamente vislumbramos...
 
 Que comunicações se estabeleceram ao longo dos anos entre as azinheiras, os pinheiros, as oliveiras, os sobreiros, os cedros que por aqui vivem sabemos pouco, e menos ainda dos espíritos da natureza que as habitam mas que se deixam intuir nas formas com que alguns troncos, cavidades ou protuberâncias assumem ao olhar do coração, aquele que vê os seres dentro das formas ou o invisível no visível.
  
 A via sacra arbórea está mais visível nos restos calcinados ou secos e que tanto podem indicar um raio do céu, como um fogo, como uma doença, fazendo-nos lembrar como a negligência em relação a elas e a ganância do dinheiro da pasta do papel obtida pela eucaliptização intensiva tem sido daninha em relação ao arvoredo autóctone e à harmonia das matas, bosquetes e campos.
 Estes restos secos, quase petrificados pelo sol ardente, criam esculturas que nos falam da elevação do túmulo vegetal ao corpo transfigurado espiritual, algo que se passa ou passou com os mestres, mormente com Jesus, mas que também cada ser deve fazer do seu corpo físico utilizado em prol do corpo espiritual, da realização divina e da comunhão no corpo místico ou universal da Humanidade, campo unificado de energia, consciência, informação e intenção.
O tronco da árvore como que levita, está angelizado e embora esteja no seu estado de menor vida biológica a sua potência espiritual de ressurreição em nós é grande.
   "Entrai mais em nós", dizem-nos os espíritos das árvores, bosques e campos...
 Esta azinheira destacou-se no caminho da peregrinação ou via sacra, do lado direito de quem a realiza e fez-me saltar o muro e correr para saudá-la, isto é, dar-lhe da minha aura e alma, abraçá-la, sintonizá-la e com ela comungar da sua função essencial de ligação entre a Terra e o Céu, no ser humano dotado de maior capacidade de auto-consciencialização, alargada à ligação entre a Humanidade e a Divindade...
Comunicação e certa comunhão com a azinheira... Fotografia do Pedro Teles que, com a Célia Delgado, originou a peregrinação dum pequeno grupo a Fátima e à maravilhosa gruta de Mira Aires. 
 
 Encostado à azinheira imensa, que visão divina esta de mil ramos, mil neurónios, mil pétalas de luz, milhões de sinais de comunicação vivos, interactivos, pulsantes...
 
Danças e gestos fabulosos esculpidos de algum modo por esses grandes artistas invisíveis das formas da natureza e particularmente das árvores e pedras que são os espíritos da Natureza, que infelizmente ainda muito pouca gente acredita ou já conhece...
 
 Falas das árvores e das suas folhas sussurrantes ao vento, ou das cigarras e aves que as habitam ou visitam, quem as sabe ouvir e dialogar?
 
Corpos esbeltos ou mesmo angélicos podem sentir-se ou ver emergir das árvores, pois os espíritos da Natureza ligados a elas podem existir em várias gamas vibratórias e ir desde os duendes e anões a dríades e hamadríades já próximas de devas e anjos


 Por fim, a azinheira original na qual teriam pousado as plumas angelicais e diafanamente transmitido energias que se tornaram palavras e conceitos, orações e mensagens para os pastorinhos...
 
 O contraste entre a energia telúrica que perpassa a azinheira semi-calcinada pelas intempéries do tempo e da história contrasta bem com a brancura pura do espírito celestial que quer intensificar e desvendar a presença divina, ou o influxo divino nos seres humanos que, como crianças receptivas, se abrem ao mundo espiritual e não estão presas nos preconceitos sociais ou nas ambições materiais.
 Os humildes, os que são o húmus da terra, os que amam, cultivam e comungam com a Natureza, pura espelho da Divindade, podem mais facilmente ver os espíritos da Natureza ou mesmo os Anjos...
 Da visão angélica, rara, difícil mas maravilhosa...
 Pelo coração da árvore, pela abertura do teu coração, pela aspiração pura ou amorosa do teu ser, o Anjo ou o Arcanjo pode ser visto, em geral pela visão espiritual mas em certos casos também pela física...
 Neste local sacro oramos e meditamos,  saudamos e  invocamos os anjos da guarda e os arcanjos nacionais de cada um de nós.. 
A árvore é um grande espírito da natureza como que em dança, como o deus Pan, congraçando o culto imemorial da Natureza e seus seres e a nova desvendação divina cristã e fatimida que no século XXI se vai tornando mais inserida na Religião Universal do Espírito e do Amor Divinos, base e fim de todas as religiões...
 Apoios que por vezes devemos prestar às grandes árvores, algo muito comum no Japão e no Shintoísmo, onde as árvores são verdadeiramente respeitadas e cultuadas como capazes de conterem um Kami ou espírito da natureza, ou serem habitação ou local de irradiação de bênção dosKami, de Deuses, ou seja, de espíritos, anjos e grandes seres.
  
 "Meu Deus, eu amo-vos de todo meu coração,de toda a minha alma de todas as minhas forças..."
 O Y pitagórico, iniciático, da escolha constante pela maior luz e bem comum com que nos defrontamos, é um dos sinais evidentes da origem das letras nas formas dos ramos e troncos, como já intuí e vi há alguns anos numa meditação mais prolongada diante de uma árvore centenária em Santa Valha. E assim diariamente nos vamos colorindo e avançando no Caminho do conhecimento e do amor das verdades e seres espirituais, maxime a Divindade...

 "Meu Deus, eu creio-vos, adoro-vos, espero-vos e amo-vos," e sinto-vos e contemplo-vos, certamente a grande oração das azinheiras, dos pastores, dos videntes, dos santos e mestres, dos Anjos, e transmitida por este mensageiro celestial, quem sabe se epifania do Arcanjo de Portugal...
Firme, forte, bem enraizada, a última azinheira e a sua dríade ou Espírito da Natureza, qual Deusa Mãe Terra, saúda-nos e pede-nos para defendermos mais as árvores, em especial as mais velhas, raras e sagradas... 

1 comentário:

MJC disse...

Caro senhor Pedro boa tarde.
Para quem ama as árvores o seu texto e fotos são bálsamo e companhia, garante de que provavelmente não somos tão sós como às vezes supomos. Não acompanho todos os passos que o levam até lá mas na veneração às « árvores abrem-se no caminho, ou abrem alas e asas para os caminhantes, pois gostam de dar sombra refrescante, energia revigorante e som inspirador às almas peregrinas...» revejo-me quase como um eco que ressoa dentro.
Também eu as venero - as azinheiros também me tocam particularmente pois são abundantes no Alentejo de onde provenho - e quando pelos bosques caminho vou sempre à escuta embora nem sempre consiga ouvir mas, às vezes dá-se o sortilégio e então é tão enriquecedor que parece não ser possível haver quem não entenda.
Adorei a sua reportagem. Parabéns e obrigado.

Manuel João