HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
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É como dizes, o homo sapiens sapiens ou seja, a espécie humana tal como a conhecemos não resultou da passagem linear entre as diversas ramificações mas sim da sobreposição de umas nas outras o que, pela dinâmica natural da população, terá provocado a substituição das primeiras pelas segundas.
Foi assim que alhures, em África, começaram a reproduzir-se exemplares desta nova família que aí se mantiveram um punhado de dezenas de milhares de anos, sempre em frágil equilíbrio e riscos de extinção dado, por um lado, o seu número reduzido e, por outro lado, as adversidades e a concorrência de outros animais que tiveram que enfrentar, entre os quais se encontrava os seus parceiros de árvore genealógica.
Mas a verdade é que este novo homem, dotado de capacidades mentais que nenhum dos ancestrais possuiu e, simultaneamente, herdeiro das respectivas conquistas culturais de que a caça e o domínio do fogo são exemplos relevantes, mais do que qualquer outro estava preparado para se lançar à conquista do planeta tanto no que diz respeito ao uso da terra e dos seus recursos, tal como no referente à adaptação do meio ambiente às suas necessidades.
Ora olhando o rasto genético, a História aponta que certamente mais pela força das alterações climáticas que terão reduzido as melhores zonas habitáveis e as reservas alimentares disponíveis, um pequeno grupo terá atravessado o Mar Vermelho para a Península Arábica e dele descendem aqueles que viriam a colonizar todo o planeta.
Como isso aconteceu não é possível saber com certeza mas não é muito difícil de imaginar; temos conhecimentos e instrumentos que o permitem. O aumento demográfico e a busca de novos espaços com fontes de alimento devem ter-se cruzado para que os seres humanos se tivessem espalhado pelo planeta. E não demoraram muito a fazê-lo. A saída de África que não repetiu o caminho que a Arqueologia atribuiu ao homo erectus e, como já vimos, teve lugar no Mar Vermelho, terá ocorrido à volta de oitenta mil anos. Naturalmente que isso não se deveu apenas à curiosidade. Razões mais fortes de ordem bio-climática devem ter empurrado essas dezenas de indivíduos para a outra margem que seria então avistável a partir de certos pontos do corno de África e que estaria mais perto que na actualidade. E aí devem ter encontrado um território inexplorado e farto que teve o condão de ser o Éden para esses imigrantes.
Pois foi por lá que permaneceram e se multiplicaram e de onde se dirigiram para Leste e para Norte. Em mais ou menos quinze mil anos chegaram ao sub-continente indiano e à península indo-chinesa e outros tantos depois começaram a penetrar em terrenos europeus e na direcção do setentrião eurasiático.
É provável que a progressiva substituição que a partir dessa altura se verificou entre o neanderthalense e o sapiens sapiens tenha tido por motores tanto a mistura como a predação pura e simples, assim como pela influência da concorrência relativamente aos habitats e dietas disponíveis. Com efeito, parece que há dados que apontam para que hajam sérias probabilidades de que todas essas hipóteses tenham ocorrido, sendo que as duas últimas se baseiam mais em induções e a primeira delas tenha algum suporte em dados que recentemente foram recolhidos em Portugal com o esqueleto da criança de Lapedo que, pelo menos segundo alguns especialistas, apresenta características comuns ao Neanderthal e ao Sapiens Sapiens.
Seja como for, tal fenómeno sucedeu um pouco por toda a parte e foi já nos últimos trinta mil anos que, enfrentando uma Idade do Gelo, os nossos antepassados terão transposto a pé o estreito de Bering e chegado ao continente norte-americano para, em pouco mais de uma dezena de milhares de anos atingirem o seu extremo Sul.
Somos, desta forma, todos filhos da mesma espécie, todos descendentes do grupo que provavelmente não ultrapassaria em muito a centena de pessoas e passou de África para a Península Arábica. E foi a partir dessa dispersão dos últimos cinquenta mil anos que as colorações da pele e os diversos aspectos físicos dos seres humanos se foram adaptando ao aumento das latitudes e, como resposta à inclinação da radiação solar, escurecendo na proximidade do Equador e clareando na direcção oposta.
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