terça-feira, 29 de janeiro de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Fim-de-semana calmo e tranquilo, ainda que ontem tenha sido arrancado da cama em horário de dia normal de trabalho, por causa da conclusão do envernizamento do chão da nova sala e do pequeno hall que dará acesso ao piso superior do apartamento. 

E se na sexta-feira jantámos fora por causa do cheiro e da intensidade acre do verniz no ar, ontem tivemos que passar algum tempo da tarde em casa, pois a Matilde convidara duas amigas para brincar e lanchar com ela. Mas assim que o calor amainou, saímos para um passeio pelo parque novo, com bicicleta e trotinetas que, depois de levarmos as amiguinhas do pardalito a casa, deu lugar a um bom par de horas com as pernas esticadas, à volta de uma boa mesa de caracóis e conversas de circunstância. 

Quando regressámos a casa, o pior tinha passado. 



Hoje, como foi o dia da comunhão da Beatriz, as minhas filhas passaram toda a tarde em casa da amiga e os pais aproveitaram para ir ao cinema. 
“O Dia Depois de Amanhã”, uma aventura de coragem e esperança entre um pai e um filho na contingência de uma hecatombe climática que, no espaço de uma semana, originou uma nova era glaciar no hemisfério norte. 

Tecnicamente irrepreensível, este filme do realizador de “O Dia da Independência”, acaba por nos chamar a atenção para a cegueira com que temos vindo a enfrentar o impacto do desenvolvimento sobre o meio ambiente e ainda mais para a solidariedade entre os humanos que tão necessária é para salvaguardarmos a casa comum em que vivemos. 

Foi uma boa tarde de Domingo. 



Na sexta-feira, entre a aula de música e a de moral, os alunos aprenderam a palavra peixe, a qual serviu de mote para o trabalho de casa. 



O nosso primeiro-ministro e os seus pares é que parecem estar de cabeça perdida. 
Cá para mim, a desorientação resulta de já não terem qualquer margem de manobra para traçarem políticas próprias nos mais variados sectores – se é que alguma vez as tiveram em mente – subjugados que estão aos interesses parcelares e particulares de lóbis diversos, alguns de cariz manifestamente mafioso, todos eles poderosos e mais ou menos esconsos. 

É o lento mas paulatino desmantelamento do serviço nacional de saúde com a entrega de unidades hospitalares públicas à exploração privada, sem que daí decorra outra coisa para além do aumento da rede de cuidados médicos para as seguradoras e as estruturas materiais dos seguros respectivos. 
Foi o episódio do salário contratado para o novo Director-Geral das Finanças, verba inconstitucional e ilegal, isto segundo alguns especialistas na matéria, paga em parte pelo banco privado de que aquele quadro é oriundo, deixando a porta aberta a especulações antecipadas quanto à independência e imparcialidade de tão preponderante alto funcionário. 

Enfim, o ror dos disparates – infelizmente sequer o são – seria grande. 

O desvario chegou ao ponto de vermos Lobo Xavier, influente dirigente centrista, num programa de comentário político semanal, debruçar-se sobre o problema da saída de Mourinho do Futebol Clube do Porto – ao que chegámos – e justificar o ponto de vista do clube, explicando em que é que o treinador tinha agido mal, o mesmo é dizer, pelas palavras que utilizou, segundo o que é normal e usual naquela casa, o que é que o homem fez de errado, o que é que nas suas atitudes colidiu com aquela tradição. Conseguimos atingir o nível em que intérpretes do poder político se prestam a dar recados a terceiros. 

Agora parece que o ministro do ambiente foi demitido por manifestar reservas quanto ao modelo de privatização das águas de Portugal e por ter definido que os dinheiros daí obtidos, em vez de serem usados para a contenção do défice, deveriam ser investidos na rede de distribuição e abastecimento do precioso líquido, tanto para a agricultura e demais actividades económicas como para o consumo doméstico. 

Portugal está sob o domínio de tubarões cheios de apetite e de força para o saciar. 
Paira sobre nós o espectro de uma nova espécie de totalitarismo que vestirá as aparências de uma sociedade aberta. 
Temos que ser suficientemente inteligentes para lhe sabermos identificar os contornos. 



Naipaul, outra vez, “Para Além da Crença”, o mundo islâmico não árabe que, sob o molde de narrativa de viagens, não só nos traça um elaborado panegírico desses povos e sociedades, como ainda nos permite compreender como o Islão, ou certas interpretações do Islão, melhor será dizer assim, têm interferido e modelado a vida dos crentes e do meio social em que vivem. Vemos ali o fermento de que se fez e faz o integrismo mais radical. 
Mais ainda que cheia de interesse, esta é uma daquelas leituras enriquecedoras. 



Mas o melhor ficou para o fim. 

Na tarde de Sábado, a Luísa recebeu um telefonema dos serviços camarários que informaram que a Margarida foi premiada no concurso de poesia das escolas básicas do concelho. 

Uau! O pai inchou de contentamento e, é claro, toda a família deu os parabéns ao piolhito. 

Concorrendo no escalão etário dos dez aos doze anos de idade, este meu amorzinho competiu com miúdos do quinto e do sexto ano e ainda assim ficou num dos três primeiros lugares. 
Que alegria! 

E logo ela se manifestou cheia de receios e hesitações perante o pedido para que leia um dos seus poemas, naturalmente o premiado, na sessão da entrega dos prémios. 


A noite é sempre tão serena quando nos enchemos de felicidade. 


Alhos Vedros 
  30/05/2004 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Naipaul, V. S., PARA ALÉM DA CRENÇA, Tradução de Alexandre Emílio, Dom Quixote (1ª. Edição), Lisboa, 2001

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