terça-feira, 2 de junho de 2020

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ainda que me tenha levantado cedíssimo por causa da ida da Margarida ao dentista, este dia feriado veio mesmo a calhar. 

Agora que estou sentado a escrever estas linhas, já tive tempo de organizar e passar a limpo as narrativas que desde o passeio em Salzburgo, andavam a monte em folhas separadas e ainda consegui ler uma boa meia hora para além do jornal de que dei conta com a bica da manhã. 



Lá continua a gritaria em torno da famigerada colocação de professores que, este ano, deixou as escolas ao deus dará. 


Quanto a mim, a maior curiosidade continua a residir no facto de todos falarem disto e daquilo, de resultados, de orgânica, enfim; de os sucessivos responsáveis que há anos vêm ocupando os cargos de decisão encabeçarem outras tantas reformas que ora modificam os currículos, ora criam e apagam disciplinas e matérias, ou ainda reorganizam o processo de gestão do ensino básico e do secundário e de a realidade nua e crua ir mostrando um sistema ineficaz e, nessa medida, demasiado caro, sem que alguém cure de fazer as perguntas certas. 

Para que queremos um sistema de ensino? Quais os objectivos que podemos querer atingir com o mesmo? 

Estas são as perguntas fundamentais que nos permitem compreender que aquele só pode ser pensado de forma a que seja possível ministrar saberes e competências à população, particularmente a jovem, de tal forma que os alunos possam, consoante as suas opções, entrar no mercado de trabalho com as devidas aptidões para aí escolherem e aprenderem uma profissão, ou muito simplesmente prosseguir os estudos. 

Como chegar a esse patamar? 
Esta é a pergunta a partir da qual os pedagogos e técnicos da educação a que se juntam os políticos, normalmente se espalham. 
E tropeçam por geralmente tratarem o problema em teoria o que os faz tomar medidas avulsas sem qualquer coerência. 
Ora aqui o que importa saber é se existe alguma partícula mínima do sistema em que as nossas ideias quanto aos desideratos finais do mesmo possam ser testadas. E há, trata-se da sala de aula. 
É a partir dela que nos habilitaremos a identificar tudo o que é imprescindível para o bom funcionamento de um sistema de ensino, bem como o modo como o poderemos organizar e avaliar os diversos elementos para que tal seja possível. 


O cómico está em que o desenvolvimento destas ideias põem necessariamente em causa tanto todos os interesses instalados, como a palhaçada e o cinismo com que os nossos líderes políticos têm encarado o fenómeno onde sempre é possível fazer cortes orçamentais quando os tempos de vacas magras o impõem. 


E é por isso que não iremos a lado algum e na próxima geração estaremos, em termos de desenvolvimento, ultrapassados pelos países do Centro e Leste da Europa que, há pouco mais de uma década, emergiram do comunismo. 


E é por isso que gente da índole de Pinto da Costa é tão admirada neste país à beira-mar saqueado. 



Chegaram os livros escolares do segundo ano que a Matilde logo tratou de abrir e folhear. 

“-Mo-di-fi-ca-ções do cor-po. Modificações do corpo. Olha pai, a menina a crescer e os sapatos do bebé, depois do menino crescido e os da mãe e do pai." 


Ui! Que encanto.   


A lista completa é a seguinte: 

“Caminhos”, Estudo do Meio, da Autoria de Conceição Dinis e Luís Ferreira, editado pela Porto Editora, em dois mil e quatro, sendo este um exemplar da primeira tiragem da primeira edição. 

“Amiguinhos”, de Alberta Rocha, Carla Laho e Manuel Linhares, da Texto Editora, com um suplementar caderno de fichas, também deste ano, embora da segunda tiragem da primeira edição; trata-se do livro de Matemática. 

Finalmente o manual de Língua Portuguesa, “Pirilampo 2”, de Noémia Torres, das Edições Nova Gaia, em primeiras tiragem e edição do corrente ano. 



É curioso como por tudo e por nada a comunicação social solicita a opinião de José Sócrates? 

Porque será? 



A Patrícia e o Jorge lá foram continuar os dias de férias que lhes restam num passeio pela costa alentejana. 

Parece que vão satisfeitos com a nossa hospitalidade. 


 Alhos Vedros 
  14/09/2004

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