sábado, 27 de março de 2010

A AGLP "abre as portas" da cultura galega no Brasil

A Academia Galega da Língua Portuguesa conta dende esta sexta feira con representación no Brasil. As académicas Concha Rousia, colaboradora de Vieiros, e Isabel Rei participan, por convite dos gobernos brasileiro e portugués, na Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua portuguesa no Sistema Mundial, que está a ter lugar en Brasilia.

Segundo explicou Ângelo Cristóvão, secretario da AGLP, as dúas representantes galegas participarán na primeira parte dos encontros, divididos en paneis temáticos, cuxos resultados se lles transmitirán máis tarde aos gobernos. Rousia e Rei estarán presentes nos relatorios que teñan máis interese para Galiza.

Rousia e Rei terán presenza noutros eventos de carácter cultural no país americano. Así, o día 28 participarán nunha visita guiada ao Museo da Língua Portuguesa en São Paulo. O día 29 asistirán a unha recepción oficial na Academia Brasileira de Letras, acompañadas do tamén académico Joám Evans Pim. Rousia pronunciará unha palestra sobre a participación galega nos Acordos Ortográficos e presentarán novas publicacións da AGLP: o boletín número 3 e o primeiro número da colección Clássicos da Galiza, con Cantares Galegos de Rosalía de Castro. Ese mesmo día, pola tarde, asinarán un protocolo de colaboración e apoio mutuo entre o Real Gabinete Português de Leitura e a AGLP, cun recital poético e musical.

Ademais da participación en varias conferencias en diferentes cidades do Brasil, o 31 de marzo as académicas da AGLP estarán na sesión inaugural do Instituto Cultural Brasil-Galiza, en Florianópolis. O novo organismo, integrado por profesores brasileiros e persoal galego, encargarase de promover a cultura do país no Brasil, con exposicións itinerantes en todos os estados.

A seguinte cita importante será a partir do 5 de abril, no Colóquio Açoriano da Lusofonia, tamén en Florianópolis, estado de Santa Catarina. Rei e Rousia intervirán con cadansúa palestra, mentres que o día 6 presentarán as novas publicacións da AGLP, Rousia falará de "Língua da Galiza: poder e responsabilidade" e Rei ofrecerá un concerto de guitarra de música galega, incluíndo temas inéditos de Marcial Valladares. O dia seguinte participarán nun recital de poesía que incluirá obras de Rosalía e de Martín Codax.

Cristóvão salientou que todos os actos en que vai participar a AGLP terán gran repercusión nos ámbitos culturais e nas entidades que van marcar a política cultural do Brasil, para dar a coñecer a cultura galega e a nosa realidade lingüística. Afirmou que o seu papel vai ser o de "abrir portas e camiños" para que despois outras entidades poidan levar a cabo un intercambio cultural e económico. "Non significa que queiramos encargarnos de difundir a cultura galega no Brasil, porque non temos capacidade, pero si abrir portas".

O secretario da Academia tamén explicou que "non obrigamos a ninguén a nada, temos o noso punto de vista" e que esta visita ao Brasil "con certeza, non será a última", polo que servirá para iniciar unha serie de contactos entre os dous países.

http://www.vieiros.com/nova/78889/a-aglp-abre-as-portas-da-cultura-galega-no-brasil
Ângelo Cristóvão, dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br

quinta-feira, 25 de março de 2010

Movimento cívico e cultural "Outro Portugal", em Alhos Vedros.

No dia 7 de Março, e ainda na sequência da apresentação do Manifesto "Refundar Portugal", pelo Professor Paulo Borges na Escola Aberta Agostinho da Silva, foi promovida uma jornada de reflexão sobre questões locais.

Estiveram presentes: Célia Martins, Diogo Correia, Edgar Cantante, Fernanda Gil, Joaquim Raminhos, Leonel Limão, Luís Santos e Manuel João Croca.

Aqui fica a síntese dos assuntos abordados:

1- A Fernanda Gil começou por fazer referência à sua participação na organização da Feira Medieval que decorrerá em Alhos Vedros nos dias 3, 4 e 5 de Junho. Foi levantada a possibilidade do nosso Grupo participar nalguma actividade relacionada com esse evento.

2- O Luís Santos apresentou o Blogue/Revista Estudo Geral e dada a riqueza da História Local da região pensou-se em iniciar a elaboração de um dossier sobre património histórico que poderá ser publicado na Revista. Relembrou também a inexistência na região de um núcleo museológico.

3- O Manuel João Croca, secundado por todos os outros, identificou um conjunto de problemas de que a região padece, como sejam, o abate intensivo de árvores, a desflorestação, a degradação das zonas naturais junto à margem do rio e a crescente degradação urbana do centro histórico de Alhos Vedros. Propôs ainda que se tentasse recuperar a organização do Festival Lusófono Musidanças.

4- O Edgar Cantante, em concordância, com algumas das questões assinaladas, falou das más condições a que os animais abandonados estão sujeitos e das dificuldades com que luta a direcção da respectiva Associação. Nesse sentido propôs que o Grupo pudesse ajudar nalgum sentido, nomeadamente, na organização de uma possível campanha para adopção desses animais. Falou-se também num eventual contacto com a União Zoófila da Moita.

5- A Célia Martins, acentuou também alguns problemas relacionados com o património natural, como é o caso do Cais de Desmantelamento dos Barcos (dito Cais Novo). Informou também sobre a operação “Limpar Portugal” que vai mobilizando todo o país e que na região envolve algumas centenas de pessoas.

6- O Digo Correia desenvolveu também algumas ideias sobre as zonas naturais, nomeadamente sobre o Cais de Desmantelamento dos Barcos e o impedimento que as pessoas vão sentindo de acederem ao rio, por motivos vários. Uma situação que merecerá ser reparada.

7- O Leonel Limão falou da possibilidade de se organizarem manifestações espontâneas, que de alguma forma pudessem dar visibilidade a algumas questões merecedoras de serem assinaladas.

8- O Joaquim Raminhos concordou com a possibilidade de se fazer um encontro com a Associação dos Animais Abandonados e com a realização da referida campanha de adopção. No âmbito das relações lusófonas propôs o envio de livro para cabo Verde em parceria com a Associação de Amizade Cabo Verde/Portugal. Assinalou também a proximidade do Dia da Árvore e da Floresta e que seria bom participarmos nos eventos que decorrerão na região.

terça-feira, 23 de março de 2010

PÁSSAROS DE FOGO


Flamingos no Rosário Acrílico sobre Tela 25x56cm
Autor António Tapadinhas
(clique sobre a imagem para a ver em pormenor)

Escrevi quando esta obra foi apresentada:
“Este quadro é o número um da exposição “Tejo Cintilante”. Não houve nenhum motivo especial: simplesmente, aconteceu. No entanto, a minha filha Elsa, que não esteve presente, quando me telefonou a desejar aquilo que uma filha querida deseja para o seu pai, pediu-me para lhe enviar uma fotografia da última obra que tinha feito para a mostra, porque alguém lhe tinha dito que era espectacularmente bela. Aconteceu também que esta foi adquirida, logo na abertura da exposição. Todos, sem excepção, achavam algo de especial nela. Chegaram ao ponto de dizer que seria um documento histórico, porque daqui a alguns anos, com a pressão urbana, os locais em que vivem os flamingos terão desaparecido, e o quadro seria um dos testemunhos vivos da sua presença na zona dos esteiros e sapais da Moita.
Depois de pensar um pouco sobre o assunto, quero confessar que, desta vez, foram os meus amigos que me ensinaram a ver a obra que eu tinha criado: manter o espírito aberto para aprender, é um sinal de humildade que eu gostaria de manter...
Sobre a execução da obra, foram os flamingos, pássaros-de-fogo, que me deram a inspiração para cobrir todo a tela com o meu mais profundo e afogueado laranja. Todas as outras cores nunca chegam a esconder a chama que está por baixo delas: vibra por entre as nuvens, espreita nas águas do Tejo, fornece luz às casas e dá o tom róseo aos flamingos!”
Não mencionei que alguém me disse que a obra lhe lembrava Turner. Sempre que me referem Mestres a propósito de alguma obra minha, fico honrado e envergonhado, acho que na mesma proporção.
Agora, a propósito de “Pastor de Sonhos”, apareceu a mesma referência. Por ser um texto de grande qualidade, reproduzo-o aqui com a devida vénia.

Texto de António Tapadinhas

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Jorge já não mora aqui




Foi com muita surpresa e imensa dor que ao atender o meu telemóvel no dealbar do dia 16 de Março ouvi atónito e quase incrédulo a voz do meu amigo João Sequeira embargada e triste exclamar: - O nosso amigo Jorge já se foi! - Silêncio, depois as palavras de circunstância e pelo meio e centro de tudo o mais o Pedro, o filho do Jorge, o menino homem em tão breve tempo privado de mãe e pai. Retratar os conteúdos do Jorge seria e será obra para mais do que um homem. As facetas onde o Jorge mostrou obra feita que se visse, clara, transparente, são tantas que seria preciso um bom aguarelista, um óptimo escultor e em última análise o Povo. Povo esse que acorreu ao cemitério do Pinhal do Forno, transformando aquele lugar de despedida num mar de gente de todas as condições sociais, camaradas de Partido, colegas de trabalho, autarcas, colaboradores da Misericórdia de Alhos Vedros e de todas as suas valências, Abrigo do Tejo, Pedro Rodrigues da Costa, São José Operário, Varino e Charlot. Todos irmanados na dor, todos conscientes que ia a enterrar um homem de consensos, afável, brincalhão e acima de tudo responsável. O Jorge não brincava em serviço. Quando penso no Jorge vem-me à memória a figura deFrancisco Julião, imortalizado por Jorge Amado. Ao meu vizinho e amigo Jorge, também Frederico, também Fatia e Bajanca, direi de forma lapidar. Valeu a pena Jorge um mar de gente este à tua beira. Foi bom de ver. O teu corpo já aqui não mora, mas o teu exemplo onde a lealdade assumiu tom maior incentiva-nos a prosseguir rumo à utopia. Vou terminar este desabafo fumando agora um cigarro por mim e outro por ti, porque como muito bem sabemos a vida são dois dias. Já não nos ouves, mas a tua presença mora por toda a rua, por toda a freguesia, por todo o Concelho e por aí adiante, onde se agita a luta pela liberdade.

(ao Jorge Bajanca)

Guitarra toca baixinho
que o meu amigo dorme
toca baixinho guitarra amiga
que o meu amigo descansa
mas toca guitarra minha
que o meu amigo gostava de cantigas
consola o seu dormir
toca baixinho
o meu amigo partiu sereno
e nós estávamos cá
E tu guitarra universal
tocavas e tocavas e tocavas
baixinho como o nosso amigo gostava
sem sobressaltos
de mansinho
Agora apagamos as velas
saímos
o nosso amigo partiu
ao som de vermelhas gargalhadas
compassadas
carregadas de ritmos
com solidariedades envolventes
como almofadas de veludo
povoando de esperanças
os garimpeiros dum mundo novo.

Leonel Coelho

sábado, 20 de março de 2010

Fernando Pessoa e Pedro Vargas

TUDO O QUE FAÇO OU MEDITO

Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço –
Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.


TRIBUTO AO SOL

Por mim prefiro o Sol.
O Sol é a nossa alma.
O Sol permite a visão.

A partir do sol
vejo o mundo
Sobre o mundo vejo-me
a mim próprio e aos outros

O Sol permite-me pensar.
Com ele penso o que me rodeia
E o que rodeia é mundo

Sem Sol há escuridão
Cegueira,
escravatura
e ausência de lucidez

Tudo o que faço,
faço a partir da luz.
A Luz é iluminação
de tudo o que faço
e penso.

Os Livros são um pouco de Sol,
sol que entra nas nossas almas.
Entra e fica.
Fica e ilumina.

Os Livros, os amigos e as partilhas
são pedaços de Sol,
Como se fossem as tochas da nossa interioridade.

Mas de todos os sóis que existem,
as pessoas são o máximo da iluminação,
o climax da lucidez e da esperança.

Por isso acredito na Humanidade,
no Humanismo e na Verdade.

(poemas enviados por Luís Mourinha)

sexta-feira, 19 de março de 2010

PASTOR DE SONHOS


Pastor de Sonhos Acrílico sobre Tela 30x40cm
Autor António Tapadinhas
(clique sobre a imagem pra ver pormenores)

Os membros dos Conselho Editorial deste blogue são amigos. No passado Domingo, reunimo-nos para trocar impressões sobre o seu objectivo. Cada um de nós pretendia uma coisa diferente, como é norma entre pessoas que pensam com a sua cabeça…
Pela minha parte, quero aproveitar a oportunidade para falar de pintura, escrever sobre pintura, pintar…
Nesta primeira reunião, levei o meu bloco de esquiços, a máquina fotográfica e o meu equipamento natural, olhos e cérebro treinados para verem uma pintura em qualquer recanto. Para Raul, uma fotografia, para Luís e Manuel João, uma descrição da beleza que nos rodeava.
Fizemos um circuito a pé, pela Reserva Natural do Tejo, zona de antigas salinas e sapal.
Estive, pela primeira vez, sentado num banco, junto ao que resta do Moinho da Charroqueira.
No silêncio só quebrado pelos gritos das aves e pelo relinchar de cavalos que pastavam as suculentas plantas, trocámos algumas, poucas, impressões, com medo de interrompermos o ciclo vital que se desenrolava perante nós.
É assim, com respeito, que se contempla a Natureza.
Este quadro, para além do óbvio, pretende guardar a parte nobre dos homens: os seus sonhos!

Texto de António Tapadinhas

quarta-feira, 17 de março de 2010

TUDO O QUE VOA... UM INFINITO AZUL DO FUTURO AGORA


(Fundo musical: - o tema Nightbook do álbum com o mesmo nome de Ludovico Einaudi).

Guardo memória (e vivência) de tempos esquinados e adversos que não convocam hossanas ou aleluias antes requiens com o seu quê de desgraça, tragédia e fatalismo.

Tempos que ciclicamente se repetem e retornam ensombrando os sonhos e tornando adiados os desejos.

Tempos em que os pés se afundam no cinzentismo em que caminham, em que os ombros descaem, a voz emudece e a vontade se desmorona.

Tempos de olhares fugitivos e evasivos, escondendo o quebranto do medo ou derrota ou resistindo resguardando-se em territórios inacessíveis de dentro.

Tempos em que os cantos não procuram coro e as almas não esperam eco, pois impera a lei da sobrevivência de multidões frenéticas de seres sozinhos.

Tempos em que mingua a dimensão colectiva perante o avanço dos detentores dos poderes quais pastores com seus cajados apascentando rebanhos que pretendem dóceis.

Tempos em que se calam, à superfície, as flautas e violinos trocados pelo som das trombetas dos caçadores de almas e destinos.

Tempos em que a vida assume uma dimensão opressiva e um peso quase insuportável a quem nasceu para, e pretende voar.

Tempos em que, apesar de tudo e não obstante, naqueles que ainda estão vivos, não se resignaram completamente e anseiam, algo se eleva e procura uma saída, um espaço de evasão, prosseguir o caminho.

Esses, nós, continuam a procurar a acendalha para que a combustão se não apague e a fogueira continue acesa produzindo aquele calorzinho no peito que conforta e anima.

E é nas pessoas, nas coisas, nos animais e nos locais mais improváveis que encontramos alimento.
Num olhar de quem passa, no sorriso de uma criança, nas mãos enrugadas de um velho, nas páginas de um livro, num recorte de jornal, num trecho musical, na visão fugaz de uma paisagem, numa imagem projectada, registada, …

São múltiplos e variados os escolhos que procuramos tornear mas, nunca se acabam os caminhos da vida.

Sei do que falo. Falo de uma simples (?) foto captada por um amigo que, decerto sem grandes preciosismos, registou em dado momento um naco de mundo, fixando um instante eterno na efemeridade da vida.

Olhando-a impôs-se-me, por uma segunda vez, a expressão-síntese-metáfora numa alquimia instantânea de emoções – INFINITO AZUL DO FUTURO AGORA.

(Fotografia de Joaquim Raminhos)

Surgiu-me na ideia-flash, pura emoção sem qualquer elaboração mental e afirmou-se como uma clareira de evasão.

É uma foto maravilhosa.

Tem sombras negras num rendilhado de teia como tantas vezes sentimos na vida mas, por detrás, mais acima, surge a Lua num tremeluzir de vela feita farol, iluminando o caminho para uma navegação segura no imenso espaço azul.

Um azul compacto, uniforme e sem fracturas.

Infinito Azul do Futuro Agora.

A alma voou.

“O meu mundo não é deste reino”.

Será isso que tudo isto quer dizer ?

Recompõe-se a orquestra da vida. Ouvem-se em fundo os violinos.

MJ, março 2010.

Dormir é existir


Hoje apetece-me viajar, ou não serei eu viajante, em todo o mundo começa a nascer a sede de uma viajem qualquer. A cada esquina estendem-se diálogos com que se reflecte a dádiva que é estar vivo e assistir ao sol a nascer e morrer todos os dias escolhendo aparecer e desaparecer através das nuvens.
Por consequência e por acaso ele agora encontra-se condicionado por pequenas nuvens negras, mas não é nada que impeça aos homens de existir, apesar de encontrarem o tormento na sua ausência.
Estando eu presente no café pensando como quem gosta de dormir tapado no inverno, atrai-me a natureza de que sou feito em qualquer estação do ano. Sou um homem julgo, crescendo e sentindo todo o tempo a passar por metamorfoses nas quatro fases do ano. Com sentido aquilo que se apresenta ao meu olhar diverte-me como uma bebedeira sem pés nem cabeça, em que as cores brincam ao sabor do vento e a imaginação transcende com elas o outro mundo que a matéria não consegue alcançar.
A existência é a vida de um ser com alma e quando se tem alma já se é tudo podendo também ser nada em que o seu sentido é a biografia que a morte escreve de quem morreu.

- Quanto é o café? – Pergunto ao empregado – um euro por favor, saio e deixo gorjeta. Ao sair do café tenho a sensação de que meu corpo pede que o tempo acalme e que a chuva se contenha, pois quem anda á chuva molha-se, e um corpo coberto de roupa molhada incomoda-se reclamando.
Nisto ando mais uns metros e a chuva pára, dando lugar a que o meu ouvido ouça uma melodia breve que me acaba de chegar de qualquer incerto sítio, como se aquela melodia fosse um rasto da chuva que passou. Cada vez mais perto dela reconheço-a: “um trompete”, ando uns passos dobro a esquina, e eis que me aparece um trompete suspenso por uma força humana sem ver qualquer tipo de ser humano manipulando-o, mas na verdade ele está a ser manipulado por alguém, tento ver melhor e continuo a não ver ninguém, fica assim a levitar no espaço produzindo a tal melodia que contamina agora a cidade.
- Onde está a nossa cidade? – Pergunto, não há ninguém na nossa cidade, ninguém á esquerda, á direita, em baixo e em cima. A melodia do tal trompete tinha acabado de quebrar todo o quotidiano citadino, fazendo com que todas as pessoas caminhem para lá do real imaginário. Assim desapareceram todas as pessoas, excepto eu, ser, corpo, alma e razão.
Isto é a consciência utópica desaguando sobre mim pensei, aquilo a que a psicanálise chama de sonho. Esta sensação é-me familiar e de alguém que liberta as suas fantasias dormindo, que em determinado momento está-se em lado nenhum, mas em simultâneo encontramo-nos a contornar todas as esquinas do universo.
OOOOHHHH que na minha cabeça o desejo quebra-se, e a náusea matinal ergue-se perante o corpo que acaba de despertar.

Diogo Correia

CURSO DE REIKI


SOCIEDADE PORTUGUESA DE NATURALOGIA
PELAS LEIS NATURAIS, PELA CULTURA INTEGRAL DO INDIVÍDUO

http://www.spn.eco-gaia.net/

NEWSLETTER Nº 18 / 2010

CURSO DE REIKI - NÍVEL 1
Sábado, 20 de Março de 2010
10h - 18h
por Paula Soveral

Sistema Tradicional de Cura Natural Mikao Usui
(Física, Emocional, Mental e Espiritual)
REIKI é uma palavra japonesa que significa Força da Energia Vital Universal.
Ser praticante de Reiki significa tornar-se veículo para canalizar esta energia a fim de se ajudar a si próprio, os outros, todos os seres vivos e, em resumo, todo o planeta.

REIKI é:
- Uma técnica de “imposição de mãos” fácil de aprender;
- Uma técnica possível de utilizar em qualquer lugar, altura ou situação;
- Uma técnica para activar, restaurar e equilibrar energia;
- Um método de cura natural, profiláctico e de manutenção de bem-estar;
- Um método que pode e deve ser usado em colaboração com a medicina tradicional ou outras;
- Uma técnica de auto-ajuda com vista ao crescimento pessoal;
- Uma dádiva de AMOR INCONDICIONAL que, por isso mesmo , só pode significar o BEM.

Iniciar-se em REIKI significa tudo isto e muito mais...

“Só pode receber quem sabe dar” – e, por isso mesmo, Reiki significa, antes de mais, uma troca que pressupõe uma atitude interior de profunda HUMILDADE.

Inscrições limitadas.
Inclui manual e certificado.

Mais informações sobre a formadora: www.paulasoveral.net

Sociedade Portuguesa de Naturologia
Fundada em 1912 - Instituição de Utilidade Pública (DR II s., nº4, de 05-01-1991)
Rua do Alecrim, nº 38 - 3º (Chiado), 1200-018 Lisboa Tel./Fax: 213 463 335
E-mail: spn@eco-gaia.net Website: www.spn.eco-gaia.net
Ver / inscrever Newsletter: http://br.groups.yahoo.com/group/Sociedade_Portuguesa_Naturalogia/

domingo, 14 de março de 2010

Estudo Geral


Uma outra vez, fomos visitar o Professor Agostinho da Silva a sua casa. Gentilmente recebidos, mandou-nos entrar para a sala de conversas. Uma meia dúzia de cadeiras estavam dispostas em círculo e em cima duma delas, sentado, um livro do cronista do reino, Rui de Pina, intitulado justamente Crónica de D. Dinis.

Já não nos recordamos quantas pessoas estavam presentes, mas a imagem do livrinho que acompanhou todo o encontro, e ali pousado nos olhava, não mais nos abandonou. Acabámos por adquiri-lo assim que surgiu a oportunidade.

É sabido que D. Dinis e, sobretudo, a sua esposa, Rainha Santa Isabel, têm lugar de destaque na abordagem que o Professor faz à história e à cultura portuguesa, desde logo, pela introdução no país do culto popular do Espírito Santo, feito pela princesinha de Aragão.

Mas que mais? Porque seria tão importante o reinado do Lavrador, ou do "plantador das naus a haver", como lhe chamou Fernando Pessoa na sua resumida e iniciática História de Portugal, a singela Mensagem?

Sabemos das suas significativas reformas agrícolas, onde, por exemplo, ganhou evidência a plantação do Pinhal de Leiria. Ganhámos um meio de expressão próprio com a instituição da Língua Portuguesa em substituição do galaico-português. Conseguimos prolongar a existência da Ordem do Templo (Templários), depois destes terem sido cruelmente excomungados, perseguidos e, muitos deles, assassinados, alterando-lhe o nome para Ordem de Cristo, a tal onde se desenvolveu o nobre Projecto da Expansão Ultramarina. E foi também por Ele que ganhou vida a primeira Universidade Portuguesa chamada de Estudo Geral.

Hoje os tempos são outros. Mas a pujança da Língua Portuguesa no mundo, a necessidade de bons estadistas em prole de uma organização social de excelência e a necessidade de uma sublimação espiritual constante, aconselham-nos a perscrutar os ecos da nossa história que muito bom legado nos deixou.

No Rei Poeta reconhecemos um conjunto de inovadoras medidas que nos permitiram avançar no tempo, como se houvesse tempo, construindo uma história digna de valor que, ainda hoje, pode ajudar a conduzir-nos universo fora, irmãos entre irmãos.

Fica, assim, feita justiça aquele enigmático livrinho que sentado nos olhava, como uma outra das inúmeras razões de estarmos aqui.

Bem hajam.

Luís Santos

Uma Visão Armilar do Mundo



Este livro é uma reflexão acerca da vocação universal de Portugal, em diálogo com alguns dos seus maiores poetas, profetas e pensadores: Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.
Este Portugal e esta vocação designam, num sentido, a predisposição para uma convivência planetária, mediadora de um novo ciclo cultural e civilizacional, sob o signo de uma globalização ético-espiritual, contrastante com a económico-tecnológica. Noutro sentido, esta visão de Portugal assume-o como símbolo do próprio homem em busca de se realizar plenamente.

A isto se chama Uma Visão Armilar do Mundo, conforme o símbolo que tremula na nossa bandeira: a perfeição, plenitude e totalidade da esfera e, nas suas armilas, a interconexão de todos os seres e coisas, tradições e culturas, artes e saberes. Muito antes de ser o emblema de D. Manuel I, é essa a maior fecundidade simbólica da Spera Mundi, Esfera e/ou Esperança do Mundo: ao invés do nacionalismo ou patriotismo comuns, a cultura portuguesa e lusófona tenderia a converter muros em pontes, fronteiras em mediações, limites em limiares, numa abertura ao planeta e ao universo, a todos os povos, nações e seres, a todas as línguas, culturas, religiões e irreligiões. Uma visão armilar do mundo é uma visão-experiência integral e holística do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades.

Numa era celebrada como multicultural, mas ainda tão cega para o entre-ser universal, aqui se invoca a Esfera Armilar como actual paradigma da reinvenção de Portugal como nação de todo o mundo, que vise o melhor para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, que não separe o bem da espécie humana da preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida senciente.

Paulo Borges
umoutroportugal.blogspot.com
jornaloutro.blogspot.com

sexta-feira, 12 de março de 2010

Zeca Afonso mora aqui

Disse Jorge Luís Borges: Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez outra vida pela frente. Escreveu António Gedeão: Nesta insignificância, gratuita e desvalida, Universo sou eu com nebulosas e tudo. William Shakespeare afirmou: E aprendes que não importa o quanto te importas, porque algumas pessoas simplesmente não se importam…Tendo estas citações como preâmbulo do trabalho que irei construindo, tomando o papel como base e o conhecimento como ferramenta, lembro ainda como aperitivo as sábias palavras do poeta militante Pablo Neruda: Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece. E porque também eu, Leonel Coelho, sou gente, relembro o que publiquei dirigido aos jovens: Aos que escrevem, aos que contam, ilustram, anotam, apontam, aos excluídos, aos deserdados, aos de pouca ou nenhuma sorte, olha a todos com o coração, com toda a tua alegria e grita-lhes – oh gente minha, Bom Dia.

Eu podia dizer a quem nos ler que vou agora falar sobre o Zeca, mas não. É do Zeca que estou a falar quando afirmações, conselhos ou opiniões afloram como flores ou espadas de outros Zecas. O Zeca que eu conheci aqui na nossa Academia de Alhos Vedros, na nossa rua, ou na casita onde ainda moro, construi-se bebendo nas fontes que aqui invoco, que aqui recordo e com quem convirjo. O Zeca simples, humilde e enigmático que eu conheci era o nosso pombo-correio. Ele saltava de Setúbal para a Baixa da Banheira, Seixal, Barreiro, e trazia tarjetas para recolhas de auxílio aos presos políticos, escondia-se nas casas dos amigos, tinha a noite como companheira favorita e protectora. O Zeca com a sua guitarra, as velhas calças de bombazina e a sua esfiapada camisa aos quadradinhos, chegava e passado muito pouco tempo já toda a gente passava palavra: o Zeca está na Academia! E era a maré-cheia. A extraordinária juventude expandia-se, agigantava-se e aconteciam palavras, olhares, entusiasmos. Era contagiante. Quando o evocamos no velho cemitério da Piedade, em Setúbal, é o seu incomparável entusiasmo que pretendemos reavivar, tal como o ferreiro reaviva a forja, a padeira anima o forno, ou o guerreiro limpa as armas em tempo de paz com guerras no horizonte. É meu dever que cumpro com gosto, referir que é pela mão do meu velho amigo Dr. Afonso de Albuquerque que o Zeca Afonso desembarca, já não sei bem quando, aqui na Academia. Depois foram as sopinhas de couves quentinhas que a minha mulher servia ao Zeca. Partilhávamos então notícias sobre greves, prisões, torturas e até assassinatos. A PIDE estava lá fora, hedionda, traiçoeira e sempre pronta a saltar sobre nós. Pela mão do Zeca aqui vieram cantores, escritores, jornalistas, actores e políticos: Padre Fanhais, Fausto, Benedito, Letria, Castrim, Alice Vieira, Rogério Paulo, Yevetutchenco, Sotomaior Cardia, João Mota, Grupos de Teatro, etc. Nunca houve nada programado na Academia. A sala era o palco. Passava-se a palavra e a festa estava no ar. Nas ruas montávamos vigilância e muitas vezes corremos a PIDE à pedrada até ao comboio. Mercê de tudo isso sentimos na pele os interrogatórios, a prisão e a tortura. A Academia era uma casa permanentemente vigiada e sempre perseguida. O Zeca deixou marcas indeléveis de luta e solidariedade em toda a juventude da nossa terra e da nossa região. O Bairro Gouveia e as Arroteias foram os que mais livremente usufruíram a contagiante personalidade do amigo Zeca. Aqui na Academia nunca ninguém nos derrotou. A presença do Zeca era a nossa fortaleza e nós bem sabíamos que ainda havia o Luís Cília e o grande Amigão Adriano Correia de Oliveira, homem a quem me dobro e agradeço o muito que aprendemos. Não esquecer também o papel relevante que o Zeca teve na formação da juventude daqui. Essa mesma juventude que acorreu em força à grande manifestação de luta e pesar que constituiu o funeral do estudante Ribeiro Santos, militante do MRPP assassinado pela PIDE decorria o ano de 1972. Foi ainda acerca da Guerra Colonial que Zeca Afonso mais lutou e ensinou, sendo por ele e por outros camaradas dados os primeiros e mais importantes passos contra aquela guerra tão nefasta ao nosso povo e aos povos africanos.

Em rodapé, mas com as honras que lhe são devidas, de referir a mão do Zeca na vinda à Academia do Coro dos Amadores de Música e do seu prestigiado maestro Fernando Lopes Graça, Areosa Feio, prestigiado anti-fascista, Manuel Cabanas e muitas outras figuras que honraram a nossa casa e acrescentaram à nossa terra valores culturais, colocando-a na primeira fila da luta pelo derrube da ditadura salazarista. Jornais como o “Comércio do Funchal”, “Jornal do Fundão” e “Notícias da Amadora”, narraram em devido tempo os nossos combates, as nossas vitórias. As canções do Zeca andavam por aqui de boca em boca. A presença do Zeca, o seu trabalho em clubes, tertúlias e festas, assume quinhão relevante na vitória que aconteceu nas eleições de 1969. Nestas eleições a União Nacional salazarista saiu de rabo entre as pernas, cabisbaixos e vociferando ameaças. Na noite de 3 de Maio de 1970, a PIDE prendeu só duma assentada Stalin Jesus Rodrigues, Leonel Coelho, Álvaro Monteiro, Gravatinha Lopes, Zacarias, Matos, A. Chora e F. Cunha. Por tudo isto, o Zeca vive e será sempre uma bandeira. Acabo por informar os mais descuidados que o Zeca às vezes nem tinha dinheiro para uma sopa. E não esquecer que estamos a falar do Dr. José Afonso Cerqueira dos Santos, o poeta, o professor, o músico, o lutador e o Amigo. Honra, pois, ao Zeca.

Leonel Coelho
Março/2010

sábado, 6 de março de 2010

A propósito da criação de uma secção de tauromaquia no Ministério da Cultura


Acredito que para acabar com uma tradição que hoje muitos questionam e acusam de ser contra os valores humanos, é preciso apostar mais no debate dessas práticas nos países ibero-americanos e considerar todos os aspetos envolvidos, incluindo as profissões que dela dependem e a criação da raça bovina que integra o espetáculo das touradas. Só assim se evolui e se amplia o conceito de cidadania. O povo tem a última palavra a dizer. E não só os intelectuais! Bom que consideremos que a cidadania só pode ser entendida pelo nível de participação numa comunidade. Criemos oportunidades para o debate dos “Prós e Contras”.

Não basta lembrar fatos históricos que poucos leem ou reconhecem , e ser apenas contra, provocando resistências, por parte dos que dependem do espetáculo. E depois não podemos ignorar que atentados contra aos animais e ao homem têm muitos nos dias de hoje. O que reagimos?

Temos que ser mais coerentes e sabedores!

Eu não estou certa de que o Ministério da Cultura(Portugal) esteja errado ao criar uma seção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura, a pretexto de que lidar touros seria uma tradição! Abriu-se uma janela para que o assunto seja discutido em todas as perspetivas! Aproveitem.

Conversemos...estudemos ...ouçamos.

Margarida Castro
in, dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br

P.S.: Este texto é um comentário ao interessantíssimo artigo "Morrer como um Touro", de Paulo Varela Gomes (Historiador), “Cartas do Interior”, Público, 27.02.2010, P2, p.3. Para ler este artigo clique AQUI.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Reflectindo sobre Política, Ciência, Religião.

Abdul Cadre

O Caos informe das opiniões e fantasias individuais que condiciona e conforma todo o pensamento moderno, a que não escapam as escolas esotéricas nem o grosso dos seus seguidores, tem dois significados: anuncia que há um tempo que se está a esgotar, o que quer dizer que, simultaneamente, um outro se organiza. Como nem eu nem ninguém está separado neste tempo e neste lugar por muros intransponíveis da cidade e do mundo, também em nós habita o caos, por mais que desejemos que dele surja uma estrela dançante.
Neste momento, embaraçamo-nos com o nosso caos particular — e Caos significa desordem — e esta minha tentativa de Cosmos (que quer dizer Ordem) deve entender-se apenas como intróito ao que devia ter sido e ainda não é. Pode até chamar-se-lhe cosmética.
Considerem-se aqui vertidos os princípios e ideais humanistas dos martinistas do século passado, em especial na feliz trilogia de Liberdade, Igualdade e Fraternidade e tome-se por legenda que só há uma religião: a Verdade. Assim sendo, baseemos este estudo introdutório à Teocracia e à Sinarquia, no critério da Verdade, sob três aspectos:
- Na Acção
- Na Reflexão e
- No Sentir.
Entendamos também, seguindo os ensinamentos dos filósofos humanistas por nós mais acarinhados que toda a nossa vivência neste planeta depende de três ordens sagradas do conhecimento:
- A Política
- A Ciência
- A Religião
Pensemos também que o Homem vive do que não sabe, mas tem o desejo profundo de saber por que vive, confrontando-se neste tempo e neste lugar com três estímulos de ascensão e descoberta:
- O Enigma
- O Segredo e
- O Mistério
Entenda-se o Enigma como o corolário de todos os problemas que a vivência em sociedade coloca, cuja acção se centra no governo da Polis, isto é, na POLÍTICA; entenda-se o Segredo como o conjunto de desafios que a Natureza coloca a cada um de nós e à humanidade no seu conjunto e que são reflectidos na CIÊNCIA e entenda-se o Mistério como o desafio de Deus, induzido nos sentidos que estão para além da carne, que produzem perguntas geradas na espiritualidade e respostas através da RELIGIÃO.
O ENIGMA pede o critério da Verdade na Acção, o SEGREDO pede o critério da Verdade na Reflexão e o MISTÉRIO pede o critério da Verdade no Sentir, entendido este como uma forma superior de pensar (Vide F. Pessoa), aquela que nos abre o Portal de Acesso aos três Planos da Auto-realização, que serão:
- Da Acção Mágica
- Da Intuição Poética/Profética
- Da Inteligência Pura
A Acção Mágica conduz-nos à Ciência, a Intuição Poética à Política e a Inteligência Pura à Religião. Eis que as grandes divisões do Conhecimento Humano se podem estabelecer como POLÍTICA, CIÊNCIA e RELIGIÃO.
Com todo este triangular, não se perca de vista que tudo está em tudo, nem se tomem as divisões propostas como saberes definitivos, mas apenas como codificações para simplificar algumas ideias de base. Sobretudo, não se limite o conceito POLÍTICA à profissão dos políticos no mundo moderno, nem se ergam aqui os preconceitos do falar comum, que assentam no pensamento irreflectido, quando o que pretendemos é apelar às formas reflectidas e meditadas da coluna da direita. (Ver gráfico)
Convém que se diga que o homem comum julga que age, só porque se movimenta, quando mais não faz do que reagir, sendo que a reacção embota a reflexão e acrescente-se que, ao dizermos atrás que o homem usa três estímulos de ascensão, implica que haverá também de estagnação, ou mesmo de retrocesso. Assim é, mas entenda-se que o critério do Bem prevalece, ou dito de outra forma, o mal é uma luz menor, pelo que os princípios involutivos podem ser usados, por sublimação, no sentido ascensional. Ver, por exemplo, em Fernando Pessoa a questão de vencer a carne, o mundo e o diabo, e prossigamos por onde íamos.
Sendo então que a Política é tudo o que respeita à solução do Enigma de «sermos um com todos» e que ela visa o governo da Polis, então se poderá dizer com Agostinho da Silva que tem de responder a três «esses»:
1º «esse» - o anseio do SUSTENTO
2º «esse» - o anseio de SABER
3º «esse» - o anseio de SAÚDE.

"Alimentação Natural"


A alimentação natural é a alimentação que está de acordo com a natureza do ser humano.
É de salientar que o estudo da comparação da anatomia e fisiologia entre carnívoros, herbívoros e seres humanos nos mostra, por exemplo, que: os animais carnívoros e mesmo os omnívoros têm garras e o ser humano não; ao contrário do ser humano e dos herbívoros, os carnívoros não têm poros cutâneos; os carnívoros possuem dentes caninos frontais pontiagudos e o ser humano não; os carnívoros não têm molares nem produzem ptialina, a enzima necessária à pré-digestão dos cereais, ao contrário do ser humano que deles necessita para mastigar e digerir os cereais e outros alimentos.
Uma alimentação natural baseia-se estritamente na ingestão de produtos de origem vegetal (cereais, feijões, legumes, frutos e sementes).
O principal objectivo de uma alimentação natural é manter-nos em equilíbrio saudável e em sintonia com toda a Natureza, da qual somos parte integrante. Ao longo dos séculos, e sobretudo após a Revolução Industrial, o homem foi-se distanciando dos alimentos naturais e sazonais, começando a consumir cada vez mais alimentos processados, congelados e de todas as partes do mundo. O natural é consumir aquilo que é de cada época e que existe num raio de 50 km do local onde vivemos.

Somos aquilo que comemos: Os alimentos que ingerimos, após digeridos no intestino, passam para o sangue que irriga todos os órgãos do nosso corpo, incluindo o cérebro. A qualidade do sangue determina a boa ou má condição de saúde de todos os nossos órgãos vitais e igualmente a qualidade dos nossos pensamentos e emoções. Há, por assim dizer, uma simbiose total e perfeita que nos permite afirmar que o "acto de comer é o acto mais íntimo da nossa vida": o alimento transforma-se em nós e nós no alimento.

Benefícios: A alimentação natural só nos traz benefícios, sendo o principal contribuir para uma condição de saúde mais equilibrada; ao eliminarmos da nossa alimentação produtos demasiado processados e gorduras saturadas (carnes, lacticínios, fritos), bem como o álcool, tabaco, café, chocolate (*) e açúcar, estamos a contribuir para uma condição sanguínea menos ácida e, portanto, mais benéfica a todo o nosso organismo.

Uma refeição equilibrada: para uma pessoa saudável, uma refeição equilibrada deve ser composta de 30% de cereal integral, 30% de vegetais ligeiramente cozinhados, 20% de alimento proteíco e cerca de 10% de vegetais crus (incluindo os germinados). É de salientar que nunca se devem misturar proteínas! Assim, se numa refeição já se encontra presente uma leguminosa (feijão, ou lentilhas, ou grão, etc) não é aconselhável misturar tofu, tempeh ou outros alimentos proteícos.
O tão famoso "cliché", mas não menos verdadeiro de que "cada caso é um caso", indica-nos que aquilo que é bom para uns pode não ser para outros; aquilo que é bom e saudável comer numa época do ano, não o é noutra (por exemplo, não se devem comer castanhas em Agosto, nem morangos em Dezembro!). Sendo assim, e dependendo da condição de cada pessoa em diferentes momentos, é aconselhável consultar um técnico com formação e experiência em alimentação natural (Naturopatia, Nutrição Ayurvédica, Medicina Tradicional Chinesa, Macrobiótica) no caso de haver dúvidas em relação ao que é mais certo para cada condição e, sobretudo, no caso de alguma patologia aguda ou crónica.

A evitar: Alimentos de origem animal, sobretudo todo o tipo de carnes e lacticínios. Estes alimentos são excessivamente gordos e deixam no organismo um tipo de gordura muito difícil de eliminar, causando posteriormente problemas graves de saúde. Por exemplo, a mistura da gordura de lacticínios com açúcar, mesmo que seja de fruta, cria um tipo de gordura interna muito difícil de eliminar. Obviamente, todas as substâncias tóxicas, tais como: álcool, tabaco, açúcar, café, chocolate (*), alimentos fritos (à excepção da Tempura (**), mas que deve ser consumida raramente), produtos enlatados e/ou congelados e produtos retardados (os alimentos devem ser consumidos logo a seguir a serem confeccionados, não devem ser reaquecidos e muito menos congelados).

Como adoptar uma alimentação natural: Tal como acima referimos, cada caso é um caso e por isso, cada pessoa deve, antes de mais, seguir a sua intuição, fazer as suas próprias experiências, descobrir qual é a melhor fórmula para si, e obviamente aconselhar-se sempre com um técnico devidamente credenciado que o possa orientar nessas escolhas, de acordo com a sua Constituição e Condição do momento. O que é certo para um, pode não ser para outro. Por isso, há que ter sempre muito bom senso. No geral, e como primeiro passo, qualquer pessoa saudável que queira mudar a sua alimentação deve deixar de comer carne e produtos lácteos e depois, progressivamente, ir fazendo pequenos ajustes. E é preciso salientar que não é necessário substituir estes produtos (carne e lacticínios) por outros. É preciso é deixar de consumi-los e aumentar as quantidades de alimentos de origem vegetal (cereais integrais, legumes, leguminosas, sementes, frutos).
Hoje em dia, há um exagerado consumo de soja, por exemplo, que não é nada saudável. Basta ver que no Oriente ninguém consome soja como a maioria das pessoas aqui no Ocidente. No Oriente consome-se a soja na forma de derivados/fermentados (shoyou, tofu, tempeh, miso), mas mesmo estes com muita parcimónia.

Se as pessoas deixarem de consumir carne e lacticínios já é mesmo um grande passo! Não só beneficiam a saúde, como beneficiam o Ambiente. E a alimentação fica muito mais económica!

Flexibilidade e Gratidão: Para finalizar, gostaria de salientar que seja qual for o regime alimentar escolhido por uma pessoa, ele nunca será perfeito, exactamente pelas razões apontadas; somos seres complexos, a nossa alimentação deve adaptar-se constantemente à nossa Condição, respeitando sempre a Constituição e, importantíssimo, de acordo com o clima em que nos encontramos!
Muitas pessoas, seja qual for o regime alimentar praticado, adoptam atitudes dogmáticas e inflexíveis, enformadas num padrão que pode ser bom e desejável mas que infalivelmente não poderá preencher todas as necessidades de todos os momentos. Para além disso, a perfeição, tal como a pureza, são coisas que não existem na Natureza; são apenas conceitos elaborados pela nossa mente dualista que, enquanto separada de tudo quanto existe, anseia por se unificar ao Todo fixando-se apenas num aspecto escolhido pela nossa personalidade (seja ele um ideal alimentar, religioso, político ou outro...). Todas as escolhas radicais e inflexíveis são sinónimo de doença, porquanto a Vida (Natureza) é diversificada, mutável, dinâmica, incontrolável e muito mais sábia do que as nossas limitadas escolhas! Por isso, para além de (boas ou não) escolhas e (bons ou não) conselhos que um técnico nos possa dar, é importante ouvir e sentir aquilo que o corpo nos transmite. Porque isso sim, é natural, é a linguagem da nossa própria natureza a falar connosco. E mais do que regras, tabelas e conceitos, mais forte que tudo isso é o Amor e a Alegria que devemos colocar em cada acto da nossa vida, sobretudo na confecção dos alimentos que vamos ingerir! Cozinhar com Amor, ao som de música, cantar e rir, isso dá mais saúde que o seguimento cego e obtuso de uma forma fechada, rígida e ansiosa de um conceito, seja ele qual for! E, de preferência, não coma em frente à televisão! Desligue-a! E seja grato por tudo aquilo que tem para comer em cada dia da sua vida! Falaremos disto num artigo seguinte.


(*) De acordo com os ensinamentos tradicionais da Antiga Medicina Indiana e da MTC, o chocolate é considerado um alimento perigoso e tóxico a não ser que seja ingerido em pequenas quantidades num clima excessivamente frio! À parte isso, o seu consumo regular e exagerado é prejudicial ao trato intestinal e energéticamente desequilibrante.
(**) Tempura é um tipo de fritura muito rápida e ligeira feita com óleo de boa qualidade e novo: envolvem-se legumes cortados em fatias num polme muito leve feito com farinha integral e água, colocam-se no óleo quente e retiram-se de imediato; os legumes ficam praticamente crus e estaladiços!

Paula Soveral
Presidente do Conselho Técnico da Sociedade Portuguesa de Naturalogia