27 / 2014
Foto: Edgar Cantante
O
ESTADO DO TEMPO – III
O
mar, o rebentar das ondas, a areia e o vento.
A
presença dos amigos, física ou recordada e assim sentida, a fotografia na
parede e a magnólia que se agita como se apenas estremecesse.
A
magnólia não está sozinha.
Bem
de perto um ácer observa-a atento e, de cima do pequeno montículo que mais
parece um soluço da terra, uma oliva com vários ramos disso faz registo como
que cronicando.
A
música que incessantemente se compõe e as ideias que nos vão nascendo e que
depois fazem o seu caminho. Naturalmente, construindo e habitando a calma que
aqui mora.
Por
vezes o registo agita-se porque as ideias andam soltas e em todas as direcções.
Foto: Edgar Cantante
Pois
é.
É
assim mesmo.
Como
tornar a acalmia inexpugnável se…
Bem,
já sabíamos do desemprego e do corte dos salários, dos ataques à saúde e escola
públicas, do aviltar de quem trabalha, do contrato social violado e ultrajado a
todos os níveis, das corrupções repetidas e continuadas de bancos e banqueiros.
Já
sabíamos sim. Mesmo para os mais distraídos tanta reincidência acabou por os
confrontar.
Retorna-se
por vezes à calma mas, a agitação repete-se.
Aturdidos,
estupefactos e indignados deparamo-nos com o genocídio de um Povo perante a
complacência e o silêncio das instâncias internacionais de onde se esperavam
atitudes firmes e eficazes para parar o massacre.
E
a Justiça? A Justiça toma-se aqui por despropositada.
É
um tempo da força pela força. Os mais “fortes” batem, os mais “fracos” são
batidos.
Os
David só batem os Golias por acidente ou excepção.
E
o mundo continua a girar, sempre ou até algum dos poderosos o mandar parar ou
implodir.
Entretanto,
por cá, deparamo-nos com a criação de mais um D. Sebastião.
Muitos
se afadigam, outros colaboram e, mesmo perante o alheamento ou indiferença duns
outros, todos os dias se acrescentam mais uns detalhes à maquilhagem. Também há
os que estão contra. Uns porque dizem que já chegaram à “Terra Prometida”,
outros (poucos) porque dizem não acreditar em novos Sebastiões
A
gente regista, tenta até alhear-se mas o lastro acumula-se. Condiciona e influi
no movimento das ideias, no estado de espiríto, nas expectativas de futuro.
*
Os
amigos chamam lá de fora. O Sol brilha.
Uma
fala do neto recém-nascido e, naturalmente, manifesta felicidade. Outro
partilha a mensagem da filha em viagem pelos Açores interrompendo o discorrer
preocupado sobre a incerteza do salário no final do mês.
Lá
está o fluxo a repetir-se.
Lá
fora, o Sol brilha.
Cá
dentro, ameaça de tempestade a todo o momento.
Foto: Joana Croca
Sem comentários:
Enviar um comentário