segunda-feira, 7 de julho de 2014

REAL... IRREAL... SURREAL... (87)

O Aprendizado, Reynaldo Fonseca, 2013
Óleo sobre Tela, 80x80cm

SEM PALAVRAS…

O Tomás foi para o 1º ano e ia muito contente por finalmente ter chegado à escola dos crescidos. Antes de sair, disse à mãe e à irmã que gostava muito delas, colocou a mochila às costas e dispôs-se a começar a escola a sério. 

No primeiro dia a professora disse-lhe que agora já não era para brincar e ele ficou muito satisfeito. Afinal, brincar era para os miúdos mais pequenos. Ele agora já era dos grandes.

Na primeira semana, o Tomás descobriu que tinha uma letra muito feia e que não era capaz de estar sentado. A professora, que era muito amiga dele e que lhe apagava as palavras escritas a lápis até ele as fazer como ela lhe tinha dito, viu logo que ele não conseguia ficar sentado quieto e calado e até o propôs para o apoio.

Agora, o Tomás costumava ouvir todos os dias: 
- Nada de brincadeira, menino Tomás! E quero tudo copiado com uma letra mais bonita.
E, às vezes, quando a professora reparava que ele era muito mal comportado, procurava ajudá-lo e ensinava-o a ser mais responsável:
- Já te disse, rapaz, aqui tens de estar sentado. Cala-te! Como é que queres aprender se só queres falar, falar e não ouves o que te digo?

Foi difícil, mas o Tomás acabou por se habituar à escola a sério. E até deixou de precisar do tal apoio. A professora fez um bom trabalho.
Agora, o Tomás até já anda à procura de um emprego. E costuma ouvir todos os dias:
- Terá de entregar o seu currículo escrito a computador, com letra Times New Roman, tamanho 12 e 1,5 de espaçamento.
- Lamentamos, mas procuramos alguém com mais iniciativa e maior rapidez no desempenho da tarefa que lhe propusemos.

Quase sempre, no meio, a vida a contrariar a escola. 

Maria Teresa Bondoso

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