sexta-feira, 18 de julho de 2014

Livros d'África




JOSÉ CARLOS VENÂNCIO 

Nasceu em Luanda, em 1954, mas veio ainda criança para Portugal onde cresceu e se formou em Sociologia, sendo catedrático dessa disciplina na UBI – Universidade da Beira Interior. A sua actividade literária estende-se, para além dos livros, em artigos de opinião, ensaios e palestras, sendo grande parte deles, senão a totalidade, sobre temas africanos.
“A angolanidade, como até agora a entendemos – não obstante se pretender dela o mais extensível possível ao espaço político angolano – não deixa de ser apanágio de minorias intelectuais. Foram estas que se viram confrontadas mais de perto com o sistema colonial, no que este tinha de mais subtil – não menos eficaz que o aparelho policial – para se impor: o idioma.”

É em redor deste pensamento que se desenvolve o ensaio “UMA PERSPECTIVA ETNOLÓGICA DA LITERATURA ANGOLANA”. E inicia o seu estudo com António de Oliveira de Cadornega que considera, ao contrário de outros, o precursor da literatura angolana ressalvando que “para a sua compreensão neste sentido é antes do mais necessário situar Cadornega no seu tempo”, isto é, não podendo esquecer que naquele tempo se vivia a dicotomia de “nós, os cristãos/civilizados” e “eles, os pagãos/gentios”.

Prosseguindo, considera Assis Júnior e Castro Soromenho como os escritores mais importantes da angolanidade na primeira metade do século XX, embora, naturalmente, de “origem biológica e social diferente”.
Depois debruça-se sobre os poetas da denominada Geração de 50: Agostinho Neto, Viriato da Cruz, António Jacinto, António Cardoso. A importância da mensagem da sua poesia, alertando para as injustiças criadas pelo sistema colonial, é amplamente e argutamente analisada.

Mas, segundo o autor, “foi José Luandino Vieira aquele que mais longe chegou na informação da estética da angolanidade”, opinião que também eu partilho (devo até dizer que, salvarguardadas as devidas distâncias e competências, tive o atrevimento de o afirmar ao próprio Luandino). Tal como o brasileiro, o português desenvolvido em Angola também ganhou vida própria, sendo Luandino o primeiro a fazer uso dessa nova escrita, passando a ser aquilo que eu chamaria de angolês, que hoje é usada por muitos dos novos autores angolanos e não só.

Para quem gosta e pretende aprofundar os caminhos da Literatura Angolana esta é uma obra fundamental, concordando ou discordando dos pontos de vista do Autor. Foi editada pela Ulmeiro em 1987.



Tomás Lima Coelho


Sem comentários: