JOSÉ
CARLOS VENÂNCIO
Nasceu em Luanda, em
1954, mas veio ainda criança para Portugal onde cresceu e se formou em
Sociologia, sendo catedrático dessa disciplina na UBI – Universidade da Beira
Interior. A sua actividade literária estende-se, para além dos livros, em
artigos de opinião, ensaios e palestras, sendo grande parte deles, senão a
totalidade, sobre temas africanos.
“A angolanidade, como
até agora a entendemos – não obstante se pretender dela o mais extensível
possível ao espaço político angolano – não deixa de ser apanágio de minorias
intelectuais. Foram estas que se viram confrontadas mais de perto com o sistema
colonial, no que este tinha de mais subtil – não menos eficaz que o aparelho
policial – para se impor: o idioma.”
É em redor deste pensamento
que se desenvolve o ensaio “UMA PERSPECTIVA ETNOLÓGICA DA LITERATURA ANGOLANA”.
E inicia o seu estudo com António de Oliveira de Cadornega que considera, ao
contrário de outros, o precursor da literatura angolana ressalvando que “para
a sua compreensão neste sentido é antes do mais necessário situar Cadornega no
seu tempo”, isto é, não podendo
esquecer que naquele tempo se vivia a dicotomia de “nós, os cristãos/civilizados” e “eles, os pagãos/gentios”.
Prosseguindo, considera
Assis Júnior e Castro Soromenho como os escritores mais importantes da
angolanidade na primeira metade do século XX, embora, naturalmente, de “origem
biológica e social diferente”.
Depois debruça-se sobre
os poetas da denominada Geração de 50: Agostinho Neto, Viriato da Cruz, António
Jacinto, António Cardoso. A importância da mensagem da sua poesia, alertando
para as injustiças criadas pelo sistema colonial, é amplamente e argutamente
analisada.
Mas, segundo o autor, “foi
José Luandino Vieira aquele que mais longe chegou na informação da estética da
angolanidade”, opinião que também eu
partilho (devo até dizer que, salvarguardadas as devidas distâncias e
competências, tive o atrevimento de o afirmar ao próprio Luandino). Tal como o
brasileiro, o português desenvolvido em Angola também ganhou vida própria,
sendo Luandino o primeiro a fazer uso dessa nova escrita, passando a ser aquilo
que eu chamaria de angolês, que hoje é usada por muitos dos novos autores
angolanos e não só.
Para quem gosta e
pretende aprofundar os caminhos da Literatura Angolana esta é uma obra
fundamental, concordando ou discordando dos pontos de vista do Autor. Foi
editada pela Ulmeiro em 1987.
Tomás Lima Coelho
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