terça-feira, 30 de agosto de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Estão a ver como o investimento no ensino e na educação teria sido a melhor aposta em Portugal? 

Com uma mão-de-obra bem formada e bem preparada, seria o investimento nas novas indústrias ligadas à alta tecnologia que nos habilitaríamos a conseguir. 

Uma empresa portuguesa, em parceria com a Agência Espacial Europeia, está envolvida na criação de um sistema de navegação automóvel por satélite que terá múltiplas aplicações e aumentará a segurança e a qualidade do trânsito rodoviário. 
Ora aí estão à vista negócios de milhões e linhas produtivas para umas boas mãos cheias de postos de trabalho. Assim saiba o nosso tecido empresarial entrever e aproveitar as oportunidades. 
Estamos a falar de uma aparelhagem que permitirá ter uma visão dos fluxos do tráfego, a emissão de sinais de localização de uma viatura ou o pagamento de portagens que dispensam as barreiras físicas. 

É o portuga ao nível dos melhores. 


O nosso problema é a partidocracia que nos tolhe a alma e mantem uma sociedade manietada por um tecido clientelar. 



George W. Bush visitou as tropas no Iraque. 
O esforço para a vitória depende de todos. 



E nós que temos tantos mistérios para desvendar, tanta singularidade para contemplar. 

As montanhas de Vénus têm cumes cobertos de chumbo e bismuto. 

Parece que devido às elevadas temperaturas, esses metais fundem, volatizando-se e com a descida térmica que a altitude provoca, voltam a fundir sobre esses terrenos do alto. 



Hoje os alunos exercitaram as sílabas das palavras dadas e não tiveram trabalho para casa. 



Depois do jantar, a mãe e a Matilde estiveram a fazer os convites para a festa de aniversário do pardalito. 

Vai este mais aquele e não podendo deixar o outro de fora, acabou por endereçar um bilhetinho a todos os meninos e meninas da sala. 

Mas a Matoldas merece. 



E ainda bem que amanhã é sexta-feira. 


 Alhos Vedros 
  27/11/2003

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (218)

Convento da Arrábida - Foto de Fernanda Gil

O OUTONO É TRISTE

Aonde estou não há outono. O Outono é triste…
Aqui não deixam nunca as folhas de ser verdes
E há arelva e os rebentos e a alegria dos pássaros…
E os sítios em que amámos?... Vou contigo, Mulher,
Vamos de braço dado aos sítios de outro tempo…
Ah! Que não vemos musgo, muros velhos, mofo…
Saudades?... Nem ao menos saudades… Somos os dois tão jovens!...
Lá vai uma flor nova romper. Detemo-nos, deixamos
De respirar – e eis o botão rasgado e a flor aberta.

Sebastião da Gama
(Arrábida, 15/Nov/1951)

Selecção de António Tapadinhas

sábado, 27 de agosto de 2016

Pedro Du Bois, inédito


FINAIS
(Pedro Du Bois, inédito)

Parasse
de escrever

         agora

parasse
de pensar

         agora

parasse

        agora.
 

FINALES
(Marina Du Bois, English version)

If I stopped
writing

          now

stopped
thinking

         now

stopped

         now.

 
 Outros poemas:

quinta-feira, 25 de agosto de 2016


"Quando me amei de verdade desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... PLENITUDE".

Walter Barbosa de Oliveira

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Região Literária

por José Pais de Carvalho

OLHARES

Quando me debruço sobre a interpretação do acto de criar ou tento transmitir algumas ideias, sinto que há algo para além de toda ou qualquer sensação, emoção, sentimento ou pensamento. Qualquer coisa que, sem fronteiras, está além do que me é possível conceptualizar e descrever, porém tão perto, tão dentro de mim, uno e imutável, que é a ideia perfeita, a linguagem perfeita, a obra perfeita, no entanto inacessível.
Assim, apreendo a existência de duas facetas no meu interior. Uma, pela sua dualidade, estabelece diferenças, e  a outra, por sua interioridade e primordialidade, é o conhecimento e a origem de todas as coisas.
A primeira faceta, captada a partir de referências exteriores e do que se apreende do que é projectado,  conceptualiza unicamente o que não pode ser correctamente compreendido. A segunda, pelo desconhecimento da nossa verdadeira identidade, permite-nos apenas o acesso a si própria, como é o exemplo da sensação particular no acto de criar, como referi acima.
Portanto, posso dizer da minha vontade de ir além desta percepção, pois a nossa existência não é mais do que uma constante transição, e nós, sequer como espectadores, conseguimo-nos dissociar para a presenciarmos, tal a solidez das nossas estratégias duais.
Como pessoa, compartilho com todas as outras um conjunto de percepções que me permitem dizer que sou um ser humano. Mas, individualmente, observo que temos diferentes maneiras de explicar, sentir e interpretar essa percepção comum, criando a impressão de que vivemos num mundo único ou separado dos demais.
Ao debruçarmo-nos um pouco mais sobre essa perspectiva, constatamos que ela descreve o que se pode entender como a realidade relativa; subentende-se, então, que este tipo de visão tem um carácter subjectivo, representa a interpretação ou a concepção individual, e também a que, colectivamente, podemos fazer sobre alguma coisa, material e imaterial.
Observe comigo o leitor que, se 1000 pessoas sonharem, haverá tantos sonhos como sonhadores. Haverá tantas culturas quantos grupos de pessoas diferentes que, sob uma mesma percepção, desenvolvem um mesmo sistema cultural, social e económico. Das até 60 000 línguas que se calculam haver no planeta, estas representam tantos idiomas possíveis de outros tantos povos, tribos, etnias ou países. Ou, num ângulo mais restrito, numa família, havendo 6 irmãos, nenhum deles é igual ao outro, cada um terá caracteres diferentes e será uma pessoa diferente.
É, pois, esta percepção de individualidade que compreendo como realidade relativa. E se entendermos haver também uma realidade absoluta, e como entre o absoluto e o relativo não existe uma oposição, mas, antes, uma continuidade, de alguma maneira poder-se-á dizer que o que está além do relativo será o absoluto.
A nossa vida está cheia de exemplos que nos permitem abordar o acesso (e repito: abordar o acesso) à percepção do que é absoluto, mas não ao absoluto. E isto é-nos revelado não só na Arte, mas nas coisas simples da vida, em alguns casos, chamamos-lhe experiência da vida, em outros, coincidências. Por exemplo, eu e o leitor não pegamos num ferro em brasa porque ambos sabemos que nos vamos queimar, ou, quando estamos a pensar em alguém, essa pessoa telefona-nos nesse preciso momento. Pelo  desconhecimento desse todo que é a realidade absoluta, procuramos caminhos exteriores para a encontrar.
Assim acontece também com os modelos de pensamento. Ademais, penso que estes, mal-comparados, não são melhores ou piores do que qualquer interpretação individual devidamente fundamentada.
Deste modo, devemos não só apreciar o que determindado modelo nos traz de benéfico, mas também reflectir como o mesmo nos impede de enxergar, ainda que, para isso, necessitemos mudar o foco e afastarmo-nos desse mesmo modelo.
Para observarmos outras possibilidades, é necessário dissociarmo-nos daquele em que estamos inseridos. Porque, bem vistas as coisas, um modelo de pensamento, ainda que fortemente estruturado, não passa de uma provável interpretação entre muitas possíveis.
Quando nos interessamos por  uma obra de arte, pensamos no porquê, quando e como, mas geralmente através dos olhos da causalidade mecânica. Olhando a obra, pensamos como é que o artista chegou àquele traço, àquele signo. Assim se estuda a mecânica do texto, do autor e do leitor nas suas mais variadas formas. Mas este é um movimento sobretudo externo.
Este tipo de pensamento de génese helénica, e posteriormente cartesiana e newtoniana, é  dialéctico e mecânico no raciocínio e na argumentação. Por tanto, circular e infinito. Circular como sistema fechado e infinito pela probabilidade.
Criar um modelo na perspectiva de abarcar o todo no contexto da cultura ocidental é o mais puro engano, no mínimo, a mais pura ilusão. Intelectualmente, vã é a tentativa.
Este, entretanto, é o tipo de raciocínio dominante na nossa cultura. Porém, quando fazemos o movimento interior, intimista, antes de mais, pensamos no nosso aspecto emocional. Apercebemos  que as nossas emoções vão e vêm ininterruptamente. Ainda que façam parte da nossa génese, somos muito mais do que de positivo ou de negativo elas podem representar nas nossas vidas.
Ao invés de imaginarmos que podemos ignorar as emoções, fazermos de conta que não existem ou, antes, pelo contrário, enaltecê-las, torná-las um ícone da sensibilidade humana, será necessário conseguirmos entender como elas influenciam os nossos comportamentos, levando-nos a uma visão subjectiva e restrita.
Ao penetrarmos na natureza das emoções, reconhecemos a sua instabilidade e efemeridade; então começamos a compreender-nos e  compreender o que nos cerca com outros olhos. Assim, a partir do momento que o conseguimos fazer, o poder das nossas acções, pensamentos e emoções deixam de se reverter em consequências, tais como as vivenciamos e interpretamos comunmente;  redimensionando-nos e, por consequência, redimensionando o mundo que conhecemos como real, aproximando-nos do todo.
Portanto novos olhares emergirão, conforme compreendermos, gradativamente, a importância do que é a realidade subjectiva e a realidade absoluta. Não obstante, o meu discurso é somente uma descrição a partir de um ponto de vista fora do modelo comum do pensamento, ou uma tendência artística. Um relato ou um caminho sob um olhar diferente. E nada mais pretende ser.

José Pais de Carvalho
Sintra, 2015

terça-feira, 23 de agosto de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

ESTÁ MELHOR, SENHORA PROFESSORA?

Livros Escolares da Margarida, II 

O livro de Língua Portuguesa para o quarto ano; Pirilampo 4, de Noémia Torres, em primeira tiragem da segunda edição, da responsabilidade das Edições Nova Gaia e editado em dois mil e três. 



Lá andam as reacções aos impostos à flor da pele. 
Marcha lenta dos taxistas que pretendiam ser recebidos pela ministra das finanças. Está em causa o Pagamento Especial por Conta – um imposto adiantado que o actual governo se viu forçado a cobrar em alternativa à incapacidade de reformar a política fiscal – que os empresários do sector recusam-se a pagar. 

Complexo problema que toca na vertente da corrupção que viabiliza que empresas rentáveis evitem as tributações, mas também na inoperância dos meios e, sobretudo, na falta de coragem política para dar um combate eficaz à evasão e conseguir a organização adequada a pôr cobro à injustiça em curso, visível no facto de os trabalhadores por conta de outrem suportarem a maior fatia do bolo que o estado arrecada com os impostos. 

Is there anybody out there? 
Os mesmos de sempre o que significa que o Zé Povinho continuará a pagar e alguém a rir. 



“-Ó pai! Tens que ir pelo outro lado.” –Disse-me ontem, a Matilde, à saída do restaurante. 
“-Então porquê, pardalito?” –Perguntei sem que ainda tivesse atentado na direcção a tomar. 
“-Está ali um sinal a proibir.” 

Uau! Toda a família aplaudiu a Matilde. 
No caso deste meu anjo, a sessão de prevenção rodoviária foi bem aproveitada. 



Dada a falta de luz, hoje não houve a costumeira aula de ginástica das quartas-feiras. 



E a manhã, com a Professora toda entufada por roupa, foi dedicada a exercícios com os números aprendidos até ao momento. 
“-Hoje fizemos contas.” –Disse a pardaloca com rosto alegre, mal chegou junto de mim. 
Dois coelhinhos mais três coelhinhos são cinco coelhinhos. 



Oxalá os moderados ganhem as eleições na Irlanda do Norte. 
O Ulster precisa de paz. 


Já que dos Balcãs sopram ventos agoirentos. 
O partido de Franco Tujman, o ex-Presidente falecido há dois anos que liderou a independência e a frente croata da guerra civil, de há uma década, com os servo-croatas, voltou a ganhar as eleições. 
O actual líder apressou-se a negar o nacionalismo, mas a linha dura continua lá, provavelmente tão sectária e xenófoba como o mostrou ser nos difíceis tempos em que a cidade histórica de Mostar foi bombardeada. 
Para já, os observadores internacionais não acreditam no ressurgir dos fantasmas e da violência. 
Mas na vizinha Sérvia foi a extrema-direita que venceu o escrutínio eleitoral. 



Dia de chuva e de ventania fria. 

E eu, enfartado como andei naturalmente por causa da jantarada de ontem à noite. 
Por estes pequenos pormenores lá nos vamos dando conta dos anos que passam. 


 Alhos Vedros 
  26/11/2003

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (217)

Paris, Tempo de Chuva, Caillebotte, 1877
Óleo sobre Tela, 212x236 cm
Soneto da Chuva
Quantas vezes chorou no teu regaço
a minha infância, terra que eu pisei:
aqueles versos de água onde os direi,
cansado como vou do teu cansaço? 

Virá abril de novo, até a tua
memória se fartar das mesmas flores
numa última órbita em que fores
carregada de cinza como a lua. 

Porque bebes as dores que me são dadas,
desfeito é já no vosso próprio frio
meu coração, visões abandonadas. 

Deixem chover as lágrimas que eu crio:
menos que chuva e lama nas estradas
és tu, poesia, meu amargo rio.

Carlos de Oliveira, in 'Terra de Harmonia'


Selecção de António Tapadinhas

sábado, 20 de agosto de 2016

Do corpo e seu sagrado trânsito


(Uma breve história da vergonha)

por Risoleta Pinto Pedro


(pintura: Amanda Greavette)

Sem querer dar ideias, pergunto-me por que razão ainda não inventaram pílulas e cápsulas para não evacuar, para não urinar, para não espirrar, para não bocejar, para não respirar… Então não é uma maçada termos de lidar com os nossos dejectos, os nossos salpicos, os nossos ventos, as nossas névoas, humidades e outros elementos da natureza de que a dinâmica do corpo se sustenta e equilibra?… E que são vistos como pequenos ou grandes incómodos, erros da natureza, imperfeições da espécie, falta de educação se em público…
Se tossimos, todos nos olham como se fôssemos tuberculosos, se espirramos todos se desviam comos e fôssemos ET’s ou a única pessoa no mundo a espirrar, se transpiramos quase pedimos desculpa como se pelos poros saíssem, para além de coisas que já não nos fazem falta, a interior humidade num inteligente processo de limpeza e refrescamento do corpo, uma espécie de ar condicionado natural, como se de nós saísse um veneno de cobra ou uma gelatina viscosa, vergonhosa e profana.

Talvez este preconceito que a educação vai reforçando ao longo de gerações radique numa memória de culpa.

É que se algumas mães se regozijam e fazem uma festa quando o bebé faz um cocó apelidando de lindo o que acaba de sair do corpo do seu filho (e na verdade, para quem consegue ver a natureza profunda das coisas o que a criança expulsa é, como tudo o que existe, luz; e na verdade é belo que o corpo funcione na sua perfeição e possa libertar aquilo de que não necessita sem que isso tenha de ser amaldiçoado), a maioria cedo incute na criança a crença de que aquilo é feio, sujo e nojento.

Aquilo que é, afinal, a obra divina.

Mas tudo isto pode ter a ver, repito, com a primeira maçã colhida da Árvore do Conhecimento. É que ao ingerirem a maçã proibida, era preciso verem-se livres dela. Nessa altura Deus já era um detective. Coitado. E que melhor forma de o enganar, que não a evacuação? Talvez eu esteja a brincar, talvez não. Mas existe aqui um complexo de culpa e vergonha associado ao corpo. O primeiro homem, a primeira mulher (estamos em plena linguagem simbólica, por favor não interpretem literalmente), perante a desobediência, sentiram culpa e vergonha, que muitas vezes andam associadas. Era preciso verem-se livre do objecto do crime de desobediência e depois esconder. É o que fazemos. Escondemos tudo o que aprendemos a encarar como feio, vergonhoso ou inútil. Até escondemos os nossos lixos no fundo dos mares, como as crianças escondem os papéis das pastilhas e gomas que ingeriram a mais debaixo da cama. Somos crianças com um sentimento de culpa e de vergonha não do tamanho do mundo mas maior, muito maior. Não estará longe o tempo (e cá estou eu outra vez a dar ideias) em que expelimos os nossos lixos em naves espaciais. Na volta até já há quem o faça, eu que não sabia…

Pois é, escondemos, escondemo-nos. Por essa razão (e cheguei finalmente ao motivo que me trouxe a esta crónica) é quase tão difícil encontrar, como uma agulha em palheiro, nas prateleiras dos supermercados, um desodorizante que não seja anti-transpirante. Na maioria nem existe…

Porque é preciso que não transpiremos. Mesmo que seja um crime contra nós mesmos e aquilo que devia sair na respiração volte para trás e aí sim, contamine pelo caminho os lugares por onde passar, com as consequências, umas imagináveis, outras inimagináveis, para a saúde, porque é contra-natura, no corpo, este sentido ao contrário. Tudo isto, porque não queremos sentir ou mostrar vestígios de humidade por baixo dos nossos braços. Como se não fôssemos de carne, como se fôssemos feitos de plástico. Bonecos não transpiram. Pessoas podem e devem transpirar. PERCEBERAM, senhores dos laboratórios e dos supermercados, consumidores e todos? Não é vergonha, é natureza, é saudável, é divino e é belo. Acredito que até Deus transpire, então não somos feitos à sua imagem? Transpiração é coisa de Deuses. Como é possível criar sem transpirar? Só os bonecos e os anjos não transpiram. Nós somos humanos. Faz parte da nossa natureza. Essa que passamos a vida a rejeitar até morrermos prematuramente. Por excesso de plástico e vergonhoso asseio.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Amorosas Crueldades


O LADO FEIO
DAS LUZES DE NÉON

Por
Abdul Cadre

Engels dizia que a violência é a parteira da História. Assim tem sido e assim continua a ser, mesmo quando travestida de acções menos primárias. É-o na perspectiva marxista de luta de classes e é-o igualmente do ponto de vista do animal que nos coube ser, porque o homem vive em completa promiscuidade com o animal que o suporta; desde a noite os tempos, aprendeu mais com as feras do que com os pássaros, mais com o medo do que com a temeridade, mais com a agressão do que com a fuga.

Frágil perante a natureza agreste, inventou a tribo para optimizar a exploração dos recursos, obter conforto para o corpo, reproduzir-se. Neste desiderato, aqueles com características mais semelhantes, mais próximas da natureza bruta submeteram os que dessa brutalidade menos comungavam.

 Fundaram-se religiões, estabeleceram-se ideologias pregando a igualdade dos homens e os critérios do bem, mas elas próprias permitiram que uns fossem mais iguais do que os outros; inventaram Deus como proprietário do bem e, de imediato e em Seu nome, roubaram, violaram, torturaram, mataram. Aliás, todos nós descendemos de antropófagos, violadores e homicidas. Está no nosso ADN. Foi por isso, muito provavelmente, que as religiões do bem se tornaram o mal de sempre que nenhuma nuvem de incenso conseguiu disfarçar.

Para estarmos instalados na sociedade actual, é evidente que muita coisa sublimámos, mas esta sociedade, se é que nos fez perder os dentes, não nos livrou dos maus instintos nem nos impede os intentos. É claro que já não puxamos da espada e zás, rasteiramos, caluniamos, o fio da espada passou-nos para a língua. Aliás, chamamos democráticas às sociedades que privilegiam os linguarudos.

Já não tememos o Deus que dantes nos convinha e nunca vimos, agora o que tememos é não ter o suficiente do nosso Deus concreto, palpável e verdadeiro a que nos redemos, o senhor do ter, o deus dinheiro.

Hoje até achamos que a ambição é uma virtude – e jamais adiantou chamar-lhe pecado –, a competitividade um dever, como se a vida fosse uma corrida e o outro apenas um degrau de nos elevarmos a Deus, Nosso Senhor, o nosso idolatrado dinheiro a quem servimos e que de pronto nos abençoa na medida justa do nosso egoísmo.

Há quem pense – os ecologistas, por exemplo – que a natureza não gosta do nosso comportamento, e nós bem sabemos como ela é bruta, tão bruta que, quando éramos verdadeiramente brutos, não conseguimos jamais ser tão brutos quanto ela.


Valha-nos isso!

09 Ago 2016


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Carta aberta ao Ministro das Comunicações do Brasil


Brasil falido?
O Rio de Janeiro está, e os Correios também

Brasil de parabéns. Está a fazer umas Olimpíadas espetaculares elogiadas pelo mundo fora.
Mas... tudo muito bonito por fora mas por dentro, vamos ver.
O resto do país é um chorar e ranger de dentes: o trivial de inflação, insegurança, burocracia, etc., aquilo que para nós é mais comum do que feijão com arroz.
Lembram do Mensalão? Naquela altura os milhões ou bilhões roubados saíram principalmente dos Correios. Rebentaram com ele!

Os Correios? Ah! Uma calamidez. Pior do que calamidade.
Alguns exemplos:
1.- Sou correspondente de um jornal no Canadá, há onze anos. Tudo quanto recebo é um exemplar do jornal que, durante muito tempo chegava com regularidade, demorando cerca de uma semana a vir de Toronto ao Rio.
Este ano, passadas já 32 semanas, tudo quanto recebi foram dois jornais: um em Março e outro em Abril. Cadê os outros, senhor ministro das comunicações e senhor diretor dos Correios?
2.- Ontem chegou uma carta vinda de São Paulo. Postada dia 22 de julho, levou 19 dias para chegar. Terá vindo a pé?
3.- Encomendei pela Internet umas peças. Coisa miúda, vinda de São Paulo. Ao fim de mais de uma semana recebo informação dos Correios que teriam vindo fazer a entrega em minha casa, três dias seguidos, e não tinha ninguém em casa!Deslavada MENTIRA! Eu quase não saio de casa, e se o faço é, talvez, uma vez por semana e olha lá.
Mas agora tinha que ir até ao dia 10 ao Posto do Tanque (Rio de Janeiro). Pesquisa na Internet e encontro três postos no Tanque, 3. Fui ao primeiro, enfrentei uma fila curta porque sou idoso (e bota idoso nisso) e... não era ali. Fui ao segundo: é mentira não existe. Desisti. No dia seguinte comecei a caça ao pokemon dos Correios e acabei por encontrar. Umas dez pessoas em frente a um portão, na calçada, me fizeram pensar que ali era ponto de ónibus. Não era. Estavam à espera de entrar para reclamar os seus pertences. Por sorte não chovia!
A “sala” de espera no posto dos Correios!

O senhor é idoso tem prioridade! – Muito obrigado.
Esperei que atendessem uns 4 ou 5 que já lá estavam e finalmente mandaram-me entrar. Um cubículo miserável, uma só atendente, uma senhora com um olho tapado porque tinha sofrido uma intervenção e um outro lá mais dentro à procura do que os “bestas”, como eu, reclamavam. Uma montoeira incrível de caixas, maiores e menores, envelopes, tudo numa desorganização impressionante. A senhora, meia doente, com dificuldade para escrever e ler, mas assim mesmo estava a trabalhar, teve que me pedir para eu ler o número da minha identidade. Ela não conseguia. Brava senhora.
Esperei. O colega que andava a catar o que se reclamava, perguntava lá de dentro: É uma caixa grande????? – Não. É coisa pequena.
Finalmente apareceu!

Cartas e documentos, muitos deles com contas para pagar estão chegando depois do prazo!
Uma VERGONHA. Um tremendo descaso e desprezo pelo povo, o contribuinte, o que paga tudo, sofrendo.

De resto... vou contar o que?
Um atleta judoca, olímpico, foi assaltado na rua e ficou com um olho negro!
Duas outras atletas foram assaltadas na rua: dinheiro, celulares, etc... sumiram.
Uma patrulha do exército entrou por engano numa favela e foi recebida a tiro. Um soldado morto. A favela é terra DELES, da banditagem. Não é do Brasil.
Mas, “O Rio de Janêro continua lindo!”

Francisco Gomes Amorim
12-ago-16

Cia. 10pt - Plataforma Artística

Projeto Visual “alter Rio” - Inauguração em Dose Dupla!


o artista português Miguel Pinheiro buscou o Rio de Janeiro fora do cartão postal 
(fotografia ©joeltavares)

Região Portuária e Lapa recebem o lado-B do Rio de Janeiro. Antiga casa de Chiquinha Gonzaga no Beco do Rato vira galeria.
O projeto “alter Rio” retrata o Rio de Janeiro fora do cartão postal. Idealizado pelo artista português Miguel Pinheiro, a mostra inaugura este sábado, dia 13 de Agosto, em dois lugares diferentes do Rio. A Casa Porto, centro cultural da região portuária, receberá a exposição coletiva com várias dezenas de obras de mais de 20 fotógrafos. A abertura está agendada para as 18h sob o tema: E o Mundo Inteiro Cabe no Rio de Janeiro. E mais tarde, na Casa que foi de Chiquinha Gonzaga, a exposição individual de Miguel Pinheiro fará parte da segunda ocupação artística Morais e Vale, no Beco do Rato, na Lapa, onde mais de 100 artistas visuais se reúnem sob a curadoria de Paulo Branquinho. (Ver mais AQUI)

terça-feira, 16 de agosto de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

OBRIGADO POR ESTES ANOS

Na passada sexta-feira foi a greve da função pública. 
Esta manhã paralisou a Carris e à tarde foi a algazarra dos estudantes. 

As prestações económicas falam de um crescimento negativo e de uma diminuição do PIB. 
E o problema é que o país, em termos de captação de investimento estrangeiro, perde para certas regiões de Espanha e alguns dos novos parceiros da Europa central. 

E alegremente, aí vem o Euro 2004 como o grande desígnio nacional para o próximo ano. 


Avisadamente o governo português votou favoravelmente a autorização para que a Alemanha e a França transponham a barreira dos três por cento no défice público imposta pelo pacto de estabilidade na zona euro. 
A verdade é que desta forma será muito difícil que alguém aprove uma sanção a uma futura derrapagem da nossa economia. 
E Durão Barroso sabe bem o que aconteceu a Cavaco Silva. 
Ora com a malta da bola a pôr e a dispor do bolo público por causa do torneio que projectará Portugal até à Estação Espacial Internacional, muito dificilmente o festim deixará o orçamento respirar no próximo ano. 
Salva-se pois esta prudência. 


Mas podemos registar um verdadeiro bom exemplo. 
Um acordo entre os trabalhadores e a administração, na Auto-Europa, conseguiu evitar um despedimento de oitocentos funcionários da empresa. 

Só é pena que sejam apenas estes os oásis de que somos capazes. 



A Matilde teve uma folga inesperada. A Professora faltou. 
Que rica manhã de brincadeira que, pelo testemunho da hora do almoço, continuou pela tarde fora. 


E por iniciativa da Margarida fomos jantar fora. 
O pai e a mãe fazem dezanove anos de casados. 
Obviamente paguei eu, mas o calor que senti à volta daquela mesa foi aquele que um dia voltarei a sentir quando o piolhito puder levar o convite até ao fim. 
É claro que a mãe lontra estava tão feliz como eu. 



As eleições na Geórgia repetir-se-ão no início de Janeiro. 



O pavimento cedeu e repentinamente abriu-se uma cratera que engoliu um autocarro. 
Outrora passou ali uma ribeira. 
Palavras para quê, 
                              é uma estrada portuguesa com certeza 
                              é com certeza uma estrada portuguesa 
                                                                                             mais exactamente em Campolide. 



Sempre com raciocínios brilhantes, o Professor Vital Moreira diz-nos que os atentados que se têm verificado no Iraque, contra as forças de ocupação, são o melhor testemunho da resistência daquele povo. Depois acrescenta que a invasão falhou pois veio a dar força ao terrorismo internacional que agora faz daquele país o seu campo de batalha. 
Em que ficamos? 
Tal como ele escreve, talvez fosse preferível a segurança da ditadura. (1) 



Há queda de neve nas zonas mais elevadas da Serra da Estrela. 


 Alhos Vedros 
   25/11/2003 


NOTA 

(1) Vital Moreira, PERSISTIR NO ERRO, p. 8 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Vital Moreira, PERSISTIR NO ERRO, In “Público”, nº. 4996, de 25/11/2003

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (216)


Lisboa Imaginada, António Tapadinhas, 2001
Acrílico sobre Tela, 90x90 cm

Balada de Lisboa

Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo

Caravelas te levaram
Caravelas te perderam
Esta é a cidade onde chegas
Nas manhãs de tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente

Esta e a cidade onde estás
Como quem não volta mais
Tão dentro de mim tão que
Nunca ninguém por ninguém
Em cada dia regressas
Em cada dia te vais

Em cada rua me foges
Em cada rua te vejo
Tão doente da viagem
Teu rosto de sol e Tejo
Esta é a cidade onde moras
Como quem está de passagem

Às vezes pergunto se
Às vezes pergunto quem
Esta é a cidade onde estás
Com quem nunca mais vem
Tão longe de mim tão perto
Ninguém assim por ninguém

Manuel Alegre, in "Babilónia" 


Selecção de António Tapadinhas

sábado, 13 de agosto de 2016

A Ilha dos Amores





A Ilha dos Amores
Rio Minho

Lucas Rosa

Miradouro do Espírito Santo
Vila Nova de Cerveira
13.8.2016


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A Ilha dos Amores


Curta Metragem/Documentário

Duração: 20 a 30 minutos

Tema: Alhos Vedros,   Título: A Ilha dos Amores.

Objectivos: Mostra local, Concurso de curtas metragens do ICAM, etc.


Ideia Central – Desenrolar alguns episódios de Alhos Vedros, paralelamente à história de Portugal. Mas ATENÇÂO nunca se falará em Alhos Vedros (nem em Portugal) excepto, talvez, na dedicatória do filme.


TAPE 1
A Lenda do Domingo de Ramos (séc.XII)
- o poço mourisco
- Etimologia de Alhos Vedros: Homens Velhos com Asas (precisa de explicação) - a Linguagem dos Pássaros.

Texto:
Depois dos Lusitanos e dos Romanos
E volvidos anos
Com costumes Bárbaros pelo meio
Apartadas as mãos de mouros e cristãos
Veio…

Imagens:
- Pássaros (pardais, andorinhas, gaivinas, garças e flamingos) e
Anjos (no interior da Igreja)
- Missa
- Nossa Senhora dos Anjos (Procissão)
- Oliveiras (ao pé da Junta, quintal do Padre, ao lado da escola…)
- Castelo de Palmela visto de Alhos Vedros
- O poço mourisco
  
TAPE 2
Século XIII: O Concelho de Alhos Vedros; A Igreja; O mais antigo registo escrito sobre Alhos Vedros. D. Dinis e Isabel (Ordem de Cristo e Culto do Espírito Santo) 

 Texto:
Um país.
Sonhado e a sonhar
Com o Mar
Querendo fazer do Templo o mundo inteiro Português,
e Fez…
  
Imagens:
- o interior da Igreja (seria bom ouvir primeiro a história do Padre?)
- o mais antigo registo escrito sobre Alhos Vedros
- a Cadeia e os Paços do Concelho
- as águas do Cais Velho
- Pombas brancas

 TAPE 3
- D. João I e Filipa de Lencastre (sec. XIV-XV)
- A Peste Negra
- O Palácio da Graça
- A Conquista de Ceuta
- O Infante D. Henrique e a Ordem de Cristo
  
Texto:
Pela peste e em luto, no Palácio da Graça
Reuniram-se os infantes e o Rei
Para atravessar Gibraltar.
Toda a força do vento se aproveitou…

Imagens:
- Barcos à vela que chegam ao Cais (jogar bem com a luz no filme)
- Imagem do rei D. João I, da rainha Filipa de Lencastre e do infante D. Henrique (grão Mestre da Ordem de Cristo)
- O Largo da Graça
- A Quinta da Graça
- O Palácio da Graça
- O Marinho da Graça
- Manuel Tavares no Cais Velho
- Barcos que saem do Cais

 TAPE 4
- O Foral e D. Manuel I ( A Índia e o Brasil) - sec. XVI
-Álvaro Velho
-A Quinta do Império
-O estaleiro naval, os biscoitos, a Igreja de Palhais

Texto:
Foi o vento sim
que me levou a mim para lá
do Suão,
além do Atlântico, além do Índico
meditar no Tibete, ou no Pacífico
cambiar no Japão

Imagens:
- a carta de Foral de Alhos Vedros de 1514
- Pelourinho
- o estaleiro naval no sapal de Coina (construção e reparação das caravelas que foram às Descobertas)
- os fornos de biscoitos em Vale do Zebro (comida que seguia nas caravelas, alimentação dos navegantes)
- o sal, as salinas, os viveiros de peixe, imagens de peixes
- foto de Álvaro Velho (cronista da viagem de Vasco da Gama à Índia)
- A igreja de Nossa Senhora da Graça, em Palhais.
- a Quinta do Império (onde está hoje o aeródromo – filmagens aéreas?)

 TAPE 5
- Rumo ao futuro.

Texto:
Neste nobre estremenho lugar
Onde vêm as águas do Tejo
Trazidas pelo vai-vém do mar
Existe uma pequena ilha

Num momento mais insensato
Chamaram-lhe “Ilha do Rato”
Mas eu nos meus sonhos às cores
Chamo-lhe de “Ilha dos Amores”

Foi ela que em tempos de outrora
Sussurrou aos ouvidos do rei
Que se tinha chegado a Hora

Imagens:
- Ilha do Rato (filmada de cima?)
- águas do Tejo
- muitas caras de pessoas de Alhos Vedros
- muitos pássaros
- Depósito da Água – RI Alhos Vedros


Este filme é dedicado à vila de Alhos Vedros.

11 de Setembro de 2004 (dois anos depois...),
Luís