Revestiu-se de grande sucesso o 1º Festisal, certame
organizado pela Fundação das Salinas do Samouco no passado mês de julho.
Participaram entusiasticamente cerca de seis centenas de pessoas de todas as
idades. A iniciativa, plenamente integrada na filosofia eco ambiental, visou,
entre outros objetivos, sensibilizar a população para o potencial educativo,
científico e lúdico contido num espaço de quase 400 hectares que ficou
denominado Salinas do Samouco, embora mais de 80% do território se situe na
freguesia de Alcochete. A Festisal englobou um leque diversificado de
atividades: rapação de sal, recriações históricas, artesanato, venda de
produtos regionais, observação de aves, gastronomia, fornos solares, projeção
de filmes, exposições, palestras temáticas, etc.
Neste âmbito, despertou enorme interesse o “showcooking”
dirigido pelo “Chef” António Sequeira com demonstrações culinárias e respetivas
degustações (talvez o mais cativante para quem busca experiências de novos
sabores) efetuadas com plantas halófitas das salinas. A este escriba foi
solicitado que, na véspera, colhesse folhas de salgadeiras, salicórnias,
sarcocórnias, gramatas e inulas, o que foi efetuado com prazer para que tudo
corresse a contento. Refira-se que as citadas plantas são todas elas edíveis,
embora ainda não estejam integradas na gastronomia portuguesa tradicional.
Apenas a salicórnia começa agora a ser popularizada como produto “gourmet” (Ver
alusão no meu livro “Plantas para Curar e para Comer”).
Aproveitamos a ocasião para investigar sobre as propriedades
gustativas da inula com que o “Chef” preparou um acepipe de camarinhas
(pequenos camarões). A inula marítima, para além de ser uma planta salgada, tem
sabor forte e característico o que confere identidade própria a qualquer prato.
Há várias plantas designadas por inula, mas falo-vos da Inula crithmoides, de seu nome
científico, espécie da aristocrática família das compostas ou Asteraceae. Trata-se de uma planta
perene, simples, glabra, ramosa e ascendente que pode atingir 8 dm de altura.
As suas folhas são carnudas, estreitas, quase lineares, sésseis e alternas. Os
caules são lenhosos e um pouco torcidos na base. As flores, agrupadas em
capítulos, apresentam-se de amarelo dourado com pétalas estreitas e brácteas
imbricadas em várias filas. São hermafroditas e surgem de maio a setembro. As
sementes, de 2 a 3 mm, formam aquénios angulosos hirsutos e pubescentes.
A inula não suporta a sombra, adorando o calor. Prefere solos
ligeiramente ácidos, formando tufos e pode ser encontrada em orlas de sapais,
muros de salinas, esteiros e mesmo em esporões rochosos e arribas litorais,
como recentemente vimos em Peniche, a caminho do Cabo Carvoeiro.
Dos compêndios consultados apenas encontrámos menção da Inula crithmoides em “Elementos da Flora
Aromática” de Aloísio Fernandes Costa, edição de 1975 da Junta de Investigações
Científicas do Ultramar, referindo que “por destilação das folhas se separa uma
essência da qual predominam, particularmente, hidrocarbonetos”. A mesma obra
regista ainda outras duas inulas com essências, nomeadamente a viscosa e a graveolens.
No entanto, a inula mais consagrada como planta medicinal,
descrita em variados livros de fitoterapia, é a Inula helenium de que se aproveita a raiz. Trata-se de uma erva de
folha larga, bem mais alta do que a crithmoides
e tem aplicações no tratamento de bronquites, tosses e problemas estomacais.
Quanto à nossa inula marítima há a destacar, para além das
suas essências ainda não devidamente estudadas, o teor em cloreto de sódio e
quiçá em cloreto de potássio, sendo portanto ideal para temperos em substituição
do sal-das-cozinhas e, desta forma, aconselhada para quem sofre de hipertensão.
As folhas jovens podem ser consumidas cruas, cozidas, em picles e como
condimento.
Avançando nas minhas experimentações, procedi à secagem da
planta em forno solar e pulverizei as respetivas folhas que casam bem com
saladas e cozinhados. E eis assim como se pode aproveitar mais um recurso
disponível e gratuito (por enquanto) no nosso País, cuja utilização enriquece
os preparados culinários e beneficia a nossa saúde.
Miguel Boieiro
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