terça-feira, 29 de agosto de 2017

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Chegou a hora dos simples cidadãos falarem entre si. 

O país bateu no fundo e no aspecto político restam muito poucas reservas que possam interpretar a inversão deste quadro de estado comatoso em que se encontra a sociedade portuguesa. O próprio Presidente da República que se esperaria fosse um poder de influência fundamentado na força moral e ética, cujas palavras sempre se constituíssem como indicadores de pertinências, desencadeou uma série de intervenções que o colocaram ao nível da mexeriquice. 
Enquanto isto, o estado revela-se incapaz de cobrar impostos, há denúncias de casos e casos de homicídios por resolver em sede de investigação, a lei tem buracos que, em nome de garantias e direitos dos arguidos, permitem protelamentos que possibilitam que os mais poderosos se coloquem a salvo da sua alçada. 
Há a sorte de uma boa parte da economia continuar laborando e pagando impostos ainda que o colapso não seja uma hipótese a excluir. 
Mas os governantes não dão mostras de saber o que fazer. Não definem prioridades nem estratégias para que o país se afirme no contexto das nações e recupere na distância que o separa dos mais desenvolvidos da União. No parlamento andamos pela lana caprina e as grandes questões passam ao lado. 
E em vez de investirmos na educação construímos estádios de futebol. Em vez de organizarmos um bom sistema de saúde criamos hospitais SA e organizamos torneios de bola. 

Chegou pois a hora dos cidadãos erguerem a voz e dizerem basta. 

O que é que nós queremos? 
Muito simplesmente queremos viver num país normal em que as pessoas encontrem trabalho e possam fazer planos de vida em conformidade. 
Queremos viver num país normal em que aos mais pobres e aos mais fracos assista a possibilidade de terem escolas para os seus filhos que não se limitem a albergá-los, arrecada-los até à hora em que saem para o ganha-pão, mas que os eduquem e os formem para poderem escolher uma profissão que lhes permita uma vida digna. 
Queremos viver num país em que aos mais pobres e aos mais fracos assista a possibilidade de tratarem de manter os seus corpos saudáveis e de os tratarem em caso de doença. 
Um país onde as empresas e os empresários tenham confiança em investir. 
Um país em que as leis tenham eficácia e a justiça funcione com rapidez e imparcialidade, de modo que aos mais fortes sejam cortadas todas as possibilidades de cilindrarem os mais fracos. 
Queremos um estado com força para proteger os seus territórios e os seus cidadãos e com isso contribuir para a paz e a segurança regional e mundial. 
Queremos viver num país que no contexto das nações seja respeitado pela vitalidade das suas trocas económicas e que seja conhecido pelos seus cientistas e homens de cultura. 
Queremos um país bonito com uma população bem distribuída e com a geografia natural bem aproveitada e alindada. 

Se chamamos idealismo a isto, então estamos apenas admitindo que não somos capazes de o fazer e se isso nada prova quanto às nossas capacidades em termos de facto, deixa bem clara a demissão de quem o afirma, da sua incapacidade para o fazer. 



Hoje os alunos preencheram a aula com exercícios e fichas com números e contas. 



O “Abecedário dos Desertos” é o melhor caderno da colecção que o “Público” vendeu há uns meses atrás. 
É incrível a variedade das paisagens naturais que os desertos terrestres nos proporcionam e a das expressões que as humanizações aí adquirem também. 



Afinal, parece que os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra nunca tiveram informações seguras sobre a existência das armas de destruição maciça no Iraque. 
Eis um facto que prejudica os aliados e a causa da paz e embaraça todos os democratas que, pelo menos, não se mostraram opositores das operações militares que levaram ao derrube do regime de Saddam Hussein. 
Temos que reflectir profundamente sobre o assunto que é muito sério. 

E não podemos esquecer que todos os inimigos da liberdade estão de olhos postos nas oportunidades que uma quebra de flanco como esta lhes pode proporcionar. 

Podem não parecer, mas estes são anos de chumbo. 


 Alhos Vedros 
  05/02/2004 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Le Quellec, Jean-Loie e Barthèlemy, Guy, ABECEDÁRIO DOS DESERTOS, Tradução de Ana Gerschenfeld, In, “Público”, Lisboa, 2003

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