O sol brota infatigavelmente
Fazendo-se cumprir as vontades
Estabelecidas pela soberana Tropical.
Uma plácida resplandecência
Desperta a triste feliz alvorada;
É embelezado o constante prelúdio
Do divino quotidiano.
Lá no cume, Terra Mãe
O vento suspira exaustivamente
Ou,
Um clássico assobiar inquieto!
Cumprimentando, suavemente,
As colinas, as florestas
Ao repousar,
Entre os escamosos,
Fluem as senhoras ribanceiras
Uma correria ao rubro!
Vibrando invictamente
Com destino a braços dos majestosos
Lá vem o novembro...
Levanta-se atrevidamente o cheiro à terra
Em sintonia com o bailar dos pingos torrenciais.
O velho maubere
Apunhala o rosto do chão
Desencadeando, assim,
A primordial cerimónia do cultivar de esperança.
O março se avizinha...
A temporada do sequencial
- Ao Além, aos Sagrados, ao Céu, à Terra!
Dito e feito,
Governa-se
Ao inteirar o ciclo
Invoca-se a presença agressiva de agosto
Onde a brisa quente despe o verde chão
As poeiras se erguem vertiginosamente
O existir do meu Timor-Lorosa´e.
Fertinal Alves
[i] Tafuis:
Galos selvagens, muito comun no sul da ásia (nome cientifico: Gallus lafayettii)
[ii]
Guardiâo Mor: Ramelau (relevo mais alto de Timor), a crença nativa atribui ao
monte de ramelau como o guardião da ilha, o elo da ligação entre os vivos e os
mortos.
[iii] Alem:
Antepassados, a crença nativa timorense assume culto aos antepassados
[iv]
Caminhar dos avos: A cultura timorense considera o vento como uma entidade, o
sopro do vento representa a presença dos antepassados
[v] Bocas do
mar: Traduçao literal de Taci-ibun, praia, em português.
[vi]
Acidentados escamas do avô: De acordo com a lenda tradicional, a ilha tem
origem de um crocodilo, sendo então, acidentados escamas expressam as montanhas
[vii]
Babadok: instrumento musical de Timor
[viii]
Tasi-Feto e Tasi-Mane: Mar-Mulher e Mar-Homem, respetivamente. Em timor, o mar
que banha o norte da ilha é chamado de Tasi-Feto, sul, Tasi-Mane.
[ix]
Beialas: Antepassados, segundo à tradição nativa, no período que corresponde à
transição da estação de seca para a de chuva, faz-se rituais que invocam à
natureza e aos antepassados, com o obejetivo de os puderem liberar a chuva
[x] Ai-suak:
um utensilio tradicional feito de ferro que permite cavar ligeiros buracos para
cultivar o milho
[xi]
Obrigadu Wa´in: Muito obrigado (tradução literal), no poema, tal representa o
ritual de ação de graça
[xii] O
desenfeitiçar do sagrado impiedoso: Na época de chuva, é proibido qualquer
colheita antes do ritual de ação de graça, qualquer infração sujeita-se ao
castigo divino, como por exemplo, ser atigido por um raio, devorado por um
crocodilo, entre oitros.
[xiii]
Mauberense: deriva de maubere, o termo que designa o povo timorense
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