Risoleta Pinto Pedro
O porco faz parte do meu imaginário, como o de toda a gente.
Nos livros de histórias da minha infância eram muito redondinhos e apetecia pegar-lhes ao colo, um pouco como aquele porquinho da Tânia (se nos esquecermos da lâmina que lhe pôs na cabeça, quando começou a ficar cor de rosinha, antes de ela o perverter na cor), minha amiga artista que criou a escultura de um porco com arame e papel, a propósito de um livro muito interessante sobre o mesmo, com texto e pintura, que saiu na &etc.
Suponho que até cheiravam bem esses porquinhos das histórias de menina, qualquer perfume com uma imaginária marca Walt Disney. O porco da minha infância estava sustentado por uma estética aristotélica, muito diferente da desses porcos do livro da &etc, tão escandalosamente parecidos connosco, tão cheios de celulites e adiposidades fora do sítio e com um ar tão cheio e tão alienado de si que os torna escandalosos.
São tantas as máscaras do porco: o porco da matança, o porco dos vermes, o porco dos três porquinhos, o corpo do porco que, aberto, é um mapa, quase à escala do nosso interior. Porco meu, espelho meu, quem é mais bela do que eu? O espelho devolve-me uma imagem que me faz lembrar vagamente alguém... serei eu? Mas o que é aquela coisa espiralada ali atrás? A espiral está por trás do porco, o porco é rematado em espiral. Há esperança.
Atenção ao porco dentro de nós, ele espreita e ameaça tomar conta da situação a qualquer momento. Ninguém está livre do porco.
É imoral porque tem estrias na alma. O único porco digno é aquele verdadeiro, o da pocilga, honesto e igual a si mesmo. Viva o porco, abaixo o porco.
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