Amigos,
Um destes dias fui à Herdade do Alto do Pina (Poceirão) apanhar espargos
silvestres para os incorporar no Almoço de Natal da Sociedade Portuguesa
de Naturalogia, a realizar no próximo dia 16 de dezembro. Colhi uma
quantidade razoável! Aproveitei também para apanhar saramagos para um
delicioso esparregado. O almoço vai ter, de novo, uma componente
importante de ervas comestíveis para suscitar curiosidades e educar os
paladares dos comensais habituados às artificialidades que o marketing
coloca nos supermercados.
De repente, vejo uma ramalhuda erva-formigueira (atenção que esta não é
para comer) e logo pensei, ela vai ser a protagonista da próxima lição
de fitoterapia.
Abraços!
Miguel Boieiro
Para que não haja confusões, uma vez que o termo popular “erva-formigueira” aparece atribuído a diferentes plantas, em várias regiões do mundo, esclareço que me estou a referir à Chenopodium ambrosioides L., planta da família das Quenopodiaceae, nativa da América tropical, que se aclimatou com facilidade em todas as regiões subtropicais e temperadas. Sendo bastante utilizada pelos ameríndios como planta medicinal, foi trazida para a Europa pelos espanhóis no século XVI e logo tomou várias designações: epazote, chá-do-méxico, chá-dos-jesuítas, erva-de-santa-maria, erva-vomiqueira, formigueira, lombrigueira, mentruz, quenopódio, ambrósia, etc.
Crê-se
que a reputação desta planta provém do facto de afugentar ou eliminar
parasitas, outrora muito comuns nas habitações e povoados: pulgas, piolhos,
percevejos, carrapatos, moscas …
Em
traços largos, podemos descrevê-la como herbácea anual ou perene, de raízes
brancas, compridas e oblongas. Os seus caules são vigorosos, angulosos e ramosos,
possuindo sulcos longitudinais pouco profundos, podendo atingir um metro de
altura. As folhas são ascendentes, oblongo-lanceoladas, irregularmente dentadas
e agudas com pecíolo curto. As flores aglomeram-se em espigas terminais e são
brancas ou levemente esverdeadas e pequenas (1 mm de diâmetro). Os frutos,
também muito pequenos, são aquénios ovóides achatados, completamente envoltos
nos respetivos cálices, dando sementes pretas, brilhantes e lisas. Com bom
desenvolvimento vegetativo, um só pé pode produzir dez mil sementes. Toda a
planta, sendo intensamente verde, avermelha um pouco, quando as sementes
amadurecem.
Os
seus principais constituintes químicos são saponinas, taninos, sucos amargos e
um óleo essencial, cujo componente determinante se chama ascaridol. É ele o principal responsável pelas propriedades
anti-helmínticas da erva-formigueira (capacidade de eliminar os parasitas
intestinais). O óleo, amarelado e de aroma penetrante, serve de base a muitos
medicamentos e aplicações veterinárias.
Para
além da propriedade antes citada, a planta é carminativa, tónica estomacal,
emenagoga, antiespasmódica, vermífuga, diurética, cicatrizante, analgésica, antirreumática
e antiasmática.
Outrora
abusava-se em demasia, quer da erva, quer da sua essência, ocorrendo frequentes
intoxicações devido ao ascaridol.
Hoje em dia continua a consumir-se a erva-formigueira mas com os devidos
cuidados e não ultrapassando as doses prescritas pelos especialistas.
Algumas
receitas clássicas:
Para eliminar vermes intestinais,
melhorar as funções digestivas, aliviar a asma e as perturbações nervosas – tomar três chávenas por dia de uma infusão de 20 g da
planta verde num litro de água.
Para pernas inchadas, varizes, afeções
da pele e picadas de insetos –
aplicar cataplasmas das folhas cozidas com sal marinho.
Tendo
sempre presente, as contra-indicações provocadas por doses elevadas, lembra-se
que a infusão da erva-formigueira era, noutros tempos, tomada com regularidade
como sucedâneo do verdadeiro chá.
Atualmente
estuda-se, com acuidade, o seu efeito inseticida contra melgas e mosquitos e a
aplicação em agricultura biológica para combater determinadas pragas.
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