AS FÉRIAS DE CARNAVAL
Carnaval em Bragança, onde a família passou estes dias em toada de recuperação das forças físicas e anímicas, graças à boa hospitalidade do Carlos e da Tuxinha que nos receberam em sua casa e nos presentearam com os mimos da boa companhia e dos passeios a que se adicionaram os bons paladares e os encantos da vista de um salão aberto em vidro para um lameiro que as nuvens trataram de alindar com a neve e onde uma cegonha apareceu, em busca de alimento.
Dias frios em que fortes nevões nos remeteram para o conforto das salas aquecidas, num Domingo que, para os adultos, foi feito de conversas e para os miúdos cheio de jogos e brincadeiras, pois os meus pardalitos entenderam-se às mil maravilhas com o Leonardo, o filho daqueles amigos.
E como é bonito ver a Matilde integrar-se no convívio com os mais velhos, como se a diferença de idade para com o rapaz não perfizesse os dedos de uma mão.
As miúdas ficaram encantadas por brincarem na neve e, claro está, não deixaram de fazer o boneco da praxe à entrada da aldeia de Montesinho.
E também elas tiveram a experiência de passearem enquanto os flocos caíam sobre os seus anoraks e as ruas da cidade.
E os montes, pelos vales que o Sabor vai rasgando, aqui e ali, rosados pela urze
ainda que o vento, por fora, faça os embranquecidos pinheiros pingarem, numa mistura da ressaca das ramadas com o constante gargalhar das águas correndo entre as pedras.
Aproveitei para mostrar ao Carlos as minhas fórmulas matemáticas a respeito da complexidade da cultura e enquanto os flocos buliam os vidros da varanda e da janela do escritório, conversámos a respeito da extrapolação daquelas para aquilo a que chamo a teoria das circungirações e das similitudes entre as possibilidades de previsão num sistema como a atmosfera terrestre e as sociedades humanas.
Tão em paz não estiveram os marroquinos que ontem foram vítimas de um violento sismo que assolou o norte daquele país e em que se registaram mais de duas centenas de mortos.
A placa africana impondo o seu poder.
Mas a ajuda internacional deu corpo à solidariedade que normalmente se forma nestes momentos de dor.
Importa agora salvar os feridos, dar abrigo aos desalojados e reconstruir os tectos o mais rapidamente possível.
Por cá é que vamos assistindo à pouca vergonha de vermos a impunidade das fraudes mais mirabolantes, como a que serviu para desviar milhões em projectos nas florestas de Trás-os-Montes que, para além de não terem qualquer efeito prático, chegaram ao cúmulo de transcenderem a área geográfica daquela província. É que os crimes prescreveram e, apesar das facturações falsas e dessas superfícies inventadas, nunca foi possível reunir provas para acusar a vigarice e levá-la a tribunal.
Somos mesmo o país anedótico em que alguém como Santana Lopes consegue achar-se capaz de chegar à presidência da república.
Será talvez por isso que o primeiro-ministro pode falar em vitória por temos contido o défice público nos dois vírgula oito por cento do PIB, quando se sabe que isso foi conseguido à custa de truques contabilísticos – os hospitais SA são o mais bizarro de todos – e à venda de património do estado, o mesmo que não foi capaz de cobrar impostos àqueles que teimam em não pagar ainda que o pudessem fazer.
E lá anda o Vitorino em bicos de pés a ver se desenrasca a vidinha.
Agora fala-se que o pequeno génio pode vir a ser o próximo comissário do Conselho Europeu.
E o delírio é tanto que o nosso jornalismozinho o compara a Jacques Delors. Logo a começar pela força política dos países de origem, direi eu.
Há massacres no Uganda.
A comunidade internacional deveria intervir.
E no Irão, sedento de vitórias, os conservadores cantam a vitória eleitoral.
Amanhã reataremos o normal quotidiano do trabalho e da escola.
Deus nos acompanhe a todos.
Alhos Vedros
25/02/2004
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