terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Agostinho da Silva e Barca de Alva


Agostinho da Silva, escultura em Barca de Alva. Assinalando aqui os 112 anos do seu nascimento. Os créditos das fotografias pertencem a Cláudia Leite Bolila. O arranjo do texto é de Luís Santos.






















George Agostinho Baptista da Silva, filho de Francisco José Agostinho da Silva e Georgina do Carmo Baptista da Silva, nasce na cidade do Porto a 13 de Fevereiro de 1906. Mas logo pouco tempo depois, com seis meses de idade, por destacamento profissional de seu pai foi viver para Barca D’Alva, lugar fronteiriço do Concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda. Aqui passou parte da sua infância, até aos seis anos de idade, altura em que haveria de regressar ao Porto.

Em 1986, com oitenta anos de idade, Agostinho da Silva produziu um manuscrito com o título de Caderno de Lembranças, onde nos lega uma descrição sobre os seus primeiros tempos de vida. O que é curioso é que o início desta sua descrição recua ao ano de 1905, altura em que o autor começa a dar conta de que irá nascer. E é tão interessante a descrição que não deixamos de a transcrever em parte:

“Lá por 1905, mas nada há mais difícil do que relacionar tempo e eternidade, ou fixar-se simultâneo nos dois planos – os grandes pintores o fazem no olhar de suas figuras -, mas, enfim, por essa altura, comecei a tomar atenção no belo globo que rolava diante de nós, e a tentar descobrir lugar aonde me agradasse descer para principiar minha vida. A meu lado, outros faziam o mesmo, e até discutíamos os méritos de um e outro ponto, mas sem voz, tanto quanto me lembro, porque o nascer tira muito a memória (…) Quando, voluntária ou involuntariamente, quem o sabe, gostei de, a cada volta do globo, ver surgir de novo nossa península ibérica, deu-se – fenómeno curioso, o mesmo que, maquinado pelos homens, se veio a chamar zoom: À outra volta, a península estava maior, só havia uma nesga de mar, de um lado e outro, e uma cadeia de montanhas, bem em relevo, a limitando para o norte; ou eu a estou a ver agora assim, porque, donde eu a contemplava, não havia nada que fosse acima ou abaixo: simplesmente era. Na outra volta, a metade que posso dizer agora de meu lado direito desaparecera, como desaparecera toda a faixa do sul. Fixava-me, de facto, no que aprendi a chamar Portugal (…)” (Agostinho da Silva, Caderno de Lembranças. Corroios: Zéfiro Editora, pp 15-16)

1 comentário:

Lapa disse...

A escultura é de Eugénio Macedo.