Está no tempo propício para colher a erva-de-são-roberto!
por Miguel Boieiro
Quem fervilha nos meios urbanos, em atividade intensa e
desgastante, precisa regularmente de visitar a natureza para a conhecer e
desfrutar das suas benesses. Ir ao campo ou à praia, para além de constituir um
passeio desintoxicante, se soubermos evitar os arreliadores “engarrafamentos”,
é uma ocasião soberana para descansar a mente e apurar os nossos dotes inatos
de observação. É também uma boa oportunidade para se receber uma admirável
lição de lógica – a lógica da natureza, onde tudo se encadeia harmoniosamente.
Vem isto, a propósito, dos milhares e milhares de citadinos
que, durante todo ano, frequentam o extenso areal que vai da Costa da Caparica
à Fonte da Telha. Cremos que toda a gente se dá conta do imenso acacial que
antecede a duna primária, mas quantos reparam na complexa sociologia vegetal
que se desenvolve por debaixo dos arbustos? Quantos conhecem essa utilíssima
planta que dá pelo nome de erva-de-são-roberto? E, no entanto, essa planta
medicinal medra aí, na semi-penumbra, em doses industriais que quase daria para
abastecer o mundo. O facto é de que muitas pessoas usam o “chá”, comprando a
erva seca nas ervanárias, mas desconhecem que a respetiva planta vegeta à nossa
volta com o seu odor inconfundível e aparência muito própria que não escapa ao
bom observador.
Vamos então detalhar o Geranium
robertianum L, da família das Geraniáceas,
uma das minhas plantinhas preferidas.
Trata-se de uma delicada erva selvagem que pode atingir 40 cm
de altura. Possui caules parcialmente avermelhados e algo peludos, e folhas
alternas, pentagonais muito recortadas, de pecíolo longo, cuja forma e tamanho
fazem lembrar a salsa. As flores possuem tons rosa-violáceos. As sementes
formam cinco carpelos com extremidades ponteagudas que lembram o bico de um
grou. Por isso, no Brasil, também é conhecida por “bico-de-grou”. Os caules,
muito frágeis, são mais avermelhados junto à raiz e possuem intumescências nos
nós.
A erva-de-são-roberto tem o seu habitat nos terrenos húmidos
e baldios, em lugares sombrios, por todo o país. É muito frequente nas matas,
onde alastra em grandes extensões.
A planta deve ser colhida logo que se encontra em flor. Deve-se
evitar apanhá-la quando existe humidade, dada à sua textura muito tenra que
ocasiona rápida deterioração. Pela mesma razão, a secagem deve fazer-se, com
cuidado, ao abrigo do sol e em lugares secos.
Finalmente, para que serve a erva-de-são-roberto? Pois, para
um nunca mais acabar de moléstias: doenças intestinais, como colites, prisão do
ventre e outras, úlceras de estômago e do aparelho digestivo em geral, dores de
dentes, feridas, doenças da pele, anginas, diabetes, edemas, hemorragias, infeções
oculares, e nefrites. Há até quem a recomende para o tratamento de doenças
cancerosas.
Contém princípios ativos à base de tanino, óleo essencial,
substância amarga, ácidos orgânicos e vitamina C.
Principais propriedades: adstringente, anti-espasmódica,
diurética, hemostática, tónica, vulnerária, etc.
Utiliza-se tradicionalmente a infusão, bastando 15 gramas por
litro de água, dispensando-se a fervura demorada. O reputado Dr. Indiveri
Colucci costumava receitar a erva fresca finamente cortada e misturada com gema
de ovo, tomando o doente esta mistura em jejum. No caso de não se conseguir a
planta em verde, deve seguir-se o mesmo método com a planta seca pulverizada.
Podemos também utilizá-la sob a forma de compressas, lavagens
exteriores, bochechos, em pó e em essência.