1º andamento – da Meditação
Erguido que foi o cruzeiro ao alto
depois que se relembrou o caminho
que vai até à Páscoa e do temporal
da ventania, do escurecer do céu
afinal do retorno indo-europeu
de cruz às costas no Teu sacrifício
e do sofrimento pela ressurreição
almas penadas adiadas na angústia
dos dias que se encolhem e demoram
a revelar mais do que a própria luz
do sol que nos aquece e nos anima
e nos vira para cima, que é todo o lado
nos tempos em que recordamos o Veda
do entorno do sangue pelo dom da graça
dos deuses que nos visitam e ignoram
bebem dos nossos cansaços e só dão
os braços imensos ás preces, aos rogos
aos caídos entre vivos e mortos fomos
e pusemos Cristo e Buda no cataclismo
da Índia, do Tibete ao Japão, em união.
Silêncio.
Aquele jesuíta António de Andrade
passou para lá da verdade, das neves
perpétuas são as horas das pedras frias
das prisões de meditações sem fim
a ideia do vazio de que a mente mente
no fim do dia da tecnologia das velas
à bolina triangular a sina do paraíso
onde afinal, não há bem nem mal
a separação foi uma invenção da queda
de anjos trôpegos de golfadas universais
a expansão contínua infinita das almas
sofrimento que é alegria, na natureza
do dia claro que se segue ao nevoeiro
o quinto império e o espírito santo
en-canto nosso, almejado momento
nirvana e iluminação fraterna do tempo
na misericórdia da guerra e nos desejos
da paz, em que tudo é Um, tudo é assim
sem dualidades no grito dos corpos.
O dia nasceu em paz na tona das águas
o mar que nem bulia feito um espelho
um calmo chão por onde se pode andar
uma oração feita meditação e o ioga
das pernas esticadas, das costas direitas
o fluxo dos fluidos orgânicos nos círculos
dos olhos parados etérea comtemplação
quase nada quase tudo vida parada
calmas vão as mentes e pacíficas são
as ações de não agir que evitam malefícios
proclamação da eliminação do sofrimento.
E então, em que ficamos trindade nossa,
penamos para não penar? Deixamos o mar?
O balanceado enjoo, a fome, o escorbuto
deixamos a canela, as belas sedas, os véus
as curvas das pernas e os seios, a cama
sutra do diamante de meditações tântricas
de divinas mulheres do amor e do amar,
qual a suprema razão de um ser de dor
pelo que deste a vida para nos salvar!?
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