terça-feira, 19 de março de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Belo dia de feriado, com manhã na praia a ler e a brincar com os pardalitos que já nadam ao lado da mãe galinha tão inchada tão inchada que só me admira como não vai ao fundo. 


A frescura do fim da tarde, com caracóis e bailes de andorinhas para enfeitarem a converseta com o Zé sobre a actualidade da politicazinha à portuguesa. 
E os grilares da noite, de acordo com a levitação electro-acústica dos King Crimson empurrando o momento para a eternidade. 



A Matilde lá terá um fim-de-semana prolongado devido ao acto eleitoral do próximo Domingo. 

“-Ó pai, eu posso fazer os trabalhos na segunda-feira.” –Respondeu-me com os olhinhos brilhantes, quando eu lhe perguntei pela melhor ocasião para o cumprimento das obrigações, uma vez que na tarde de hoje esteve na festa de anos do David, um colega de turma e no Sábado terá outra tarde de aniversário de outra colega. 


A propósito da festa de anos do David devo registar que apenas a Margarida e a Matilde compareceram, ainda que o rapaz tenha convidado os amigos da escola e da aula de ginástica. 

A Luísa atribuiu isso à falta de atenção das famílias – eu diria também de educação e de respeito para com os outros – que terão, certamente, preferido o ócio à beira-mar a dar-se ao trabalho de levarem os filhos à casa do amiguinho. 

Só espero que tenha razão. Contudo, receio que a justificação possa residir na cor da pele da família que lhes apresentou os convites. 

Para comparar, esperemos pelo que se irá passar no Sábado. 



Mas agora que o ano lectivo está perto do fim, talvez seja este um bom momento para fazermos um balanço da prestação do pardalito. 


Ora numa palavra só posso escrever que o saldo é francamente positivo. 
Não só todos os objectivos foram atingidos, como a atitude da aluna é adequada ao bom desenrolar do processo de aprendizagem com a vantagem adicional de se tratar de um desempenho orientado pela sua vontade e que em momento algum teve que ser imposto pela Mestra. 

Vejamos então. 

Ao nível do comportamento, ainda que tenham acontecido situações de alguma conversa ou de uma ou outra brincadeira e outros de pouca ou nenhuma atenção e concentração no decurso dos trabalhos, na sala de aula, podemos dizer que em face do reduzido número são excepções a uma normalidade que se traduziu em estar atenta à Professora e aos exercícios propostos, procurando desempenhar as suas funções da melhor maneira possível e de que era capaz. 
Geralmente sossegada e silenciosa em termos disciplinares, manifestou-se em conformidade mas não por consequência, pronta e atenta para o trabalho. 
Como não lhe detectei qualquer pressão em torno da antevisão dos desafios esperados, coisa que ocorreu com a Margarida e a levou a amedrontar-se nos primeiros dias, a Matilde encarou as provas por que passou com toda a naturalidade e, em vez de se questionar sobre as capacidades próprias para as resolver, sempre procurou fazer bem feito o que lhe era solicitado. 

Em síntese, posso assim dizer que no plano dos comportamentos e atitudes enquanto aluna, a avaliação que faço, tanto nos aspectos disciplinares como nos referentes à aprendizagem, tem um sinal claramente positivo. 
Estamos no bom caminho e, pela nossa parte, tudo faremos para que assim continue e como a Professora acompanhará a classe até ao último ano deste ciclo, tudo indica que poderemos esperar tranquilamente que seja desse modo. Sem que deixemos de nos preocupar e estar atentos, creio que um optimismo moderado não será exagero algum. 

Ao nível pedagógico, o conseguido não se fica atrás. 

Já vimos que o moto próprio vai na direcção certa, isto é, a aluna entra na sala predisposta a trabalhar e a aprender. 
Na minha opinião, sendo condição cine qua non – como é que aprende aquele que não quer aprender? – é, como se costuma dizer, meio caminho andado para uma boa absorção das matérias. 

Neste sentido não admira que o meu coraçãozinho já seja capaz de ler e contar e de fazer pequenas contas de somar e subtrair. Escreve sem erros e com uma caligrafia bonita e ordenada e as folhas dos seus trabalhos estão regularmente limpas e apresentáveis. 

Melhor testemunho não há; a minha jogadora de futebol já se esforça por ler os seus próprios livros de histórias ilustradas e outros livros temáticos para a sua idade e é bem sucedida em grande parte dos casos. 


Os pais têm motivos para estarem satisfeitos. 



Al-Sadr continua a chantagear o processo de normalização da vida no seu país. 
Há muito que deveria estar preso. 

Pena que a Europa viva a era dos Vitorinos. 



Bem e por ora me interrompo. 
Amanhã volta a ser dia de trabalho. 


 Alhos Vedros 
  10/06/2004

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