A VERGONHA
Não há palavras que descrevam o grau de subserviência e de indecência a que se chegou nas esferas do poder neste país do homo maniatábilis, agora definitivamente mergulhado no caldo pantanoso dos interesses de grupos cheios de propósitos esconsos.
É caso para dizer que o polvo venceu.
Esta noite, no primeiro dos canais da televisão pública tivemos o corolário da vassalagem a uma personagem que, referindo-se aos concorrentes desportivos do clube de futebol a que preside, falou nada mais nada menos que de inimigos.
Apresentado como modelo de gestão eficaz, foi-lhe dedicado um programa especial em que ele foi a única estrela sem que ali faltasse a unanimidade fascistoide de um bajulador vindo da área desportiva, outro da cultura et, ou não fosse o homem a quem todos obedecem, aussi la politique.
Como é evidente estou a falar de Pinto da Costa, cujas celebradas capacidades já estiveram na base do famigerado totonegócio e de estranhas trocas de terrenos em que o município favoreceu escandalosa e dolosamente o clube, chegando ao ponto de sofrer condenações em tribunais, o homem que há vinte anos disputa as eleições sem concorrência mas com guarda-costas e que está sob suspeita em sórdidos casos de corrupção no universo do futebol, pois foi esta a figura que o jornalismozinho da treta promoveu, com zelo, pelo serão de, quem sabe, milhões de portugueses.
E depois queixamo-nos…
Mas ver o primeiro-ministro a gabar o que de pior podemos imaginar para um país, custa a engolir. É uma dor de alma para qualquer pessoa decente.
Todos têm que beijar-lhe o anel.
A todos ele tem na mão.
No entanto, temo que por baixo do manto das belas palavras com que muito boa gente lambe as botas do chefe, se esconda a velha admiração pelos detentores do poder absoluto, no fundo, o desprezo pelo pulsar democrático que defende o princípio que a cada um cabe decidir o seu destino em contraposição à ideia que há iluminados a quem cabe definir o que é melhor para todos, dado a maioria ignara não ser capaz de o fazer por si.
Há um salazarinho em muitas dessas cabeças que se deleitam com os êxitos de um sujeito como o senhor Pinto da Costa.
A Matilde é engraçada.
Agora que sabe ler e escrever começa a fazer uso disso nas suas brincadeiras e se já dei com ela a ler histórias para os seus bonecos ou a fazer de aluna numa aula imaginária, hoje não contive um sorriso ao atentar num aviso em A4, escrito com a sua letrinha, pedindo o seguinte: “É favor deitar aqui as cascas para não poluir o ambiente”.
E lá estava um recipiente de plástico com os restos da fruta que ela comeu ao almoço.
É este renovar de mundos que os poderes mafiosos acabam por atrofiar.
Portugal não tem concerto
há muito perdeu a tola,
constantemente em aperto
fez-se república da bola.
O termómetro atmosférico subiu nestes dias.
Felizmente, este ano ainda não houve nenhum incêndio florestal de grandes proporções a registar.
Só espero que me venha a enganar, mas se o tempo quente se mantiver nos próximos dias, temo que seja no decurso do Euro 2004 que venhamos a assistir a alguma catástrofe num qualquer ponto da floresta que temos.
Esta manhã os alunos aprenderam os números dezanove e vinte.
“-Ó pai, não sei porque ainda não vimos como se escreve.”
E agora vou-me deitar que o cansaço é muito e a madrugada começa a pestanejar.
Alhos Vedros
08/06/2004
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