quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sobre os resultados da sondagem do Jornal "Público": 87% estão desiludidos com a democracia *


( * Ler artigo do Público AQUI )

O título deste artigo é preocupante, pois convida a confundir a desilusão com os partidos tradicionais, e sobretudo com os que têm estado no poder, com um desencanto com a democracia. Preocupante é também que, perante a actual crise, muitas pessoas, algumas talvez bem intencionadas mas a meu ver pouco esclarecidas, comecem a responsabilizar a existência de partidos, a política e os políticos pelos problemas do país. Ao fazer isto, mete-se tudo no mesmo saco e esquece-se que quem tem dado a maioria dos votos a um certo tipo de partidos e de políticos são os eleitores, precisamente por falta de memória e de consciência política. Defendo que a democracia deve ser cada vez mais participativa e não meramente representativa e que a participação cívica e eleitoral não se deve reduzir a partidos, alargando-se também a movimentos de cidadãos independentes, mas a vivência democrática não se pode fazer sem partidos nem contra os partidos. Um partido é uma associação de pessoas que propõe uma certa visão e organização da sociedade e do mundo que considera melhor para todos e pretender acabar com essa possibilidade é querer acabar com a democracia. E isso, em Portugal, significa regressar ao espírito do golpe militar de 28 de Maio de 1936 que trouxe Salazar e o Estado Novo e não ter aprendido nada com 48 anos de ditadura. O problema em Portugal não é a democracia, mas a falta do seu aprofundamento e da responsabilização cívica dos cidadãos, que têm o hábito preguiçoso e perigoso de esperarem tudo de um chefe que lhes resolva milagrosamente todos os problemas e os dispense de pensar e agir cooperativamente. Mas os partidos tradicionais também têm fortes responsabilidades, pois em vez de cooperarem para o bem comum, têm vivido para a conquista do poder ao serviço das grandes corporações mundiais e das clientelas partidárias ou para o mero boicote da governação sem alternativas credíveis. É preciso ir além de uns e outros e essa é a tarefa de uma nova consciência cívica que não separe a luta pela justiça social da defesa dos direitos de todos os seres vivos e da preservação da Terra. É isso que o momento histórico pede de todos nós: não o fim da democracia, mas o seu aprofundamento numa responsabilização da política humana pelo bem de todos os seres e do planeta.

Paulo Borges
(in, Facebook, Grupo Cultura Entre Culturas, 21/9/12,
http://www.facebook.com/groups/230286389667/permalink/10151187460844668/)

Sem comentários: