( * Ler artigo do Público AQUI )
O
título deste artigo é preocupante, pois convida a confundir a desilusão com os
partidos tradicionais, e sobretudo com os que têm estado no poder, com um
desencanto com a democracia. Preocupante é também que, perante a actual crise,
muitas pessoas, algumas talvez bem intencionadas mas a meu ver pouco
esclarecidas, comecem a responsabilizar a existência de partidos, a política e
os políticos pelos problemas do país. Ao fazer isto, mete-se tudo no mesmo saco
e esquece-se que quem tem dado a maioria dos votos a um certo tipo de partidos
e de políticos são os eleitores, precisamente por falta de memória e de
consciência política. Defendo que a democracia deve ser cada vez mais
participativa e não meramente representativa e que a participação cívica e
eleitoral não se deve reduzir a partidos, alargando-se também a movimentos de
cidadãos independentes, mas a vivência democrática não se pode fazer sem
partidos nem contra os partidos. Um partido é uma associação de pessoas que
propõe uma certa visão e organização da sociedade e do mundo que considera
melhor para todos e pretender acabar com essa possibilidade é querer acabar com
a democracia. E isso, em Portugal, significa regressar ao espírito do golpe
militar de 28 de Maio de 1936 que trouxe Salazar e o Estado Novo e não ter
aprendido nada com 48 anos de ditadura. O problema em Portugal não é a
democracia, mas a falta do seu aprofundamento e da responsabilização cívica dos
cidadãos, que têm o hábito preguiçoso e perigoso de esperarem tudo de um chefe
que lhes resolva milagrosamente todos os problemas e os dispense de pensar e
agir cooperativamente. Mas os partidos tradicionais também têm fortes
responsabilidades, pois em vez de cooperarem para o bem comum, têm vivido para
a conquista do poder ao serviço das grandes corporações mundiais e das
clientelas partidárias ou para o mero boicote da governação sem alternativas
credíveis. É preciso ir além de uns e outros e essa é a tarefa de uma nova
consciência cívica que não separe a luta pela justiça social da defesa dos direitos
de todos os seres vivos e da preservação da Terra. É isso que o momento
histórico pede de todos nós: não o fim da democracia, mas o seu aprofundamento
numa responsabilização da política humana pelo bem de todos os seres e do
planeta.
Paulo Borges
(in, Facebook, Grupo Cultura Entre Culturas, 21/9/12,
http://www.facebook.com/groups/230286389667/permalink/10151187460844668/)
http://www.facebook.com/groups/230286389667/permalink/10151187460844668/)
Sem comentários:
Enviar um comentário