sábado, 7 de fevereiro de 2015

Alecrim




por Miguel Boieiro

A serra da Arrábida é famosa pelas suas paisagens deslumbrantes e pela flora endémica com características específicas do clima mediterrânico e da Macaronésia (regiões insulares do Atlântico-Norte).
No entanto, se quisermos simbolizar numa só planta, toda a pujança florística da serra, cremos que a espécie mais representativa é a Rosmarinus officinalis, vulgarmente conhecida por alecrim.
De facto, o alecrim é espontâneo e profuso na serra da Arrábida, desde o sopé até ao Alto do Formosinho (seu ponto mais elevado). E como se trata de um arbusto perene e aromático, florido em praticamente todo o ano, a sua presença dominadora avassala o visitante.
O alecrim é conhecido e estimado desde os tempos mais remotos. A sua fama entrou nos domínios da lenda. Conta-se que no século XIV, a rainha Isabel da Hungria conseguiu, aos 72 anos, graças a uma mezinha à base de alecrim, fazer-se apaixonar loucamente pelo rei da Polónia.
O cancioneiro popular português coloca a planta num pedestal e até o grande Chico Buarque da Holanda não desdenha “um cheirinho de alecrim” de teor revolucionário, numa das suas cantigas.

Mas vamos à descrição:
O Rosmarinus officinalis é um arbusto da família das Labiadas, com caules lenhosos, ramos flexíveis e folhas pequenas, opostas, lineares, coriáceas e persistentes, cuja face superior é verde e a inferior, branco acinzentado. Chega a atingir dois metros de altura, sobretudo nas zonas mais abrigadas, como é, por exemplo, a vertente sul da Arrábida.
As pequenas flores são azuis claras, algo esbranquiçadas, tomando, por vezes, uma coloração violácea. Possui, como se sabe, um cheiro intenso a cânfora e incenso e um sabor fortemente aromático.
A planta dá-se lindamente em terrenos alcalinos, pedregosos, secos e soalheiros, mas não se importa se lhe derem um solo de horta cheio de húmus, onde cresce facilmente e adquire um verde mais carregado.

Anote-se que a constituição química do alecrim tem muito a ver com a natureza dos solos onde se desenvolve. Basicamente contém de 1,5 a 2,5% de óleo essencial, ácidos orgânicos, cânfora, vitaminas do complexo B, cálcio, magnésio, potássio, ferro, saponósidos e outros compostos.

O infuso de alecrim dá uma bebida estimulante que deve ser evitada por quem tem insónias ou hipertensão. O óleo tem imensas aplicações, sendo utilizado em tratamentos de aromaterapia, produtos de beleza (lembrem-se da tal rainha da Hungria), “aftershaves”, saunas e outros banhos de vapor.
São conhecidas as suas propriedades como espécie expectorante, antibacteriana, digestiva, antisséptica, tónica e excitante.
É recomendado para fadiga, dor de cabeça, má digestão, gases, bronquite, sinusite, gastrite, reumatismo e fortalecimento da memória.
Para as inflamações da garganta deve deitar-se uma chávena de água a ferver sobre 4 gramas da planta, deixando repousar durante 10 minutos. Beber três chávenas por dia a seguir às refeições.
Para o reumatismo, deitar na água do banho um infuso concentrado de 50 gramas para um litro de água.

Resta acrescentar que o alecrim é também usado em culinária, na perfumaria e na topiária (jardins ornamentais). O mel proporcionado pelas flores de alecrim é altamente conceituado pelas suas superiores qualidades terapêuticas.

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