por Miguel Boieiro
A serra da Arrábida é famosa pelas suas
paisagens deslumbrantes e pela flora endémica com características específicas
do clima mediterrânico e da Macaronésia (regiões insulares do Atlântico-Norte).
No entanto, se quisermos simbolizar numa só
planta, toda a pujança florística da serra, cremos que a espécie mais
representativa é a Rosmarinus officinalis,
vulgarmente conhecida por alecrim.
De facto, o alecrim é espontâneo e profuso na
serra da Arrábida, desde o sopé até ao Alto do Formosinho (seu ponto mais
elevado). E como se trata de um arbusto perene e aromático, florido em
praticamente todo o ano, a sua presença dominadora avassala o visitante.
O alecrim é conhecido e estimado desde os
tempos mais remotos. A sua fama entrou nos domínios da lenda. Conta-se que no
século XIV, a rainha Isabel da Hungria conseguiu, aos 72 anos, graças a uma
mezinha à base de alecrim, fazer-se apaixonar loucamente pelo rei da Polónia.
O cancioneiro popular português coloca a
planta num pedestal e até o grande Chico Buarque da Holanda não desdenha “um
cheirinho de alecrim” de teor revolucionário, numa das suas cantigas.
Mas vamos à descrição:
O Rosmarinus
officinalis é um arbusto da família das
Labiadas, com caules lenhosos, ramos flexíveis e folhas pequenas, opostas, lineares,
coriáceas e persistentes, cuja face superior é verde e a inferior, branco
acinzentado. Chega a atingir dois metros de altura, sobretudo nas zonas mais
abrigadas, como é, por exemplo, a vertente sul da Arrábida.
As pequenas flores são azuis claras, algo
esbranquiçadas, tomando, por vezes, uma coloração violácea. Possui, como se
sabe, um cheiro intenso a cânfora e incenso e um sabor fortemente aromático.
A planta dá-se lindamente em terrenos
alcalinos, pedregosos, secos e soalheiros, mas não se importa se lhe derem um
solo de horta cheio de húmus, onde cresce facilmente e adquire um verde mais
carregado.
Anote-se que a constituição química do
alecrim tem muito a ver com a natureza dos solos onde se desenvolve.
Basicamente contém de 1,5 a
2,5% de óleo essencial, ácidos orgânicos, cânfora, vitaminas do complexo B,
cálcio, magnésio, potássio, ferro, saponósidos e outros compostos.
O infuso de alecrim dá uma bebida estimulante
que deve ser evitada por quem tem insónias ou hipertensão. O óleo tem imensas
aplicações, sendo utilizado em tratamentos de aromaterapia, produtos de beleza
(lembrem-se da tal rainha da Hungria), “aftershaves”, saunas e outros banhos de
vapor.
São conhecidas as suas propriedades como
espécie expectorante, antibacteriana, digestiva, antisséptica, tónica e
excitante.
É recomendado para fadiga, dor de cabeça, má
digestão, gases, bronquite, sinusite, gastrite, reumatismo e fortalecimento da
memória.
Para as inflamações da garganta deve
deitar-se uma chávena de água a ferver sobre 4 gramas da planta, deixando
repousar durante 10 minutos. Beber três chávenas por dia a seguir às refeições.
Para o reumatismo, deitar na água do banho um
infuso concentrado de 50 gramas para um litro de água.
Resta acrescentar que o alecrim é também
usado em culinária, na perfumaria e na topiária (jardins ornamentais). O mel
proporcionado pelas flores de alecrim é altamente conceituado pelas suas
superiores qualidades terapêuticas.
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