sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Herdade de Rio Frio, por Fernanda Gil

4 comentários:

Gil disse...

O processo de colonização da zona de Pinhal Novo teve início com a Casa Ferreira Braga São Romão, cujo proprietário mandou plantar um pinhal entre a actual estação de caminho-de-ferro e Rio Frio, assim como uma vinha com olival entre Lagoa da Palha e Valdera.

Após a morte de Manuel Gomes da Costa S. Romão, José Maria dos Santos (1832-1913) casa com a sua viúva, Maria Cândida Ferreira Braga S. Romão, dando seguimento às inovações agrícolas preconizadas pelo falecido. Deputado, par do reino, Director do Banco de Portugal na década de 60, fundador e dirigente da Real Associação Central de Agricultura Portuguesa e considerado o maior latifundiário da Europa nos finais do séc. 19, J. M. dos Santos possuía 40.000 ha de terras.

Mandou plantar seis milhões de videiras, numa altura em que a produção estava em crise. Ganhou a aposta, mas aquela que foi a maior vinha do mundo foi dando lugar ao montado de sobro, imagem que ainda permanece.

Em 1904, o número de trabalhadores desta herdade atingiu os 3.000.

Na época do apogeu das actividades agrícolas e industriais, chegaram a produzir-se 30.000 sacos de arroz diariamente.

O núcleo urbano, concebido para dar apoio à maior vinha do mundo na altura, era constituído por adegas, destilaria de aguardente, instalações de descasque de arroz, cavalariças e recinto de treino hípico, picadeiro, casa de coches, Capela de Nossa Senhora da Conceição, habitações de trabalhadores, mercearia, barbearia, veterinário, escola primária (Externato Santos Jorge), Hospital (espaço que inclui cozinhas, enfermaria, laboratórios para análises, maternidade e farmácia), infantário, posto de saúde, sociedade recreativa, serração e carpintaria, moagem, fábrica de rações e respectivos celeiros, mercearia, barbearia, padaria (devoluta), refeitório para trabalhadores, oficina, vacarias, armazéns, depósito de água, posto de G.N.R., uma caserna e um quartel dos Beirões, e uma fábrica de tijolos e telhas com a marca local, de Rio Frio.

Muitas destas construções encontram-se actualmente devolutas e até destruídas ou desaparecidas, embora o Palácio de Rio Frio esteja recuperado e uma parte a funcionar como pousada/hotel, e muitas das habitações (numa organização octogonal, em ruas e bairros), ainda estejam ocupadas, assim como a Sociedade Recreativa.

O Palácio de Rio Frio foi mandado edificar por António Santos Jorge, sobrinho do grande latifundiário português (o que justifica a primeira designação de "Palácio Santos Jorge"), em 1909, com projecto do arquitecto José Ribeiro Júnior. São particularmente destacáveis as decorações com azulejos (exteriores e interiores), da autoria de Jorge Colaço, com motivos alusivos ao ciclo do vinho e às lides agrícolas.

Dada a inexistência de descendentes, seriam os seus sobrinhos que viriam a herdar esta peça arquitectónica de elevado valor, que actualmente pertence a Maria de Lourdes Lupi d'Orey.

A antiga serração (actual carpintaria), a carpintaria, o restaurante "Rédea Solta" na antiga Casa dos Coches, a Mercearia, a Barbearia, o Veterinário, a oficina, as adegas "Rio Vinhos", o complexo da antiga Moagem, da Fábrica de Rações, durante os anos 80, e dois dos antigos celeiros da Moagem encontravam-se em actividade mediante um aluguer.

Francisco Garcia, o actual proprietário de grande parte da Herdade, adquiriu-a há cerca de dez anos com a intenção de formar um complexo agro-industrial. Organizou a Casa Agrícola de Francisco Ribeiro Prata, a Garcia S.A. e a Sociedade Agrícola de Rio Frio. Grande parte dos vinhos da Região de Palmela são produzidos nas castas de Rio Frio, para orgulho dos 150 trabalhadores que trabalham e vivem na Herdade. Actualmente existem cerca de 300 habitantes na herdade, distribuídos pelas cerca de 150 habitações.

Fontes: NAER; CM Alcochete, “História do concelho”; Pedro Pereira Leite, “Memórias da Herdade de Rio Frio”; Miguel Caetano, “Lupi de Rio Frio”

A.Tapadinhas disse...

Aníbal: Recomendo-te como interessado nestes assuntos da caramelândia.

Abraço,
António

Antonio gonzalez disse...

Estou encantado com este conto/documentário/poema sobre a vida de tanta gente que ali sonharam numa vida melhor. E hoje é ruina...tal como todos esses sonhos. Obrigado pelas emoções que nasceram no saborear destas imagens magníficas. António González

Gil disse...

Obrigada, amigo Gonzalez. Apesar de gostar de gostar de fazer estes pequenos documentários, dá-me sempre tristeza ver tanta vida destruídas, por vezes (como é este caso) em muito poucos anos...