quinta-feira, 30 de abril de 2015

“Máscara Virtual Do Eterno Estar E Ser”


Trago uma máscara preta…
Vou a caminho da iniciação
Tremem-se-me as pernas e o Mundo
Vejo campos de rosas em botão
Umas abrem-se à minha passagem
Sinto o perfume mágico entrar-me nas narinas
Meus pensamentos ficam bem cheirosos…

Subo ao topo do Monte Pico…
O Portal da Atlântida abre-se-me aos pés
Entro na antecâmera leve que nem pena
Envolvo-me de uma aura arco-íris
Penetro na chama etérea do Templo da mente
Auto abençoo-me de luz perante o altar
Algo se me renova por completo no interior

Minha alma é una com a Cósmica
Realizo ser eu junto com o resto e Ela um só
Nunca fui ou serei separado Dela
Sou igualmente reflectido e omnipresente
Estou em todo o lado e ao mesmo tempo
O meu eu só existe em Sua essência
No vértice da pirâmide sou e estou Nela eternamente…


Escrito em Luanda, Angola, a 26 de Abril de 2015, por Manuel de Sousa, em Homenagem ao conjunto Alma Humana Alma Cósmica e a todo o Essencial Vital e Espiritual Inteligente Universo Cósmico…

quarta-feira, 29 de abril de 2015




Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
5 de Maio, 18:30
Dando continuidade a um encontro e diálogo com vários séculos – onde a cultura portuguesa foi pioneira - e particularmente vivo na actualidade, José Tolentino de Mendonça e Paulo Borges estarão juntos neste evento onde um cristão comentará um texto budista e um budista um texto cristão, em torno do tema do despojamento espiritual radical.
José Tolentino de Mendonça falará sobre o texto do mestre Lin-Tsi (séc. IX), fundador da escola Rinzai do budismo Ch’an: "Adeptos, quereis ver as coisas em conformidade com o Dharma? Guardai-vos apenas de vos deixardes extraviar pelas pessoas. Tudo o que encontrardes, no exterior e (mesmo) no interior de vós mesmos, matai-o. Se encontrais um Buda, matai o Buda! (...) É esse o meio de vos libertardes e de escapardes à escravatura das coisas; é essa a evasão, essa a independência!"
Paulo Borges falará sobre o sermão 52 de Mestre Eckhart (sécs. XIII-XIV), teólogo, filósofo e pregador dominicano, que tem pontos culminantes nas súplicas: “Por isso rogamos a Deus ser livres de Deus e receber a verdade e dela fruir eternamente aí onde os anjos mais elevados, a mosca e a alma são iguais, aí onde eu estava e queria o que era e era o que queria”; “Por isso rogo a Deus que me livre de Deus; pois o meu ser essencial está acima de Deus, na medida em que concebemos Deus como origem das criaturas”.
O moderador será o Professor Carlos João Correia e o encontro terá lugar no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no dia 5 de Maio, às 18h 30m. A entrada é livre.
José Tolentino de Mendonça é sacerdote católico, teólogo e poeta. É vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa e responsável pelo Centro de Estudos de Religiões e Culturas Cardeal Höffner da Universidade Católica Portuguesa. Tem vasta obra, onde recentemente se destacam A Papoila e o Monge (haikus, 2013) e A Mística do Instante. O tempo e a promessa (2014).
Paulo Borges é professor de Filosofia da Religião e Pensamento Oriental no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cofundador e ex-presidente da União Budista Portuguesa (2002-2014), codirector da revista Todo o Mundo ENTRE Ninguém e presidente do Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e ética inspirada no mestre budista Thich Nhat Hanh. Entre a vasta obra destacam-se, neste contexto, Descobrir Buda. Estudos e ensaios sobre a via do Despertar (2010) e O Coração da Vida. Visão, meditação, transformação integral (2015).

Organização: Grupo de Investigação de Filosofia Prática do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, com o apoio do Círculo do Entre-Ser, da União Budista Portuguesa e do Centro de Estudos de Religiões e Culturas Cardeal Höffner da Universidade Católica Portuguesa.

terça-feira, 28 de abril de 2015

FANTASIANA E OUTROS LUGARES

OS AMIGOS DO QUINTAL


JOANINHA VOA, VOA...


“Joaninha voa, voa 
Que teu pai está em Lisboa” 
Cantava a Aninhas 
Olhando as joaninhas 
Que passeavam 
Às bolinhas 
De seus vestidos vermelhos. 
A Joaninha abriu asas 
E poisou no cabelo da menina. 
- Mãe, mãe, chamou a Aninhas, 
Vem ver meu travessão... 
Era a joaninha que gostava muito da Aninha!

segunda-feira, 27 de abril de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (129)


Porto Casa Amarela, Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tel 100x85cm

Sobre esta tela, um meu amigo, disse-me que gostava de toda a composição, que tinha muita vida, mas que não gostava do destaque da casa amarela: sentia que era demasiado agressiva. Respondi-lhe que era esse exactamente o objectivo que pretendia: a casa estava colocada na zona da tela a que os clássicos chamam de secção de ouro, para favorecer no quadro o seu aspecto tridimensional ou a sua profundidade: há casas que nos parecem mais próximas e outras mais afastadas, embora saibamos da bidimensionalidade da tela.
O azul forte do céu e do rio, contrasta com o quase monocromatismo que utilizei, deliberadamente, para destacar as janelas que povoam todo o conjunto, sugerindo pessoas que apenas se adivinham, se sentem...
Termino com o “pedido de desculpas” do meu amigo. Quando visitou o Porto, passou na Ribeira e viu ao vivo a Casa Amarela: Estava lá, onde eu a tinha pintado e destacava-se de todo o conjunto, pela sua vibrante cor!

domingo, 26 de abril de 2015



MIRADOURO 16 / 2015

(esta rubrica não respeita as normas do acordo ortográfico)


LEMA


Cantar
mesmo se com voz dorida,
olhar
mesmo se de olhos cansados,
pensar
mesmo que a cabeça lateje
e sentir
ainda e sempre como a primeira vez
e o coração a distender-se no movimento.
Para
que o entusiasmo não esmoreça
ainda que o caminho possa interromper-se
abruptamente em abismo. 
Porque,
desistir não podemos.


    
                                                Manuel João Croca


Foto: Joana Croca

sábado, 25 de abril de 2015


ESPERANÇA


De Abril a Maio, ouve-se o povo gritar.
É a esperança! É o sonho do bem-estar.
Para traz, ficou o que não deixou saudade,
Procurando no futuro a felicidade.
Quantos e quais foram os sonhos que projectastes?
Que vida foi a tua, e o que não realizastes?
Sonhar sempre para que o futuro fosse radioso,
Procurando esquecer o momento mais pesaroso.
Que importa a tristeza de uns, se existe alegria:
Sinto prazer, não existe tristeza!... Que bom seria.
Como se na vida não houvesse contrariedades;
E tudo em si fossem só verdades.
Outros maios e abris foram atravessando.
Uns mais do que outros foram extravasando.
Percorrendo trilhos sem parar,
O importante é… No dia-a-dia lá chegar.
Nasce um dia, outro está chegando.
Que raio de vida é esta que nos vai torturando.
O sol quando nasce é para todos!...Que bom seria.
É pura ilusão… E os que têm fome e não têm alegria.
Cuidado!... Olha bem de frente.
O que vês e ouves, é sempre da mesma gente.
Como se esta fosse a única verdade.
Não te iludas… Encara a realidade.


José Ramos
22-04-2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O QUE ARTE CURA


Queridos amigos e amigas, no âmbito do trabalho que já há muito tempo venho desenvolvendo, envio-vos esta proposta que ocorrerá no sábado dia 9 de Maio, em Lisboa, para o caso de sentirem vontade de partilhar com algumas das vossas amizades ou contactos esta celebração poética em redor do corpo, chão e pés. Na literatura, no símbolo, na vida. A escrita e a literatura enquanto acto de criação, inspiração, consciência e cura.

Com um abraço



Ao menos por um dia, ajoelhemo-nos aos pés dos nossos pés. Enquanto pessoas, enquanto povo.
Como arquétipos, os pés humanos estão feridos pela queda. Pela ferida perdem energia.
Os pés são o lugar da ferida e da redenção. Porque é sempre na nossa ferida que se encontra a nossa cura.
Vamos andar em torno dos pés. Na Fundação S. João de Deus. Em Lisboa, na Av. Júlio Dinis.
É na infância que podemos recuperar ou mesmo resgatar os nossos pés. Que é o mesmo que dizer: a ligação à Mãe, à Terra, à Origem ao Todo. O ser íntegro.
Os poetas são um precioso veículo para fazer essa viagem porque ainda são, de todos, os que mais próximos se mantêm do universo da criança.
"- Agora estou a crescer como se fosse o maior dos telescópios! Adeus, pés! - (pois quando olhou para os pés mal os viu, de tão longe que estavam).
- Oh, meus pobres pezinhos! Quem irá agora calçar-vos as meias e os sapatos, meus queridos? Tenho a certeza que não serei eu! Estarei demasiado longe para me preocupar convosco. Têm de arranjar-se de qualquer maneira.
«Mas tenho de ser amável para com eles», pensou Alice, «senão não andam como eu quiser! Ora bem, ofereço-lhes um par de botas novas para o Natal.»
E continuou a fazer planos. «Têm de ir pelo correio», pensava, «e como vai ser divertido mandar presentes aos próprios pés! Como os endereços parecerão esquisitos!»
Excelentíssimo Senhor Pé Direito de Alice
Tapete da lareira
Junto do Guarda-Fogo
(com um beijinho da Alice)
[...]

in: Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll

R

quarta-feira, 22 de abril de 2015

700 Refugiados naufragados no Mediterrâneo


Drama dos Refugiados - Um Problema sem Solução?

António Justo

As notícias catastróficas sobre refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo para a Europa multiplicam-se de dia para dia; o número  de naufragados subiu, esta última semana, já para mais de mil.

Segundo a agência da ONU para refugiados do ACNUR, deu-se agora (19.04.2015) a maior tragédia no Mar Mediterrâneo com refugiados. A 10 km da Líbia afundou um arrastão com 700 pessoas a bordo, dos quais apenas 28 puderam ser salvos.
Dias antes, segundo a organização de ajuda humanitária Save the Children tinha naufragado já um navio ao largo da costa da Líbia, com 560 refugiados/imigrantes. A Guarda Costeira italiana ainda conseguiu salvar 144 dos naufragados.
Desde o início deste ano, já foram salvos 19.000 imigrantes.

Operações de salvação de imigrantes/refugiados - Mare Nostrum e Frontex
Em Novembro de 2014, a Itália deu por finda a operação (“mare nostrum”) de salvação de migrantes vindos das costas da Líbia” e iniciada depois do naufrágio de Lampedusa onde morreram 400 imigrantes líbios em Outubro de 2013. Esta operação italiana custou 114 milhões de euros e conseguiu salvar 150 mil vidas em perigo de naufragar no mediterrâneo.

Para poupar dinheiro e para, alegadamente, não facilitar o trafego dos traficantes contrabandistas de refugiados e para não se tornar num incentivo para outros refugiados, a UE não continuou a missão salvadora “mare nostrum”, criando, em vez dela, uma patrulha (“Triton”) a operar no alto-mar mediterrânico que faz o rastreio de barcos (impedir barcos ilegais e salvar pessoas). A Marinha dos estados membros e a Agência de Patrulha de Fronteiras (Frontex) só podem operar no âmbito de 30 milhas náuticas das fronteiras da UE, o que facilita a vida aos traficantes de imigrantes/refugiados.

Entre os Estados membros não há acordo em criar estratégias mais eficientes atendendo também à situação mercantil com os refugiados e aos concorrentes interesses e compromissos históricos dos diferentes países europeus em relação a África. (A Inglaterra não participa na Frontex).

Por outro lado, uma política de distribuição equitativa dos imigrantes pelos diferentes países membros revelar-se-ia injusta. A agravar a situação está o facto de a grande maioria de imigrantes serem muçulmanos e estes se organizam em guetos que se definem, geralmente, na autoafirmação e contraposição em relação à cultura não muçulmana. Por um lado, os imigrantes/refugiados trazem sangue novo e contribuem para o rejuvenescimento de uma Europa já envelhecida, por outro trazem imensos custos, a curto prazo, no que respeita a medidas de alojamento, formação escolar, profissional e de integração no mundo social e laboral.

A UE encontra-se dividida entre o combate às organizações de tráfico (quadrilhas de contrabando) que fomentam o trafego com refugiados cobrando entre 4.000 e 7.500 Euros por pessoa, pela sua passagem para a Europa, em condições míseras e desumanas, e o regime jurídico a aplicar: as autoridades europeias têm dúvidas sobre a definição do estatuto dos refugiados que se for de ordem económica, não dá direito a asilo, e se for de ordem política implica o direito a asilo no país onde aportarem.

Esta nova catástrofe motivou a intenção de criar novas iniciativas a nível europeu. Neste sentido pensa-se na extensão da missão de salvação “mare nostrum” a nível europeu e a medidas nos países costeiros africanos. “Mare nostrum” tinha a vantagem de detectar o perigo nas zonas costeiras da Líbia.

Muitas das famílias dos refugiados/imigrantes vivem em situações críticas no que respeita à segurança, à corrupção das autoridades da alta jerarquia e a dificuldades económicas e por isso procuram enviar os seus jovens mais robustos para a Europa para que, uma vez que tenham um lugar de trabalho, possam enviar dinheiro para elas.
As nações e a ONU enviam bastante dinheiro para projectos de desenvolvimento e de infraestruturas mas, como não há controlo, muito do dinheiro é desviado, enquanto projectos pequenos, a nível regional de Autarquias, Aldeias, no dizer de Cap Anamur, são eficientes: “à medida que se sobe na jerarquia aumenta a corrupção”.

Rotas dos refugiados ilegais
Segundo menção da imprensa alemã, as rotas de proveniência da maior parte dos refugiados ilegais, em 2014, foram: Europa de Leste com 1.270 refugiados (vindos do Vietnam, Afeganistão e Geórgia), Europa do Sul com 43.360 refugiados (do Kosovo, Afeganistão e Síria), Grécia com 8.360 (da Albânia, Macedónia e Geórgia), Mediterrâneo Oriental com 50.830 refugiados (da Síria, Afeganistão e Somália), Canárias com 275 refugiados (de Marrocos, Guiné e senegal), Mediterrâneo Ocidental com 7.840 refugiados (dos Camarões, Algéria e Mali) e Mediterrâneo Central com 170.760 refugiados (da Síria, Eritreia e Somália).

A esperança desesperada tenta a ilegalidade como meio para melhorar a vida. Fogem do Iraque, da Síria, da Líbia, do Afeganistão, do Iémen, de Marrocos, de Mali, etc. Fogem à guerra, à injustiça e à pobreza. Explorados por quadrilhas traficantes, vêem a sua vida ameaçada até atingirem a cortina europeia da Itália, Grécia, Bulgária ou Espanha. Chegados a um país europeu vêem-se confrontados com burocracias e costumes estranhos bem como com o receio de parte da população dos países de recepção que vêem a sua identidade cultural ameaçada e as finanças das comunas sobrecarregadas.

Devido à contínua afluência de refugiados à Alemanha já se observam actos de vandalismo contra casas que são preparadas para a recepção de refugiados e uma crescente oposição de grupos que se manifestam contra políticos que a nível local tomam iniciativas de criar lugares de alojamento para refugiados. Por outro lado assiste-se na população alemã a uma grande participação em medidas de ajuda concreta a refugiados.

Para não se sobrecarregar a sociedade com problemas de integração a sociedade acolhedora terá de garantir o sucesso aos refugiados que encontrem guarida entre nós, indo de encontro às suas necessidades humanas, nos diferentes níveis de acolhimento. Por outro lado os migrantes muçulmanos terão de mostrar mais vontade de respeitar a mentalidade dos países acolhedores não se rebelando contra a integração.

Num barco saído da Líbia (14.04.2015), com 105 imigrantes, tripulantes muçulmanos lançaram 12 cristãos ao mar, encontrando-se agora 15 dos prováveis assassinos (da Costa do Marfim, Mali e Senegal) a contas com a justiça italiana em Palermo. A realidade ultrapassa a nossa fantasia: no mesmo barco, na procura de salvação em terras cristãs, imigrantes muçulmanos perseguem companheiros cristãos em nome da sua religião! Em casas para refugiados na Alemanha tem havido contendas entre refugiados que se agridem devido à sua diferença religiosa.

Muitos africanos passaram o primeiro colonialismo na sonolência e agora como imigrantes têm medo de ser colonizados pelo ocidente civilizado. Antigamente os "chefes" forneciam escravos à Europa em troca de algum dinheiro e hoje fornecem-nos matéria-prima deixando os seus cidadãos passar mal.

Combater as causas e não apenas as consequências da catástrofe humana, será a grande tarefa da UE, procurando fomentar perspectivas de vida digna nos seus países de origem e criando um ambiente favorável à integração dos hóspedes chegados. Sem uma abertura mútua entre hóspedes e hospedeiros acumular-se-ão problemas e criar-se-ão situações futuras perigosas para toda a população.

António da Cunha Duarte Justo
Jornalista


terça-feira, 21 de abril de 2015

FANTASIANA E OUTROS LUGARES

PENSAVERSANDO


PASSA A VIDA NUM AI


Por meus olhos cerrados 
Vagueiam mil vozes, 
Dispersas aos quatro ventos 
Cruzam-se mares e terras 
Sentem-se vidas 
Sete vezes perdidas 
Sete vezes abraçadas.

Por meus olhos abertos 
Passa a vida num ai, 
Pela mão de um fio, 
Nos braços de um papagaio azul.

Sinto que passo 
Sinto-me escoar 
Por entre os fios do tempo.

Nada fica.

Nada permanece. 
Sinto-me areia 
Da praia 
Varrida pelas ondas, 
Sempre pronta a receber, 
Sempre pronta a deixar-me absorver...

E sempre pronta a renovar-me 
Em cada acto de escrita... de reescrita...

Gostaria de ser assim, 
Como sou e me sinto: 
Um viajante 
Das palavras 
Das vidas que me rodeiam 
Do meu tempo e do meu espaço.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (128)

Estudo Conforme o Retrato do Papa Inocêncio X realizado por Velazquez,

 Autor Francis Bacon, 1953, Óleo sobreTela, 153x118cm   

                                                                                                                         Breviário Rústico – 33
“-Santidade!” -disse o camarlengo ao Papa Francisco - “ela afirmou que eles têm os cofres cheios e depois o chefe confirmou isso com todas as letras!”“-Hum…” – disse o Papa –“E o que diz São Lourenço disso?”“-Santidade, São Lourenço diz que não se entende com aquela contabilidade criativa.”“-Mas a que propósito me vens tu falar disso agora?”“-É que, Santidade, há aquela contazinha antiga, do tempo do Vosso antecessor Lúcio II; as tais 4 onçazinhas de oiro do tal Afonso Henriques, que era um bocadinho intempestivo.”
Aníbal Guerreiro de Sousa

domingo, 19 de abril de 2015


MIRADOURO 15 / 2015
(esta rúbrica não respeita as regras do acordo ortográfico)


Pensamentos Vagabundos

Do tempo que passa e passou restam memórias. Recordações que nos visitam e que conotamos em função do estado do tempo que interiormente medra.
Umas vezes, gratidão pelo vivenciado, outras, frustração pelo desperdiçado.
Lembramos frequentemente pessoas importantes nas nossas vidas.
As mais importantes.
Aquelas que nos são inquestionáveis
Todos “temos” pessoas assim.
Algumas já não estão por cá e são-nos inacessíveis.
Com algumas, comungámos respiração e sonhos, realizámos projectos, construímos amor na harmonia possível dos dias partilhados. Com outras, talvez nem tanto e daí a sensação insuportável de falha. De que algo, talvez não fundamental mas seguramente importante, ficou por declarar, algo que se não chegou a manifestar em toda a sua extensão e que decerto se justificava.
Parece que é mais fácil e infalível a transmissão de aversões do que a declaração de amores.
No amor falha-se mais.
Não deveria ser mas, parece que é.

                                                                                                               Manuel João Croca



sexta-feira, 17 de abril de 2015

Xiquitsi - Música Clássica de Maputo



 Coro e Ensemble Xiquitsi - Para ouvir clique na imagem


O projecto Xiquitsi é um dos projetos administrados pela Kulungwana, a  Associação para o Desenvolvimento Cultural, que foi adquirindo ao longo dos anos a necessária experiência para gerir projetos em diversas áreas de atividade cultural. Com apoio financeiro do Reino da Noruega, dos patrocinadores e das receitas próprias tem conseguido levar a cabo interessantes e diversificados projetos.

Conta para o efeito com uma Direção Executiva e respectiva assistente e pessoal na área de acolhimento e contabilidade que asseguram a atividade corrente dos projetos. No site da Kulungwana (www.kulungwana.org.mz) podem ser conhecidas as atividades desenvolvidas ao longo dos anos.

A Kulungwana organizou desde 2005, oito edições do Festival Internacional de Música de Maputo. A música clássica e o jazz acústico foram os géneros musicais privilegiados.

Entre 2005 – 2012 os festivais que reuniam músicos internacionais e nacionais permitiram um intercâmbio importante e criaram a oportunidade para o público jovem em particular, conhecer de perto um género musical e instrumentos menos divulgados em Moçambique. O acolhimento do público e estudantes tem sido muito positivo e as solicitações de promover este tipo de evento ao longo do ano, tem vindo a crescer.

Nossos aplausos para este projeto. E amiga Zé continue a dar-nos conhecimento sobre as ações da  associação Kulungwana. Isto, sim, é lusofonia.

Saudações,
Margarida Castro 
(in, Diálogos Lusófonos)


quinta-feira, 16 de abril de 2015

MARGENS DA VIDA
Uma composição poética feita poema da semana que nos convida a reflectir sobre a nosso percurso terreno que poderá ver e ouvir nos seguintes links:

versão declamada:
http://www.euclidescavaco.com/Poemas_Ilustrados/Margens_da_Vida/index.htm

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Apontamentos Políticos


Duas Teorias Renascentistas: Maquiavel e Thomas More


Nicolau Maquiavel

Florença, pintada por Canaletto,
 e Maquiavel em pintura de Borgo Sansepolcro, século XVI.

Um dos representantes das novas ideias políticas é Nicolau Maquiavel cujo pensamento se apresenta como um produto típico do Renascimento. Nasceu em Florença, em 1469. O seu livro mais importante para a história do pensamento político é “O Príncipe”, publicado em 1513.

Neste livro, ele propõe-se procurar “qual é a essência dos principados, quantas espécies de principados existem, como se adquirem, como se mantêm e porque se perdem”. Mais concretamente, em relação aos principados italianos, ele procura definir as condições de que depende a ordem e de como é possível estabelecer um Estado estável que era coisa difícil de conseguir nos tempos que corriam.

A sua proposta sobre o poder político, onde se louva a arte da guerra, pois que o homem é “mau por natureza”, é que uma vez alcançado devia ser assegurado sob quaisquer circunstâncias. Para ele, a manutenção do poder é a verdadeira essência da política. Antes de um comportamento ético deverá estar a astúcia do “príncipe”, que deve ser capaz de tomar a decisão certa na altura certa em relação a forças antagónicas que constituem aa sociedades humanas. Assim, a religião ou a moral deverão constituir, antes de mais, instrumentos políticos face à necessidade de manutenção do poder. Nele, o "príncipe", o monarca, confunde-se com o próprio estado e a sua proposta passa por uma inteira centralização do poder, um sistema político designado de "absolutismo monárquico".

Maquiavel é considerado um dos fundadores da Ciência Política. Depois de Aristóteles é ele quem avança mais um passo no desenvolvimento desta ciência, pois ele tenta analisar o que as sociedades são, em vez do que deveriam ser. Embora tenha contribuído para o desenvolvimento da ciência política, alguns autores de espírito mais humanista referem-se às suas ideias como sendo, antes, por razões óbvias, um passo atrás.

Como é sabido Maquiavel(ico) ficou na linguagem corrente como sinónimo de sistema de ação que usa da velhacaria, da perfídia e da astúcia, para atingir os seus fins, sem se preocupar com os meios que utiliza. Mas há muito quem se refira ao exagero da adjetivação, pois que paralelamente à necessidade de preservação do poder, havia que tomar decisões que zelassem pelo equilíbrio do estado e pela sua coesão social Esta ambivalência de princípios é designada nele pela “crença na dupla moralidade”.


 Thomas More

Execução de Thomas More
pintura de Antoine Caron (séc. XVI).

Um outro nome do Renascimento muito importante para o desenvolvimento das ideias políticas é Thomas More que, todavia, se situa nas antípodas da maneira de pensar de Maquiavel.

Nasceu em Londres em 1478 e a sua principal obra é “A Utopia”. Morreu no cadafalso por se ter recusado a repudiar a chefia espiritual do pontífice, tal como exigia Henrique VIII. A Igreja Católica acabou por lhe prestar justo reconhecimento ao canonizá-lo em 1935.

Para além de um crente fervoroso era um incondicional humanista. As suas principais influências encontram-se em Platão e Santo Agostinho. Embora ao descrever esta sua obra não faça referências ao Evangelho, as preocupações morais do humanismo cristão estão sempre presentes e levam-no a criticar duramente os problemas políticos do seu tempo. Ele vê o homem como um sujeito capaz do bem, onde a mãe natureza trata todos por igual, e as sociedades humanas com possíveis reinos de paz, onde a guerra deveria ser evitada a todo o custo.

A descrição da sua “Utopia” é precedida de um diálogo em que More faz crítica à organização social do seu tempo: os príncipes só pensavam na guerra, preocupando-se pouco com a administração dos Estados sob seu domínio. A organização política da sociedade revelava inúmeros problemas, onde um número excessivo de nobres e ociosos, com as suas clientelas, viviam à custa do trabalho dos outros; tal como se verificava também a existência de um grande número de mendigos que também nada produziam. Em França e em Inglaterra, o cenário era idêntico.

A Utopia, cuja primeira edição é publicada em 1516 e ainda hoje constitui obra muito referenciada, representava uma proposta alternativa à realidade vigente. More descreve uma ilha imaginária que apresenta um Estado e organização social perfeitos. No fundo uma sociedade absolutamente igualitária, de produção coletivista, com costumes, instituições e leis iguais, onde, numa expressão, “tudo é de todos”. Constitui com “A Cidade Bela” de Platão, as primeiras propostas de sociedades comunistas da história.


Luís Santos

terça-feira, 14 de abril de 2015

FANTASIANA E OUTROS LUGARES

OS AMIGOS DO QUINTAL


O CÁGADO E A LUA

No fundo do poço
O Cágado Vagaroso
Nada, nada sem parar...
À noite, passa o tempo
A brincar...
É que a sua amiga Lua
Nas suas águas vem descansar!

segunda-feira, 13 de abril de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (127)

Fulgurante como mil sóis, António Tapadinhas, 2008
Acrílico sobre Tela, 40x50cm

Rómulo de Carvalho, poeta, pedagogo, historiador de ciência e educação, licenciado em Ciência Físico-Químicas, professor, que conheci na Escola Veiga Beirão. Tinha como poeta o pseudónimo de António Gedeão. Pedra Filosofal, Enquanto. Lágrima de Preta e Calçada de Carriche são alguns dos seus mais célebres poemas.
 Nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1906 e morreu em Lisboa a 19 de Fevereiro de 1997. 
É dele o "Poema da Morte na Estrada".

António Tapadinhas
  
Poema da Morte na Estrada


Na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.

A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.

Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo
sem ceder nem um palmo de terra.

Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.

Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento.
Não lhes deu tempo para pensar em nada.

Agora,
na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos. 

domingo, 12 de abril de 2015


MIRADOURO 14 / 2015

(Esta rúbrica não respeita as normas do acordo ortográfico)



Ando
 mas,

ainda assim,

e s
p e
r o

talvez por o andar ser

sem destino.


Talvez por não saber onde ir.


Talvez que andando

se faça caminho

ou seja o caminho


que se faça em mim.


                                                                                                        Manuel João Croca


Foto (pormenor): Edgar Cantante

sábado, 11 de abril de 2015

Erva-prata


por Miguel Boieiro

Sei agora que há diferentes plantas com a designação popular de erva-prata. Quando era criança os meus pais advertiam-me com frequência para não misturar no forrejo uma tal erva-prata rasteirinha e de flores brancas. Ela não matava os bichos mas conferia um sabor muito desagradável ao leite e à carne, de tal maneira que os mesmos não se podiam tragar.

Num exame escrito da disciplina de Matérias-Primas do antigo Instituto Comercial de Lisboa, para além do que se encontrava nas respetivas sebentas que presidiam ao estudo, atrevi-me a falar de uma erva que, depois de comida pelas vacas, transmitia ao leite odores e sabores desagradavelmente enjoativos. A professora, que não conhecia tal facto, ficou estupefacta com o à vontade do aluno, mas a ausência do nome científico acabou por colocar um ponto final no assunto. Humildemente acrescento que ainda não detetei a respetiva designação binominal latina e assim, não posso, por ora, caracterizar tal erva-prata com o necessário rigor.

A que desta feita venho abordar é talvez, de todas as ervas-prata, a mais divulgada em Portugal. Dá pelo nome de Paronychia argentea e pertence à família das Caryophyllaceae. Há também quem a conheça por paroníquia, paroninquia-de-clusío, erva-gelada e erva-do-orvalho. Os americanos chamam-lhe “Algerian Tea” o que, desde logo, indicia a sua origem mediterrânica.

Trata-se de uma herbácea perene com brácteas secas que fazem lembrar papel translúcido. Nasce espontaneamente nos terrenos arenosos ou pedregosos expostos às radiações solares e encontra-se com frequência nas clareiras das matas xerófitas, solos incultos, bermas dos caminhos, dunas e areias litorais formando vistosos tapetes. Possui vários caules prostrados de cor avermelhada. As pequenas folhas são opostas, ovais ou ligeiramente lanceoladas com pecíolos curtos. Na floração aglomerada, o que desperta a atenção são as brácteas prateadas, protegendo e quase escondendo o respetivo perianto. Dificilmente se enxergam as minúsculas flores axilares de tons amarelos, com cinco sépalas e cinco pétalas. Elas são hermafroditas, beneficiando da polinização facultada por pequenos insetos.

A Paronychia argentea é bem visível nos “chás” compostos vendidos nas ervanárias visto que, pelo seu aspeto singular, se distingue facilmente das outras espécies.
Considera-se que possui propriedades diuréticas, adstringentes e vulnerárias.
A medicina popular utiliza-a, desde remotas eras, para os problemas dos rins e do fígado, dores abdominais e albuminúria e ainda para tratar transtornos gastrointestinais de cães e gatos.
O Dr. Lyon de Castro aconselhava o infuso de 30 g da planta num litro de água para tomar três vezes por dia, fora das refeições.

Consultei vários tratados estrangeiros de plantas medicinais e não encontrei, em nenhum deles, qualquer referência à erva-prata. Isso faz supor que o seu uso é essencialmente devido à tradição popular que se transmite oralmente através das sucessivas gerações. A corroborar esta ideia temos o interessante livro de recolhas do historiador Domingos Boieiro. Na sua obra “Ervas e Mezinhas – Corpo e Alma – Cadernos da Memória do Alandroal” este meu “primo alentejano” regista o resultado de várias entrevistas feitas a camponeses idosos do seu concelho onde a Paronychia argentea aparece elencada como erva diurética e adstringente. Na página 64 refere-se mesmo que “o chá de erva-prata é excelente para fazer funcionar o aparelho urinário e em banhos serve para diminuir as secreções glandulares e limpar a pele”.

Por fim, devo acrescentar que encontrei também uma menção à erva-prata no pequeno dicionário “Nomes Vulgares de Algumas Infestantes e Respetivo Nome Botânico”, de Fátima Rocha, publicado em 1979 pela Direção Geral de Proteção da Produção Agrícola do Ministério da Agricultura.