À Europa falta Autonomia e
Independência de Pensamento
Por António
Justo
Numa entrevista ao jornal alemão FAZ, o Dalai Lama, líder do
budismo tibetano, o refugiado mundial mais célebre (1959), defendeu a limitação
do acolhimento de refugiados. Sob o ponto de vista moral, "um ser
humano a quem a vida corre melhor, tem a responsabilidade de ajudá-los. Por
outro lado, entretanto já são demasiados”. "A Europa, por exemplo, a
Alemanha, não se pode tornar num país árabe" alerta o Dalai Lama.
É do parecer que os refugiados deveriam ser aceites apenas a
título temporário. “O objetivo devia ser o seu retorno para ajudarem na
reconstrução de seus próprios países”. Na entrevista o Nobel da paz, também
justifica o emprego da violência quando "as circunstâncias são tais que
não há escolha e a compaixão é a motivação".
O Dalai Lama demonstra muita cautela ao dizer que “a Europa
não se pode tornar num país árabe” o que significa o mesmo que dizer que a
Europa não se deve transformar num país muçulmano. Só que, se o
formulasse desta maneira, teríamos uma discussão que levaria ao fim da macacada,
o que se tornaria problemático numa praça pública habituada a viver de
macaquinhos no sótão.
O Dalai Lama mostra autonomia de pensamento e esta qualidade
é provocante para uma sociedade habituada a seguir um pensamento dividido e
alinhado em trincheiras de direita e de esquerda.
Desde os anos 60 o pensamento europeu encontra-se
sobretudo dirigido por políticos, por tribunos populares ou por
cientistas de saber sociológico ou por um jornalismo impossibilitado de se
orientar por um códice da imprensa livre e se orienta pelos credos
mais cotados no mercado. Por isso é tão raro o pensamento livre responsável sem
que se levante logo alguém com o bastão da moral.
Haverá populistas que apelidarão o Dalai Lama de fascista, de
nacionalista, de populista da direita ou com deficiência intelectual, como é
costume na praça pública; e isto porque, tal como acontece a quem pense pela
própria cabeça, é logo metido numa gaveta em contraposição à opinião educada no
sentido de balbuciar a opinião do polipticamente correcto em voga; também
os donos da racionalidade e da verdade depreciarão o Lama pelo simples facto de
ele ser um líder religioso. Uma sociedade que abandonou os cinco sentidos e o
próprio tecto transcendente, para se orientar apenas por um racionalismo pragmatista
e mercantilista continua irreflectidamente a sua marcha decadente.
Facto relevante aqui é o Dalai Lama, de passagem pela
Alemanha, questionar a política de portas abertas e de um moralismo justo no
foro do individuo só poder ser limitadamente aplicável quando se trata de
interesses de instituições ou de estados.
A questão dos refugiados torna-se ainda mais complicada
também devido aos interesses nacionais europeus e de uma Turquia interessada em
reter para si os refugiados “bons” e enviar para a Europa os ” casos
problemáticos”.
A ideia de “uma estadia passageira para refugiados” contradiz
interesses da economia de mercado e da ideologia marxista, interessadas em que
haja mais concorrência em todos os sectores da sociedade europeia sejam eles de
natureza económica, ou de natureza ideológica e espiritual.
O Dalai Lama motiva assim o repensar uma política europeia de
caracter moralista e de interesses meramente ideológicos e económicos. Apela à
moral da responsabilidade numa sociedade em que o moralismo do politicamente
correcto avassala o espírito europeu universalista autêntico, fazendo-o em nome
de uma cultura aberta e de uma tolerância que chega a atingir os limites da
estupidez.
Dois exemplos para a política: o Papa Francisco e o Dalai
Lama, duas vozes que a serem ouvidas levariam a política económica e social à
razão
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do tempo
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