sábado, 4 de junho de 2016

"A Voz Interior", de José Pais de Carvalho




RESUMO

“E na curva da estrada onde as sombras não são as sombras e o sol o sol, da qual liberdade do ventre da terra despontada sentia a dor de ser, decepcionado. Inconformado, partia por vales e montanhas, os do coração, onde as paisagens eram as paisagens, as da aprisionada alma. E num grito surdo e mudo fazia da vida poemas e quadros sem molduras nem tintas ou pinceis, só a volúpia do mar e a serenidade da terra.”

Dotado de uma inegável força poética, densa mas encantadora, o texto leva-nos a percorrer com Pedro diversas paisagens, de diferentes matizes, verdadeiros quadros impressionistas à moda de Monet, que representam o estado de espírito ou a alma do protagonista ao penetrar em sua consciência. E com ele, passamos a percorrer a nossa própria, pois ocorre uma identificação. Os conflitos de Pedro são de senso comum; caminhamos com ele, vemo-lo, mas enxergamo-nos então. De modo reflexivo, mas lúdico, através de uma exposição atemporal dos factos, somos levados a identificar a natureza de nossas emoções.

Vivenciamos com Pedro a dor da rejeição, o amor por Lúcia e a consequente desilusão, o fardo de uma escolha profissional direcionada pelo pai e não pelo seu talento, a decepção das falsas expectativas, o desalento com o sistema cultural ludibriador, a frustração do engajamento político e, após esse percurso árduo mas libertador, presenciamos a chegada dele ao autoconhecimento. O protagonista, ao se debater com o próprio ego em sua trajetória pessoal, leva-nos a libertarmo-nos do nosso, e concluímos com ele por fim que, se enfrentarmos e percorrermos um percurso descritivo analítico, será gratificante, pois aprenderemos a lição da amorosidade, um bálsamo e, certamente, a única porta de entrada para uma convivência mais harmoniosa conosco e com o mundo.

Para auxiliar nosso herói nesse percurso, surge outra magistral personagem de dimensão mítica e mística, o sábio índio PAEM EÇÁRÉ - aquele que tudo vê -, o qual, recorrendo a uma terapia sistémica,  ensina a Pedro e a nós, leitores, a importância de reestabelecermos as ordens de amor entre a família e os homens.

Numa das cenas mais comoventes da obra, encenada num momento de realismo fantástico, Pedro, num barco, percorrendo um rio, o da vida, confronta-se com o engano das relações amorosas ilusórias e prossegue o seu caminho ao encontro do sagrado e, com este, o amor incondicional.

Ao final da leitura, sentimo-nos mais amorosos e mais bem preparados para fazermos nossas próprias escolhas com o coração, pois, como Pedro, conhecemo-nos, passamos a nos relacionarmos harmoniosamente connosco e com o mundo, tornamo-nos mais flexíveis, menos conflituosos e conflituantes, e capazes  de sermos mais positivos e felizes.


José Pais de Carvalho


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