RESUMO
“E na curva da estrada onde as
sombras não são as sombras e o sol o sol, da qual liberdade do ventre da terra
despontada sentia a dor de ser, decepcionado. Inconformado, partia por vales e
montanhas, os do coração, onde as paisagens eram as paisagens, as da
aprisionada alma. E num grito surdo e mudo fazia da vida poemas e quadros sem
molduras nem tintas ou pinceis, só a volúpia do mar e a serenidade da terra.”
Dotado de uma inegável força
poética, densa mas encantadora, o texto leva-nos a percorrer com Pedro diversas
paisagens, de diferentes matizes, verdadeiros quadros impressionistas à moda de
Monet, que representam o estado de espírito ou a alma do protagonista ao penetrar
em sua consciência. E com ele, passamos a percorrer a nossa própria, pois
ocorre uma identificação. Os conflitos de Pedro são de senso comum; caminhamos
com ele, vemo-lo, mas enxergamo-nos então. De modo reflexivo, mas lúdico, através
de uma exposição atemporal dos factos, somos levados a identificar a natureza
de nossas emoções.
Vivenciamos com Pedro a dor da rejeição,
o amor por Lúcia e a consequente desilusão, o fardo de uma escolha profissional
direcionada pelo pai e não pelo seu talento, a decepção das falsas
expectativas, o desalento com o sistema cultural ludibriador, a frustração do
engajamento político e, após esse percurso árduo mas libertador, presenciamos a
chegada dele ao autoconhecimento. O protagonista, ao se debater com o próprio
ego em sua trajetória pessoal, leva-nos a libertarmo-nos do nosso, e concluímos
com ele por fim que, se enfrentarmos e percorrermos um percurso descritivo
analítico, será gratificante, pois aprenderemos a lição da amorosidade, um
bálsamo e, certamente, a única porta de entrada para uma convivência mais
harmoniosa conosco e com o mundo.
Para auxiliar nosso herói nesse
percurso, surge outra magistral personagem de dimensão mítica e mística, o
sábio índio PAEM EÇÁRÉ - aquele que tudo vê -, o qual, recorrendo a uma terapia
sistémica, ensina a Pedro e a nós,
leitores, a importância de reestabelecermos as ordens de amor entre a família e
os homens.
Numa das cenas mais comoventes da
obra, encenada num momento de realismo fantástico, Pedro, num barco,
percorrendo um rio, o da vida, confronta-se com o engano das relações amorosas
ilusórias e prossegue o seu caminho ao encontro do sagrado e, com este, o amor
incondicional.
Ao final da leitura, sentimo-nos
mais amorosos e mais bem preparados para fazermos nossas próprias escolhas com
o coração, pois, como Pedro, conhecemo-nos, passamos a nos relacionarmos
harmoniosamente connosco e com o mundo, tornamo-nos mais flexíveis, menos
conflituosos e conflituantes, e capazes de
sermos mais positivos e felizes.
José Pais de Carvalho
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