terça-feira, 21 de junho de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje, a aula foi inteiramente preenchida com exercícios de escrita que implicaram recortes e colagens, desenhos e relações e a identificação das sílabas em falta em certas palavras e respectivas grafias, coisa que se repetiu no trabalho para casa. 
A partir dos vocábulos menina e menino, a Matilde já escreve meme, mimi, mena e uma série de pequenas palavrinhas como essas. 



Genericamente não tenho dúvidas em afirmar que as economias capitalistas são aquelas que mais e melhor riqueza produzem e, nesse sentido, também no âmbito do ensino tomo por boa a livre iniciativa e concorrência e, consequentemente, vejo no ensino privado um factor benéfico para a educação e a formação de elites entre a população portuguesa. 
Acontece é que o problema se encontra na distribuição da riqueza produzida e, na medida em que os mercados, obviamente, não têm que ter propósitos de equilíbrio social, é aí que os poderes podem e devem intervir. No que à escola concerne, quer isso dizer que é a estes que devemos exigir a prossecução de um nivelamento por alto quanto às oportunidades para os mais desfavorecidos. 
Ainda assim não deixo de pensar que o ensino privado tem potencialmente um papel e uma acção positiva na sociedade portuguesa. Desde logo, precisamente pelo factor concorrencial que introduz, pelo qual pode eventualmente funcionar como moderador de custos e impulsionador de objectivos mais ambiciosos e realistas. 
Mas para tanto será preciso que aquele seja independente do estado quanto ao financiamento e seja capaz de se reproduzir ao nível dos recursos humanos, o mesmo é dizer que também ele forme os seus próprios docentes. Subsídios de estado, sejam directos ou indirectos, distorcem a natureza daquele e inquinam a livre concorrência; incentivam as escolas privadas a não procurarem no mercado e na sociedade civil as soluções materiais para os serviços que prestam. 
É claro que o ensino privado deve existir, tem o seu lugar, mas deve comportar-se como tal, viver no(a) e do(a) mercado e sociedade civil. Tais estabelecimentos de ensino têm a obrigação de serem lucrativos. 
Sem embargo, se quisermos enfrentar os problemas do ensino em Portugal, as perguntas a fazer são outras. 
Os países mais ricos são aqueles que mais seriamente e a fundo apostaram no ensino, conseguindo educar e formar uma cada vez mais alargada malha demográfica. O mesmo sucedendo com aqueles que nos últimos anos se têm vindo a aproximar dos padrões de desenvolvimento desse primeiro mundo. 
Pesem embora todas as vicissitudes da massificação nas escolas das sociedades mais abastadas e, em conformidade, a multiplicidade de discursos que aí ecoam, um sistema de ensino tem que produzir a excelência, pois é a partir daí que se devem começar a formar as elites. É nesta perspectiva que colocamos a dualidade que nos ocupa. 
Ora para além disso, isto é, de contribuir para a formação e a renovação das elites, o ensino privado apenas tem, por natureza, a obrigação de gerar lucro. Pois bem, deverá competir ao ensino público a criação das condições para o acesso à eventual ascensão social dos menos bafejados pela sorte. Ainda sem termos que ponderar certos aspectos morais, facilmente se compreende que, de outra forma, aquele processo de continuidade social faz-se dentro das próprias elites o que, por lei empiricamente observável, as faz tender para a entropia. 
Temos daí que também do ponto de vista prático não é na dualidade entre ensino público e privado que deveremos procurar o vértice de quaisquer políticas educativas para o nosso país. Continuamos a não dispor de uma via para chegarmos às perguntas mais certas e pertinentes. Contudo, se identificarmos uma pergunta-chave, podemos usar uma tal contraposição como ponto de partida para chegarmos a estas últimas. 



A Lua brilha no vidro da porta que dá para a varanda. 


Pensa-se que haja ali água congelada no fundo de crateras polares onde a luz solar nunca chegou. 
Teme-se que não seja em quantidade suficiente que possa suportar uma base lunar. 

Por enquanto, a terra dos selenitas continuará a guardar os seus territórios. 


 Alhos Vedros 
  13/11/2003

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