Vai uma cura de maçãs para desintoxicar os organismos viciados em alimentação irracional?
por Miguel Boieiro
Em 1982 tive a honra de integrar o grupo português da Brigada
José Marti que durante um mês esteve em Cuba para efetuar trabalho voluntário,
assentando principalmente na colheita de goiabas. Quando chegámos fomos
afavelmente recebidos.
Um “compañero”, já velhote, responsável pelo acampamento no
Caimito, deu-me algo, que de tão simples, já me caiu no olvido. Retribuí a
gentileza, oferecendo-lhe uma maçã camoesa que trazia no farnel. O velhote
ficou tão contente que se fartou de agradecer. Guardou-a religiosamente dizendo
que era para dar ao netito. Só então me apercebi que Cuba, embora possuísse
variadas e deliciosas frutas tropicais, não produzia maçãs.
Ora, como se sabe, o
fruto raro, ou proibido, é sempre o mais apetecido. Lembrei-me, a propósito, da
lenda do primeiro bicho-homem, aquele que instigado pela Eva (sempre as
mulheres) comeu o fruto proibido, o qual representava a sabedoria. Então Deus,
como retaliação, não só o expulsou do Paraíso, como fez com que todos os homens
ficassem, para sempre, com aquela saliência no pescoço que se convencionou
chamar “maçã-de-adão”. Mitos e crendices que ainda hoje vigoram!
A macieira pertence à família das Rosaceae, à subfamília das Pomoideae
e ao género Malus. Já, pelo menos há
6.500 anos a.C., se conhecia a Malus
sylvestris, como revelaram vestígios arqueológicos encontrados no vale do
rio Jordão. A partir da espécie primitiva, desenvolveram-se, ao longo dos
séculos, cerca de 10 mil variedades, embora muitas tenham desaparecido. Hoje
persistem por volta de 100 cultivares. Contudo, os mercados não apresentam mais
do que uma dúzia de espécies de maçãs e não necessariamente as melhores em
termos de nutrição. Simplesmente são mais bonitas e sobretudo mais rendíveis
para os respetivos vendedores.
A macieira é uma pequena árvore de folha caduca que, quanto
muito, atinge os 10 metros de altura. Tem apreciável longevidade e adapta-se a
variados climas, mas não aos tropicais, pois necessita de baixas temperaturas
para produzir abundante floração surgida no fim do inverno em simultâneo com a
folhagem. As inflorescências, constituídas por cachos de 4 a 8 flores brancas
ou rosadas, favorecem a apicultura. As folhas são elípticas, verde-escuras por
cima e esbranquiçadas (peludas) por baixo. Cada fruto contém cinco cavidades
com sementes providas de ácido cianídrico e portanto, algo tóxicas.
A maçã é uma fruta climatérica o que constitui uma enorme
vantagem. Significa que pode ser facilmente conservada durante muito tempo
sendo assim uma preciosa reserva alimentar.
É verdadeiramente impressionante a lista das propriedades
medicinais atribuídas à maçã, fruto ligado ao pecado original, símbolo da
tentação e idolatrado nas mitologias grega, celta, germânica, nórdica e cristã.
Vejamos: anti-inflamatória do aparelho digestivo, antiácida (combate a acidez
estomacal), antidiarreica, laxante suave, diurética, depurativa, anticatarral, anticolesterol,
hipotensora, sedante, antidiabética, anticancerígena. Atentemos no provérbio
antigo que, numa só frase, resume o essencial: “Uma maçã por dia mantém o
médico distante”.
Dos constituintes da maçã salientam-se os seguintes: pectina,
quercetina, açúcares, fibras, tanino, ácido málico, potássio, fósforo, ferro,
magnésio, cálcio, vitamina C, vitaminas B1, B2 e B3.
Deve preferir-se sempre maçãs de produção biológica para que
as possamos comer com casca, uma vez que os principais nutrientes se encontram na
periferia da fruta.
Eis agora, a título exemplificativo, algumas das inúmeras
mezinhas conhecidas:
- Cura de maçãs: Ingestão exclusiva de 500 a 1.500 gramas
diárias de maçãs reinetas bem maduras, descascadas e bem raspadas no momento de
as utilizar para impedir a oxidação. Tal quantidade dá para cinco refeições,
sem mais alimento algum. “Serve para evitar a formação de ácido úrico nos
carnívoros impenitentes e facilitar as eliminações nos artríticos, nos que
sofrem dos rins e em todos os intoxicados por alimentação viciada” (preciosidade
encontrada nos Cadernos Populares de Medicina Natural, edição de maio de 1954).
- Secar as cascas da maçã ao ar livre. Depois de secas podem
ser guardadas numa caixa hermética. Lançar água a ferver sobre as cascas, as
quais ficam a macerar durante 15 minutos. Coar e beber três chávenas por dia.
Combate a obesidade, o reumatismo, o ácido úrico, a diabetes, o nervosismo e as
dermatites.
- Decocção de 60 g de folhas e flores num litro de água.
Tomar 4 ou 5 chávenas por dia. Funciona como diurético.
- Cozer em água maçãs cortadas aos pedaços. Beber o líquido.
Muito útil para os doentes debilitados.
- Suco para tomar especialmente ao pequeno-almoço, como
revitalizante.
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