segunda-feira, 10 de abril de 2017

REAL... IRREAL... SURREAL... (249)


Estudo de Mulher, Rodolpho Amoêdo, 1884
Óleo sobre Tela, 150x200 cm 



Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada... 

Olho a roupa no chão: que tempestade! 
Há restos de ternura pelo meio, 
como vultos perdidos na cidade 
onde uma tempestade sobreveio... 

Começas a vestir-te, lentamente, 
e é ternura também que vou vestindo, 
para enfrentar lá fora aquela gente 
que da nossa ternura anda sorrindo... 

Mas ninguém sonha a pressa com que nós 
a despimos assim que estamos sós! 

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal" 

Selecção de António Tapadinhas

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