sábado, 23 de dezembro de 2017

José Flórido


Creio que só podemos compreender o que se encontra relativamente próximo de nós. Nem o que está muito acima nem o que está muito abaixo. Somente o que está perto. Aquilo de que ainda conservamos a recordação, por ser marco ultrapassado há pouco, ou aquilo para que estendemos as mãos e conseguimos agarrar, após alguns pacientes e esforçados passos. O que está muito acima é quase sempre entendido como loucura, excentricidade, imoralidade ou despudor; e o que está muito abaixo f...oge também ao nosso entendimento, como infra-humano, tão repugnantes e aviltantes nos parecem certas atitudes.


Erich Froom terá provavelmente razão ao sugerir a necessidade de se criar um Conselho Superior de Cultura, cuja missão seria a de aconselhar os governos, os políticos e os cidadãos em todas as questões relativamente às quais certos conhecimentos sejam absolutamente necessários. Mas, talvez - porque acredito que o mundo, apesar das graves perturbações que sobre ele pesam, não esteja entregue às forças do acaso - tal Conselho já tenha mesmo existência real, ainda que disso se possa não estar inteiramente consciente. Contudo, a ser verdade a sua existência, duvido que quem dele faça parte integrante se vá preocupar em demasia com as minúcias das análises políticas, com as previsões dos economistas e, enfim, com o circulo vicioso das incertezas e das intrigas a que, infelizmente, essas análises têm, muitas vezes, conduzido. Afinal, tudo que parte de um nível muito elevado é geralmente confuso e pode, à primeira vista, parecer divorciado ad realidade. Mas, como diz uma máxima latina, "Aquila non capit muscas" (A águia não se entretém a apanhar moscas)!

22/12/2017
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