Presépio, Foto de Lucas Rosa
1º andamento – uma balada de amor
Portugal
por um sonho, por amor
queria um bater calmo do coração
deu numa canção, uma balada universal
que o mar fosse todo igual
que não se-parasse, só unisse
e até as estrelas se abraçasse
só por ti
Todas as mornas e coladeras
no mais que alegre bater dos tambores
nas ilhas dos amores dos merengues
das entrecurvas harmoniosas dos corpos
vibrações felizes que se erguem ao céu
idílica marrabenta de quarenta dias
profecias de uma vieira peregrina
só por ti
Por uma ecúmena una e única
inteiro divino bordel universal
ninfas feitas em corpo de mulher
inteiro divino bordel universal
ninfas feitas em corpo de mulher
Lusíadas imperial serviço da alma
Lusofonia de uma canção de amor
Mensagem onde escorre um mel
Ibérica afirmação de uma Música
só por ti
2º andamento
– um cântico maior
Do cântico dos cânticos, da música
das esferas dos sons mântricos
que se encostam e roçam ao de leve
suave milagre quase nada, tudo
em que tudo se ergue e paira
por cima dos montes e das luzes
sagração de uma inteira natureza
eis as lianas das florestas de anjos
querubins e serafins tocam as liras
e com as harpas deliciosas as mãos
de veludo e da pele nua de cristal
dos tecidos sedosos de uma brisa
que se nos oferece em segredo
e nos afasta do medo da morte onde
a inspiração poética é uma gravidez
que anuncia o nascimento das palavras
no labor do refinamento das almas
na calma dos céus onde nem bule
corpos estrelados de braços dados
assistem aos desejos dos homens
à bestialidade do animal sacrifício
às ânsias maquiavélicas do poder
ao fabrico insane da nuclear fissão
das lágrimas de sangue das crianças
3º andamento
– uma mariana oração
O amor paira no ar, quieto e firme
no desejo de te olhar nos olhos
de um namoro feliz para sempre
dos beijos e das carícias na luz
de uma cantiga que se esfrega
que vai por dentro, meigo o corpo
das estrelas que nos fala e afaga
onde a ilusão semeia desencontros
das missangas às cores nos cabelos
de brincos de búzios encantados
do pó de arroz na beleza do rosto
nas suaves pinturas dos lábios
e o calor dos olhos onde se deitam
as tranças, e as tatuadas ondas
onde vão a banhos os mil dedos
na vasta infinitude do seu cólo
do tom azulado das unhas de gel
de vernizes de elegantes matizes
as correias prateadas das sandálias
curvas a que se ajustam os despidos
vestidos nos cabides de mil carinhos
onde se guardam as recordações
dos seios apontados nas flechas
de um cupido sorridente e feliz
(in, Luís Carlos dos Santos, Dar Voz ao Silêncio. V. N. de Gaia: Euedito, pp. 27-29)