quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

d´Arte - Conversas na Galeria LXXI

Escola Alfredo da Silva Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tela 84x92cm

Na minha viagem para a pequena praia fronteira à "Casa Fantasma" (ver LXVIII), depois de passar em frente da Escola Alfredo da Silva, tem de se circular por um estreito carreiro de areia solta, com pequenas dunas de ambos os lados, pontilhadas aqui e ali por tufos de eruca e cardos, as plantas que permitem a outras, como o gravieiro ou feno-das-areias, com sistemas radiculares mais eficientes, segurarem a terra para colonização de outras espécies.
Nestes carreiros encontram-se frequentemente sinais das actividades que marcaram a vida das populações ribeirinhas desta margem do Tejo: instrumentos de trabalho, pequenos cais, moinhos de maré, marinhas que foram de sal, embarcações a necessitar de reparação…
Esse caminho, com a sua beleza selvagem, serviu-me de inspiração para esta obra. Ainda lá está, mas o tecido urbano continua a aproximar-se…
Inexoravelmente?

4 comentários:

luis santos disse...

Antes de mais, deixem-me avisá-los que estou a ouvir o último CD da trilogia criada pelo Fausto dedicado aos Descobrimentos, "Em Busca das Montanhas Azuis". Evidentemente, a não perder.

Em tempos aquela Escola, em boa verdade eram duas, embora em edíficios contíguos. Por detrás da árvore que se vê na pintura, no edifício da esquerda, tinhamos a Escola do Ciclo Preparatório Álvaro Velho. Sim, nome daquele que se pensa ter sido o cronista da Viagem da Descoberta do caminho marítimo para a Índia, em 1497, capitaneada por Vasco da Gama. Tempos em que o Barreiro ainda pertencia ao Concelho de Alhos Vedros. Quer dizer, Álvaro Velho nasceu num lugar chamado Barreiro que pertencia a Alhos Vedros. Os nossos estudiosos da história local ainda hão-de pormenorizar o tema para expôr no Museu.

Sim, no tempo em que os estaleiros das caravelas ficavam ali no sapal de Cóina, braço do Tejo, e em que os fornos de biscoitos que iam nas caravelas para servirem de alimento aos nautas funcionavam na Mata da Machada. Tudo aqui muito pertinho umas coisas das outras.

Quanto à Escola Álvaro Velho haveria de se autonomizar da Escola Alfredo da Silva em 1971, quando passou definitivamente para o Lavradio, onde ainda está hoje. Lavradio, outrora tal como o Barreiro lugar de Alhos Vedros, onde se plantava o famoso vinho bastardinho que era muitíssimo apreciado por toda a Europa. Era de tal forma espirituoso que também ia nas caravelas.

E, pronto, de bastardinho em punho, já se vê tudo Azul num Abraço.

A.Tapadinhas disse...

Luís Santos: No meu programa de poesia está incluído, Fausto, para poder falar da saga que começou em 1982, por este rio acima, passou pela terra ardente, em 1994 e subiu ao céu para conquistar as montanhas azuis. Sempre o azul, não é Luís?

As coisas que tu sabes sobre as descobertas...

...davam para contar a diáspora dos barreirenses que, afinal, pertenciam a Alhos Vedros.

Já agora, eu tenho uns biscoitos para acompanhar esse bastardinho...

...de preferência ao som do Fausto, antes que o barco saia a navegar, navegar...

Abraço,
António

Luís F. de A. Gomes disse...

Creio já o ter dito, estes teus olhares do Barreiro deixam bem patente o quanto este lado do estuário se dá a ser pintado e espanta-me como não é corriqueiro vermos alunos -há Secundárias com a área de Artes nestas redondezas- por aí, desenhando o património, recriando os muitos rincões cheios da singuaridade de uma personalidade própria ou, tão só, pintando a luz de um Sol que por aqui predominantemente se mostra orgulhoso de o ser. E também tens mostrado de onde veio o Barreiro que há hoje, da relação das suas populações com o Tejo, eu diria da simbiose entre essas entidades, bem mais inteligente que o cerco de betão que referes e que, sob a capa dos melhorismos na qualidade de vida, pouco mais serviu para saciar ganâncias e isto porque os estragos que acrescentou a uma natureza que tanto teria para nos dar, não podem, de modo algum, servir para alguma coisa.

Disto nos fala(m) esta(s) tua(s) pintura(s), como nos falaria(m) se fosse(m) gente.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Luís: Acho que nem estudantes nem professores têm tempo para se preocuparem com essas coisas. Os professores, coitados, a tentar perceber como podem sobreviver com dignidade às tempestades que se aproximam, os alunos ocupadíssimos a descobrir as novas funcionalidades da Playstation 78733697213333x...

...E quem se lixa é o mexilhão... no sentido real e metafórico da frase.

Abraço,
António