segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

... Tudo isto é Fado



O FIM DO MUNDO EM CUECAS

VEJAM BEM a minha pachorra: entrei o ano a ver masoquisticamente na televisão esse intragável filme de Roland Emmerich, chamado de «2012». Emmerich é alemão – daí o seu jeito para as catástrofes – e a coisa foi filmada no Canadá, nos anos de 2008 e 2009, dependurada nessa tontice maianista do calendário maia, que por sinal não é maia, é olmeca, o que para os catastrofistas é indiferente. Também lhes é indiferente que o calendário não faça quaisquer referências ao fim que eles anunciam e entram sem qualquer pejo a surripiar o papel das Testemunhas de Jeová, não em nome de Deus, mas da Ciência, que nem sequer estudaram e que, consequentemente, não sabem. Aquela do Sol alinhado com o centro da galáxia pareceu-lhes um bom argumento, que só o facto de tal alinhamento se dar todos os anos pode prejudicar.
Podiam pensar assim: os tipos que elaboraram o tal calendário fizeram as contas para um período completo, para uma era e não para duas ou três. Gente assim faz-me lembrar aquela psicóloga muito alvoroçada porque um dado menino só desenhava a vermelho. Coisa grave, pensava ela. Mas não era. O menino não tinha lápis de outra cor.
Esta mania das catástrofes é capaz de ser tão antiga quanto a humanidade. Parece bastante lógico que o mundo, tendo começado terá de acabar um dia. Do começo, disse em 1650 o irlandês James Hurst – vá lá saber-se como descobriu –  que a coisa se deu às 9 da manhã do dia 7 de Setembro de 4004 a. C.. Do fim, há muita gente que se põe a anunciar. Lembram-se de como seria o fim do mundo em cuecas com o chamado bug do milénio?
Credenciadas são as Testemunhas de Jeová, que já previram várias datas para a «purificação» do mundo, que para mal da doutrina não se concretizaram, pelo que continuamos por aqui a pecar e a contribuir para a crise. Foi 1834, 1914, 1925, 1975 e a previsão que se encontra presentemente em vigor aponta para 2034, o que nos dá uma grande folga em relação aos maiaistas do 21 de Dezembro do ano em curso, data corrigida, porque aqui há tempos era a 23.
Como disse Mark Twain, «A profecia é um género muito difícil, sobretudo quando aplicado ao futuro». Menos brilhante, mas porventura mais assertivo, era aquele jogador de futebol que dizia: «prognósticos só no fim do jogo».

Abdul Cadre
abdul.cadre@gmail.com
Vendas Novas, 3 de Janeiro de 2012

(in, Jornal do Barreiro, Janeiro de 2012)

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