domingo, 7 de setembro de 2014




MIRADOURO 33 / 2014


O ESTADO DO TEMPO – V

A água que brota de nascentes – e daí as fontes e os rios e … - e que a chuva traz, irriga e molha a terra.
Alimenta-a, fecunda-a e fá-la parir feita uma imensa e diversificada maternidade.
Depois, o sol aquece e a água evapora, sobe, faz-se nuvem para melhor voar. 
Voa, por onde quer, e depois regressa outra vez num recomeço sem fim.
A vida, maravilhosa aventura, não pára.
Agora, aparecem uns figurões a querer privatizar a água e apropriarem-se dela.
Deixará assim de ser um bem público e comum. A loucura e a ganância não têm fim. São insaciáveis e, se o permitirmos, tenderão a apropriar-se de tudo.
Enfim, eu que por opção e convicção me vejo e sinto pacífico, lembrei-me da expressão que ouvi a um jovem no outro dia, a propósito de um outro tema que tinha a ver com o desemprego e a falta de oportunidades. 
Dizia ele: «Eu quero e desejo a paz. A paz segura e duradoura. A paz para todos, que respeite diferenças e garanta a responsabilidade da liberdade para todos mas, cada vez estou mais convencido que ela só é possível depois de uma guerra que precisamos travar porque a isso nos obrigam.»
E eu que na altura fui dizendo que não, temo que a vida, assim privatizada e só para alguns, venha a ampliar e multiplicar o sentir deste jovem. E se qualquer guerra é sempre de evitar, já o mesmo se não poderá ou deverá dizer de uma oposição que se pretende eficaz e continuada, da desobediência civil exercida com critério e inteligência.
É claro que todos queremos e precisamos viver mas, se nada fizermos para nos opor a esta gramática, qualquer dia pensarão em privatizar, talvez, o ar.
Pode-se duvidar mas tenho para mim que há gente para isso.
Há gente para quem a ideia de gratuídade da vida se afigura como perigosa e socializante para além de um tremendo desperdício.


A Ribeira da Seda na sua passagem por Cabeção
(Foto de Joana Croca)

4 comentários:

A.Tapadinhas disse...

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."

É pena que alguém, nem que seja só uma pessoa, pense que, para fazer a paz, seja preciso fazer a guerra. Olho por olho e todos vamos ficar cegos...

(Hoje sou pacifista militante: tenho o meu neto comigo!)

Abraço,
António

luis santos disse...


Sobre a gestão pública da água, sem que seja a favor da privatização, palpita-me que estamos a pagar o dobro, ou perto, do que pagávamos há 2/3 anos atrás.

Dando uma olhadela à fatura do último mês, em que pago um total de 33,97 (euros), diz assim:
- Conta da água (13,70 Euros); conta de resíduos (5,73); Conta TT Águas Residuais (13,53); Conta T Recursos Hídricos (0,19), IVA (0,82).

Devo dizer, que não sei bem a diferença entre "conta de resíduos" e "conta TT Águas Residuais", mas reparo que juntos têm um custo bastante superior ao da água e não consigo compreender a razão. Alguém por aí consegue explicar a diferença e porque é tão caro?

(Os valores que pagamos pelo IMI insistem em estar presentes nesta apreciação da fatura da água, mas vou resistir à tentação...)

Face a isto, reduzir uma reflexão sobre gestão da água só à relação entre público e privado parece-me um pouco redutor. Por outro lado, relacionar isto com o jovem que deseja a guerra, parece-me uma relação extrema.

Mas a reflexão valeu...

Abraço.

MJC disse...

António,
A tua militância pacifista não é só hoje, parece-me que é desde sempre. E é assim que está certo ou, pelo menos, é aquela que também tento adoptar (e praticar) para mim.
Não quer dizer que se tenha sempre sucesso mas com treino e vontade consegue-se.
Abraço.
MJC

MJC disse...

Pois é Luís, o que me parece é que o grande sonho destes senhores que nos (des)governam é despojarem-nos de tudo o que seja material.
Seja através de impostos sobre o rendimento do trabalho ou sobre o consumo, seja através de taxas, coimas ou "contribuições especiais por conta", seja ...
Quanto ao resto, é sabido serem os jovens por norma fogosos e impulsivos e por vezes soltam estes desabafos que não passam disso mesmo.
E a prova é que logo depois tudo se apazigua para que tudo possa continuar como dantes ou seja, sem saídas e com poucas ou nenhumas perspectivas.
De qualquer forma, uma das poucas aquisições que pude fazer ao longo da vida é que a guerra nunca constitui solução antes um problema.
Abraço.

Manuel João