por Miguel Boieiro
Pela segunda vez, recebi o amável
convite da Associação Cultural “Ficar”, de Portalegre, para proferir uma
palestra subordinada ao tema “Ervas Silvestres Comestíveis” e acompanhar o
grupo num passeio pedestre pelo Parque Natural da Serra de São Mamede, a fim de
identificar espécies. Valha a verdade que se diga que existem na praça
experimentados biólogos e outros especialistas muito mais habilitados do que eu
para executar tais tarefas. Ao aceitar prazenteiros convites, tenho sempre em
mente aquele velho provérbio “não vá o sapateiro além da chinela!”. Mas enfim,
como defendo que cada um deve partilhar o que sabe ou o que julga saber, por
muito pouco que seja, lá fui à cidade altaneira acompanhado da minha
cara-metade que me cuida da indumentária, corrige-me excessos e acrescenta-me
saberes.
Fomos recebidos principescamente,
ficando alojados nas próprias instalações da Ficar, sitas em plena Rua do
Comércio e a dois passos da imponente catedral. Mais interessante que a
palestra foi o convívio que naturalmente se desenvolveu e as promessas de
participação em outros eventos organizados pela dinâmica Associação. Um
especial agradecimento à Dora e ao Telmo, sempre inexcedíveis de atenções.
Ora o que tem o selo-de-salomão a
ver com isto? Perguntarão os leitores. É que tenho por hábito, aquando das
minhas digressões, redigir sobre uma determinada planta que me aparece sem
avisar e logo me sensibiliza. Da primeira vez, calhou aparecer o estevão-macho,
já em território castelhano. Lembram-se? Agora, ao descermos uma das vertentes
da serra, bem coberta de vegetação, surgiu-me o selo-de-salomão, planta medicinal
não muito fácil de encontrar, uma vez que se encontra apenas em zonas
montanhosas (nunca abaixo dos 500 metros), em lugares sombrios, habitualmente debaixo
dos carvalhos e em solos alcalinos. A sua área de distribuição natural abrange
a Europa e a parte norte da Ásia.
Pois tal herbácea, que dá pelo
nome científico de Polygonatum officinale,
Polygonatum multiflorum ou Polygonatum odoratum, segundo diversos
botânicos, da família das Liliáceas,
é uma bela planta vivaz com rizoma alvo muito espesso e ramificado que deixa
cicatrizes anelares, os quais se assemelham a selos, sinetes ou carimbos, daí
provindo o nome vulgar da espécie. Os caules, em forma cilíndrica, inclinam-se
para o solo, possuindo folhas alternas, ovais ou elípticas. As flores são
brancas, pequenas, quase sempre isoladas e inodoras. Os frutos são bagas
azuladas, possuindo sementes esféricas.
A parte usada em fitoterapia é
apenas o rizoma. Contém glucoquinina (substância hipoglicémica), amido,
saponinas, mucilagens, tanino e açúcares. É considerado analgésico, diurético,
emoliente, adstringente, antidiarreico e antipirético.
Em medicina tradicional chinesa e
coreana existem várias aplicações curativas com realce para a anorexia e as disfunções
sexuais, sendo, segundo afirmam, também afrodisíaca.
A planta possui toxicidade,
especialmente nos frutos que contêm um glicósido venenoso chamado convallamarina, por isso, não deve ser
utilizada internamente sem a assistência de um especialista. Diz-se que é
excelente como diurética ou como adjuvante no tratamento da diabetes.
Externamente é aplicada em compressas ou cataplasmas da polpa fresca, ou
cozimento concentrado, para inflamações cutâneas, equimoses e contusões. É útil
como cosmético para suavizar a cútis. As “Plantas Mágicas” de Sédir apontam
resultados positivos para os panarícios e mordeduras de víboras.
Os rizomas do selo-de-salomão
entram na preparação de diversos licores juntamente com o funcho, a hortelã, a
canela e outras aromáticas.
Por último, os americanos referem
que se podem comer os jovens rebentos cozinhados, como sucedâneos dos espargos.
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