sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Selo-de-Salomão


por Miguel Boieiro


Pela segunda vez, recebi o amável convite da Associação Cultural “Ficar”, de Portalegre, para proferir uma palestra subordinada ao tema “Ervas Silvestres Comestíveis” e acompanhar o grupo num passeio pedestre pelo Parque Natural da Serra de São Mamede, a fim de identificar espécies. Valha a verdade que se diga que existem na praça experimentados biólogos e outros especialistas muito mais habilitados do que eu para executar tais tarefas. Ao aceitar prazenteiros convites, tenho sempre em mente aquele velho provérbio “não vá o sapateiro além da chinela!”. Mas enfim, como defendo que cada um deve partilhar o que sabe ou o que julga saber, por muito pouco que seja, lá fui à cidade altaneira acompanhado da minha cara-metade que me cuida da indumentária, corrige-me excessos e acrescenta-me saberes.

Fomos recebidos principescamente, ficando alojados nas próprias instalações da Ficar, sitas em plena Rua do Comércio e a dois passos da imponente catedral. Mais interessante que a palestra foi o convívio que naturalmente se desenvolveu e as promessas de participação em outros eventos organizados pela dinâmica Associação. Um especial agradecimento à Dora e ao Telmo, sempre inexcedíveis de atenções.

Ora o que tem o selo-de-salomão a ver com isto? Perguntarão os leitores. É que tenho por hábito, aquando das minhas digressões, redigir sobre uma determinada planta que me aparece sem avisar e logo me sensibiliza. Da primeira vez, calhou aparecer o estevão-macho, já em território castelhano. Lembram-se? Agora, ao descermos uma das vertentes da serra, bem coberta de vegetação, surgiu-me o selo-de-salomão, planta medicinal não muito fácil de encontrar, uma vez que se encontra apenas em zonas montanhosas (nunca abaixo dos 500 metros), em lugares sombrios, habitualmente debaixo dos carvalhos e em solos alcalinos. A sua área de distribuição natural abrange a Europa e a parte norte da Ásia.

Pois tal herbácea, que dá pelo nome científico de Polygonatum officinale, Polygonatum multiflorum ou Polygonatum odoratum, segundo diversos botânicos, da família das Liliáceas, é uma bela planta vivaz com rizoma alvo muito espesso e ramificado que deixa cicatrizes anelares, os quais se assemelham a selos, sinetes ou carimbos, daí provindo o nome vulgar da espécie. Os caules, em forma cilíndrica, inclinam-se para o solo, possuindo folhas alternas, ovais ou elípticas. As flores são brancas, pequenas, quase sempre isoladas e inodoras. Os frutos são bagas azuladas, possuindo sementes esféricas.

A parte usada em fitoterapia é apenas o rizoma. Contém glucoquinina (substância hipoglicémica), amido, saponinas, mucilagens, tanino e açúcares. É considerado analgésico, diurético, emoliente, adstringente, antidiarreico e antipirético.

Em medicina tradicional chinesa e coreana existem várias aplicações curativas com realce para a anorexia e as disfunções sexuais, sendo, segundo afirmam, também afrodisíaca.

A planta possui toxicidade, especialmente nos frutos que contêm um glicósido venenoso chamado convallamarina, por isso, não deve ser utilizada internamente sem a assistência de um especialista. Diz-se que é excelente como diurética ou como adjuvante no tratamento da diabetes. Externamente é aplicada em compressas ou cataplasmas da polpa fresca, ou cozimento concentrado, para inflamações cutâneas, equimoses e contusões. É útil como cosmético para suavizar a cútis. As “Plantas Mágicas” de Sédir apontam resultados positivos para os panarícios e mordeduras de víboras.

Os rizomas do selo-de-salomão entram na preparação de diversos licores juntamente com o funcho, a hortelã, a canela e outras aromáticas.

Por último, os americanos referem que se podem comer os jovens rebentos cozinhados, como sucedâneos dos espargos.

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