quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pescadores de Sonhos, por Fernanda Gil




A xávega é uma arte de pesca que teve origem na costa Norte, no século XV, tendo sido no passado muito importante economicamente para um grande número de comunidades piscatórias ao longo da costa portuguesa. Alguns autores referem o uso de redes deste tipo desde 3000 A.C., em várias regiões do Mediterrâneo, A primeira notícia do seu uso em Portugal data de 1405 e é referida para o Algarve. Esta arte tem sido desde cedo, alvo de inúmeras controvérsias e regulamentações. No século XVI, foi proibida por decreto régio em Setúbal, Sines, Odemira, Lagos e Tavira. No entanto, esta situação foi alterada por D. Sebastião em 1567, limitando-se a sua utilização apenas à costa sul de Portugal, durante vários séculos. A xávega com as características actuais terá ressurgido no Algarve, em meados do século XVIII, introduzida por pescadores andaluzes e catalães, e na costa norte foi divulgada por espanhóis e franceses. Mais tarde, o seu uso estendeu-se a toda a costa portuguesa. Actualmente, é praticada em comunidades piscatórias dispersas ao longo da costa, principalmente na costa nordeste.

Nas décadas de 1960 e 1970, verificou-se uma quebra na actividade. Na década de 1980, deu-se uma recuperação generalizada de toda a pesca artesanal, devido em parte, pelo declínio da pesca longínqua bem como pela motorização das embarcações e a utilização de tractores e guinchos para alagem das redes.

A pesca com arte de xávega é praticada por pequenas comunidades piscatórias distribuídas ao longo da costa continental portuguesa. Caracteriza-se por ser uma arte não selectiva e capturar grandes quantidades de pescas acessórias e rejeições. 

No Concelho de Almada, operam 8 embarcações com arte de xávega: 3 nas praias da Costa de Caparica e 5 nas praias da Fonte da Telha. As embarcações utilizadas são construídas em madeira, sendo as mais recentes de fibra, e apresentam comprimentos da ordem dos 7 m. Cada “xávega” opera com uma embarcação e três tractores de apoio, e emprega cerca de 20 pessoas, das quais 5 operam na embarcação e as restantes em terra. Quanto ao esforço de pesca, o tempo de arrasto é, em geral, de uma hora e o número de lances efectuado por cada embarcação por dia varia entre 3 e 4. A pesca com arte de xávega apresenta uma sazonalidade marcada, ocorrendo nos meses de Primavera, Verão e Outono (Março a Novembro), 5 dias por semana, sempre que as condições meteorológicas o permitam.

(Fonte: Mariana Antunes)

Pescadores de Sonhos conta com o trabalho fotográfico de Armando Romão, que retrata a arte xávega na Costa da Caparica.

3 comentários:

Gil disse...

Este trabalho pretendeu ser uma homenagem aos pescadores de arte xávega, uma vida muito dura, a que Armando Romão, fotógrafo profissional, está muito ligado.
As maravilhosas fotos levaram aos textos, que agora são publicados em conjunto.
Espero que possam apreciar, porque foi feito com muito gosto e carinho.

Errata: na segunda quadra, em vez de "desencantos perdidos" deverá ler-se "desencantos sofridos"

Unknown disse...


Sinceros parabéns pelo óptimo trabalho em equipa!

Excelente 'documento histórico-cultural'!

É de continuar em novos 'projectos'!


Gil disse...

Tenho vários em "carteira" (mente, pensamento...)
Vai com o tempo e sobretudo com a oportunidade, que isto do vídeo tem que se lhe diga :)