Dir-te-ei a palavra que todos os Vedas glorificam, todos os
auto-sacrifícios exprimem, todos os estudos sagrados e vidas santas procuram. (...) Nada
há à sua frente, e é único para todo o sempre. Nunca nascido e eterno, fora do
tempo, passado ou futuro, ele não morre, quando morre o corpo. (...) O Eterno no homem não pode matar: o Eterno no homem não pode
morrer. (in, Miguel P. Carvalho (org.) – Religiões. História, Textos, Tradições. Lisboa:
Ed. Paulinas, 2006, p.248)
Os Hinos Védicos são os textos
sagrados mais antigos da Índia. Etimologicamente Veda significa conhecimento,
saber, passível de audição (que pode ser escutado). Durante muito tempo
recitados apenas sob forma oral, só muito mais tarde seriam registados em forma
escrita. A civilização védica desenvolveu-se até ao século VI a.C., período em
que a sua cosmogonia começou a transformar-se nas formas clássicas do
hinduísmo.
A Índia conheceu várias
civilizações. A primeira grande civilização que surge na Índia – a civilização
do vale do Indo (NW da Índia e Paquistão) – surgiu há 6000 anos. Terá atingido o
seu apogeu 2500 anos a.C.. Tinha uma escrita que permaneceu intraduzível, o que
nos limita o seu conhecimento e são contemporâneos do Egipto Antigo e da
civilização Suméria.
Em 1500 a .c., outra civilização
se desenvolve na Índia, no Vale do Ganges, enquanto a do vale do Indo
desvanece. Não se sabe se esta constitui um prolongamento dessa 1ª civilização.
Sabe-se que os povos de raiz indo-europeia descendem dela, conforme nos relatam
Georges Dumézil, Émile Benveniste e Max Muller (este, discípulo de Schelling
que, no século XIX, traduziu quase todos os textos da Filosofia Indiana).
O período védico corresponde,
então, ao período em que se dava prática à sua filosofia, cuja data de criação
não é possível precisar, mas que mais tarde deu lugar a 4 grandes antologias: o
Rigveda, o Yajurveda, o Sâmaveda e o Atharvaveda. O primeiro, constituído por
hinos compostos em forma poética para recitação em sacrifícios; o segundo,
hinos em prosa igualmente para recitação durante o ato sacrificial; o terceiro,
versos para serem cantados extraídos do Rigveda; e o quarto, aceite pelos
especialistas como um Veda mais tardio e que contém fórmulas de encantamento
para prevenção e tratamento dos males.
Os actos sacrificiais que se
faziam, de acordo com a mitologia védica, caracterizavam-se por terem sempre
presentes 4 sacerdotes. Cada um correspondendo a cada um dos vedas: o que
invoca os deuses, o que canta, o que sacrificia e o que permanece em silêncio.
A mitologia védica é reconhecida
como plena de importância em vários planos. Por um lado, pela importância que
tem para o posterior desenvolvimento do hinduísmo e da filosofia clássica
indiana, por outro, pela importância que o pensamento mitológico tem para uma
estrutura social, enquanto sistema constituído de descodificação do real, tão
pleno de sentido como qualquer outra tentativa de compreensão humana da
natureza última das coisas.
Uma narrativa mítica assenta num
conjunto de arquétipos que relacionam o imaginário humano com o mundo. Como diz
Frank Chose, encontra-se na Filosofia Védica o corpo de conhecimentos onde melhor
se expressa a concepção do mundo que é feito atualmente pela Física
contemporânea. Também Lévi-Strauss diz que qualquer mito pode ser tão
explicativo da realidade como qualquer outra teoria de explicação do mundo e da
existência humana.
Luís Santos
(in, Filosofia Clássica Indiana e Budismo, Curso de Estudos Orientais, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
(in, Filosofia Clássica Indiana e Budismo, Curso de Estudos Orientais, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
2 comentários:
Uma porta aberta na imensidão do conhecimento. A ousadia de perscrutar e integrar num Estudo Geral. Grato amigo.
Somos gratos.
Entre-tanto, a porta não se fechará e a cosmogonia védica vai ter continuação. Esperemos igualmente que nos continue a premiar com os seus belos textos que sempre nos trazem desejadas leituras, profícuas aprendizagens.
Aquele Abraço.
Enviar um comentário