Foi hoje um dia de trabalho duro e em que não tive um momento sem que estivesse a fazer algo com outras decisões ou assuntos a sobreporem-se. Até o almoço foi acompanhado pela leitura de relatórios financeiros e tudo; nem tive tempo para perguntar aos anjinhos se a manhã lhes correra bem e só ao fim da tarde houve oportunidade para me inteirar sobre o decurso da jornada escolar.
Mas como não percorrer as horas difíceis quando, logo pela manhã, à saída de casa, andava um bando de pintassilgos cantarolantes sobre os telhados a que um verdilhão, num dos quintais da vizinhança, parecia responder?
E a luz que esteve sempre tão alegre.
Não fosse isso e agora estaria incapaz de escrever uma única linha.
Estive a ver uma entrevista ao Dr. Pedro Strecht que, obviamente, se centrou no caso do abuso e exploração sexual de crianças, na Casa Pia e na tentativa da entrevistadora, Judite de Sousa de por um lado descredibilizar o trabalho profissional que aquele pedo-psiquiatra tem feito junto de muitas das vítimas e, por outro lado, lançar poeira sobre a validade dos testemunhos destas últimas e da possibilidade de a partir daí se poder partir para a acusação fosse de quem fosse.
A pessoa revelou-se de uma educação e de uma delicadeza a toda a prova. Só isso explica que tenha usado a inteligência que possui para, com toda a serenidade, responder com o máximo polimento mas simultaneamente com a veemência necessária para pôr a nu a canalhice de todos aqueles que tudo têm feito para obstruir o regular decurso do processo e o apuramento da verdade.
Graças a Deus que há pessoas assim.
Permite-nos manter o respeito pela nossa condição de portugueses.
O depoimento do homem é que foi tão pungente que nós, depois de o ouvirmos, só podemos guardar silêncio perante o indizível sofrimento que atormenta aqueles miúdos.
Na aula de hoje houve exercícios de Matemática em torno de correspondências e de quantidades.
Mas também continuaram os jogos com as sílabas que compõem a palavra menina que culminaram no trabalho de casa.
Ai que alegria tão grande quase nos fazendo explodir no céu, tamanha é a felicidade sentida.
O pardalito revela uma evolução incrível no desenho das letras.
Foi tão bom ver o trabalho bem feito, todo ele revelando zelo e competência.
Mas hoje não quero escrever mais, aquela entrevista impõe o silêncio do recato e uma oração a qualquer pessoa de bem.
Alhos Vedros
22/10/2003
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