E esta?
A EDP prepara-se para despedir dois mil funcionários que naturalmente serão indemnizados. Até aqui… Trata-se do funcionamento de uma empresa e sabemos que, por vezes, não há alternativa à pena capital em termos laborais e desde que, apesar da desgraça, sejam salvaguardados os réditos dos despedidos e menorizados os custos pessoais dessa má situação, temos que aceitar que a mesma faz parte da vida.
Acontece que a administração pretende lançar uma taxa suplementar nos recibos inerentes ao consumo de cada utente. E para que se destina a verba apurada através dessa cobrança compulsiva?
Para pagar aquelas reparações pecuniárias.
Melhor é impossível.
Nós já não vivemos num estado de direito.
Vivemos num estado que corta a direito.
Só assim se entende que tenha vindo a público o texto de escutas telefónicas levadas a cabo no âmbito do processo de abuso e exploração de crianças na Casa Pia e que foram determinantes para que o Juiz de Instrução decretasse a prisão do Dr. Paulo Pedroso. Obviamente, estamos perante uma quebra do segredo de justiça no reino do homo maniatábilis.
Mas as palavras gravadas dos líderes socialistas – a fazer fé na veracidade da notícia e na autenticidade das grafações atribuídas, na origem, a conversas entre as mais altas figuras do Partido Socialista e o deputado alvo da suspeita e entre este e o seu irmão – deixam clara a tentativa de influenciarem a investigação e pressionarem o referido Juiz.
Pior que isso, materializam o desprezo que aquelas pessoas têm pela democracia e o estado de direito, vendo-se como alguém acima da lei.
Pelo menos, o Sr. Berlusconi teve o descaramento de fazer aprovar legislação que o protege precisamente nesse sentido.
Por cá somos mais paroquiais e, em conformidade, tiramos partido do consuetudinário.
Não por acaso reapareceu Jorge Coelho, logo ele, a chamar a atenção para a necessidade de se preservar a imagem da justiça e das instituições políticas, por isso aconselhando calma e comedimento e isto dito como se nada de grave se tivesse passado.
O seu interlocutor, ao momento, era nada mais nada menos que Luís Fílipe Menezes – o político que gosta de ser visto ao lado de Pinto da Costa – presidente social-democrata da Câmara de Gaia que, cordatamente e no melhor tom apaziguador, veio dizer que um PS forte faz falta ao país e que o melhor que os socialistas têm a fazer é remeterem-se ao recato e deixarem o sistema (sic) funcionar.
Depois do que o Dr. Ferro Rodrigues, secretário-geral do PS, disse sobre o segredo de justiça, imagino que o mesmo venha a perder o cargo muito brevemente.
Pois daqui vaticino que virá aí o Dr. Fernando Gomes, o inenarrável ex-presidente da Câmara do Porto que um dia quis ser ministro, ou outro alguém similar. O Dr. Vitorino também serve, tem rabos de palha suficientes para aceitar a carta de condições.
Terão que passar duas ou três gerações de portugueses até que a sociedade civil recupere deste mundo clientelar que a actual partidocracia soube moldar e adaptar aos seus interesses.
Se o mercado comum e aberto continuar, nos próximos vinte anos veremos a fixação de outros europeus no nosso tecido económico e social a partir do que passarão a controlar os seus centros de decisão.
Talvez com isso surgisse um novo Portugal província de qualquer coisa, mas se calhar mais arranjadinho que as fraldas à vista que hoje em dia pululam por aí.
Num cenário pior, transformar-nos-emos no paraíso do crime organizado na Europa.
Deus acompanhe as minhas filhas.
Agora que passou a forte chuvada, há um arco-íris que, por detrás das árvores que envolvem o jardim escola, vai do solo até onde as nuvens permanecem, teimosamente, a cinzento no céu.
Digamos que é uma bela vista de bonança condizente com a leveza que fica depois de uma hora de recital na Matriz da Vila, em que o espírito saltitou com Mozart, rejubilou com Haydn e Vivaldi e por fim deixou-se voar na flauta inventada por Bach.
Marina Dmitrieva, neste último instrumento, Inna Rechetnikova em violino e Genoveva Vassilheva em violoncelo, foram as excelentes executantes daquelas peças que tão bem soam numa casa de Deus.
Os pais e a Matoldas ficaram encantados; a Margarida preferiu ficar em casa dos avós.
E no meio da algazarra que só nos deveria envergonhar e dos hábitos mediáticos de destacar as manifestações de hostilidade ao mundo ocidental por parte de populações islamizadas, passou ao lado a eleição, em Omã, de uma assembleia consultiva que, sendo um passo tímido, não deixa de ser o começo do trilhar o caminho das escolhas livres.
Três apenas, é verdade, mas há mulheres eleitas naquele proto-parlamento e isso é o mais importante; ali, a modernidade passa obrigatoriamente pela urgência do reconhecimento da igualdade de direitos entre os homens e as mulheres.
Exactamente neste sentido vai a nova legislação que esta semana foi aprovada no reino de Marrocos.
São iniciativas que nos devem fazer sentir o máximo de respeito e carinho.
E não é só por sermos democratas convictos, por pensarmos que a liberdade é a condição mais digna para os humanos.
A paz do mundo está pendente do momento em que o mundo islâmico acorde.
Estão a ver, eu não dizia?
Mas bem mais cedo do que eu pensava lá vem Manuel Alegre dizer que Ferro Rodrigues deveria convocar um congresso extraordinário para reforçar a sua liderança e José Lello – lá está a tal pronúncia do norte – embora admitindo que o lugar de secretário-geral não está em causa, reconhece que o partido atravessa um período de instabilidade psicológica.
Estejamos atentos aos próximos dias.
Alhures, na Indonésia, foi descoberta uma nova espécie de rã.
Somos tão tristes. Com tanta maravilha que tem o planeta, é tão estúpida a nossa propensão para nos deixarmos prender na fealdade.
E agora que a iluminação pública se acende, vou remeter-me para a leitura.
Quero acabar o livro que ontem iniciei pela manhã e só larguei pelas refeições, uma ou outra obrigação e, à noite, quando me abandonei ao sono.
Depois eu conto.
Alhos Vedros
19/10/2003
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