terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

QUE VIVA A CLASSE OTÁRIA! 


E pronto, o PS deixou cair o biombo 
e com estrondo 

mas não faz mal, 
também se tem visto do piorio em criaturas que os nossos escribas de bajulação colocam nos píncaros da Lua e elas aí estão como exemplos a admirar, não interessando se um cínico é elevado a referência moral ou se um simples vigarista é apresentado como o caso de alguém empreendedor. 

De maneira que o estrondo 
por ter caído o biombo 
com um bocadinho de magia de editorial 
e uns pozinhos de notícia transversal 
acabará reduzido ao esquecimento que o pão e circo habitualmente provocam. 

Uns dizem sim e outros não, há os que dizem mim e os que perguntam então, eis o que se fala sobre um hipotético congresso do PS. 

Do lado de lá, um intelectual do calibre de Luís Delgado, editor do Diário de Notícias, pessoa insuspeita, pediu a demissão de Souto Moura do cargo de Procurador-Geral da República. 

E do lado de cá, a cerejinha que alinda o bolo, António Saleiro lembra a moral para criticar o comportamento do seu secretário-geral. 


E viva! E viva! E viva a classe otária! 



Os alunos continuaram os exercício em torno da palavra menina. 
Não houve trabalho para casa. 



Hoje tomei o café que se segue ao almoço à beira do rio, vendo os reflexos coloridos na superfície escura que trepidava pelo arrepio da brisa, aqui e ali, um pouco mais vigorosa e, por instantes, deixei-me levar no balanceio da imagem de grafite de histórias do mar, de um mar imaginário. 

Depois disto, trabalhamos melhor e mais concentrados. 



“Koba O Terrível”, um livro que se lê de uma penada, sem vontade de interromper. 

Num estilo livre, o Autor traça-nos um retrato político de José Estaline que se deixa transcender para ganhar a forma de um fresco sobre a demência criminosa que foi o estalinismo enquanto sistema político e social levado à prática. 

Mas com o paralelismo que, a miúde, se cria com Adolf Hitler e entre os dois totalitarismos mais bárbaros do século vinte – o que nada tem de novo se nos recordarmos, só para dar um exemplo, de um Ernest Nolte (1) e que a própria obra em apreço deixa bem claro – este trabalho de Martin Amis tem o acréscimo de nos levar a perguntas e com isso a deixar a janela aberta por onde podemos compreender que para além de tudo o que já tem sido apontado como similar entre ambos os regimes, da simbologia artística ao desiderato último de criar uma nova humanidade, além de tudo isso e bem mais fundo, está o mesmo relativismo que, tanto num como no outro caso, produziu o mesmo desprezo pela vida humana e uma igual ausência da moral subjacente ao reconhecimento da dignidade que esta tem em si. E foi daqui que saiu a massa que forjou os monstros que milhões e milhões de pessoas conheceram da pior maneira. 


E para que choremos a nossa tragédia, permanece uma pergunta indejectivável: como foi tudo isto possível? 



I’m alone 
keeping to my window 
to the streets below 
(…) (…) (…) (…) (…) 

I am a rock 
I am a Island 

É pá, há quanto tempo eu não ouvia isto… 


Alhos Vedros 
 20/10/2003 


NOTA 

(1) Furet, François e Nolte, Ernest, FASCISMO E COMUNISMO 


CITAÇÕES BILBIOGRÁFICAS 

Amis, Martin, KOBA O TERRÍVEL, Tradução de Telma Costa, Editorial Teorema Ldª., Lisboa, 2003 
Furet, François e Nolte, Ernst, FASCISMO E COMUNISMO, Tradução de Francisco Agarez, Gradiva (1ª. Edição), Lisboa, 1999

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