terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

TRISTEZA 

A Margarida teve dois dias de folga inesperada e pelos piores motivos. Devido à morte da sogra, a Professora viu-se na contingência de ter que faltar ao trabalho. 

Amanhã, espera-se, tudo voltará ao normal. Não tanto para a Mestra, claro, certamente ainda em período de tristeza. Mas a vida é teimosamente persistente e sempre recupera das perdas que do seu fluir são eventos inevitáveis. 

O piolhinho é que teve dois dias suplementares para a brincadeira. 


Ao contrário da Matilde que lá teve de cumprir o cedo erguer de quem se dirige para o dever. Salvam-se as tardes, livres que têm estado de trabalho para casa. 

E na aula de hoje continuaram os exercícios com a palavra menina. Mas houve recortes. 



Portugal é que não tem cura e o portuga de baixo acaba por ver confirmada a velha sabedoria dos avós que a cada um compete desenrascar-se o melhor possível, tendo presente que, por experiência feita, essa coisa dos princípios a ninguém dá sopas e as ladainhas sobre a moral ou traz água no bico ou são coisas de convencidos e lunáticos. 
É esta a perversão que cimenta a nossa realidade. Afinal, este é o caldo cultural que nos possibilita a conquista do terceiro lugar entre os países com maiores índices de corrupção da União Europeia, no que somos ultrapassados por italianos e gregos. E só por isto não há quem se incomode com o escândalo – haverá alguma palavra que designe o absurdo? – de as receitas que o estado arrecada em IRS sejam superiores às provenientes do IRC. Mas isto é fado e a ninguém do poder lembraria perder tempo e paciência com fatalidades que, à semelhança de certas catástrofes naturais, como um terramoto, por exemplo, não estão sujeitas às nossas capacidades de previsão e controle. 

Pois bem, de acordo com tal fermento sociológico num povo que ainda há trinta anos era maioritariamente analfabeto, o Presidente da República fez uma comunicação para garantir que não está sujeito a pressões e que não fez favores a quem quer que seja – estava aqui e lembrei-me do presidente da assembleia geral de uma associação musical e recreativa – para além de chamar a atenção para a pedagogia da tolerância, a presunção da inocência e os direitos dos arguidos não poderem ser escamoteados sob pena de criarmos injustiça sobre aquela que existe – o meu pai explicava-me essas coisas em criança – e finalmente lembrar que os portugueses têm mais com que se preocupar, especialmente numa conjuntura internacional que não está para problemas – como muito seriamente explica o Zé, ao Domingo de manhã, quando a conversa puxa pelo lado intelectual de uma bicazinha ociosa. 

Juizinho, meninos e vão trabalhar! 


Ora aqui temos o mais alto magistrado merecedor do mesmo reconhecimento que Franklin Delano Roosevelt teve. 
Já tenho a esferográfica preparada para votar nele. 



Verdade verdadinha 
é que o bastonário da ordem dos advogados diz que alguém tem que pôr Souto Moura, o Procurador-Geral da República, na ordem. 


Volta Cunha Rodrigues, fazes falta. 


Estão a ver como foi bem acolhido o discurso do Presidente da República? 



Mas tudo isto me entristece. Mais que a vergonha, é a tristeza que nos cria um negrume na alma. 


Alhos Vedros 
  21/10/2003

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