terça-feira, 13 de junho de 2017

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
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É através da Arqueologia que nos habilitamos a identificar parcelas do passado para o qual não haja qualquer espécie de documentação escrita. 
Neste sentido, também aqui estamos em presença de uma ciência de carácter histórico pois, o objecto de estudo, em termos cronológicos, será, digamos assim, aparentemente, o mesmo. Devemos acrescentar que as reconstituições arqueológicas ou as simples informações que obtemos a partir destas investigações têm tanto valor como aquelas que a História nos fornece através dos documentos que analisa. Contudo, são ciências distintas no que diz respeito aos procedimentos e a diferença reside, precisamente, no facto de esta última se debruçar sobre sociedades com escrita que procura entender por via desse género de dados, enquanto aquela toma por alvo o tempo mais recuado em que, por motivos óbvios, considera os vestígios materiais que encontra, patamar em que igualmente se aplica nos tecidos sociais históricos. 
Quando estamos a falar em evolução é pois a Arqueologia o conjunto científico a que recorremos para obter os elementos – neste caso específico o que nos chegou de esqueletos mais ou menos inteiros e completos ou das simples partes que os compõem – que depois a Antropologia Física processa para tentar elaborar e explicar a árvore genealógica da espécie a que pertencemos. Bem, com isto não se pense que a primeira é mera subsidiária da segunda o que não é verdade, pois as suas pretensões necessariamente holistas levam os arqueólogos a procurar reconstruir as manifestações culturais dos grupos humanos de que encontrem testemunhos. 
Pois este ramo do saber que, à semelhança de tantos outros, também teve as suas origens no século dezanove, de então para cá não tem deixado de passar por desenvolvimentos no que se refere às técnicas disponíveis, eventualmente desenvolvidas em outras áreas científicas que hoje em dia já lhe permitem dizer a idade dos materiais com grande grau de segurança e precisão, bem como a forma de elaboração e uso dos mesmos, isto pelo desenvolvimento de novos caminhos dentro desta área específica, de que a Arqueologia Experimental é um bom exemplo. 
Não é maravilhoso que tenhamos conseguido descobrir os processos e as tecnologias que viabilizam a identificação da idade e composição das rochas e dos terrenos, bem como datar certos utensílios através de alguns dos seus componentes químicos? É que fundamentalmente são essas as bases para sustentarmos que estes ou aqueles vestígios são desta ou daquela época como, por outro lado, procedimentos similares são usados para identificar os tipos de flora e fauna de outros tempos. 
Ora é assim que a Arqueologia que em si envolve por natureza a vertente do trabalho de campo que consiste nas escavações, logicamente feitas segundo metodologias e técnicas precisas, o que sempre transporta o seu quinhão de aventura, se revela como uma forma de realizarmos o velho sonho de infância de viajarmos no tempo e podermos observar o aspecto, os modos de vida e o meio ambiente em que viveram os nossos antepassados.

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