Francisco Gomes Amorim
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Texto polémico o que se segue. Mas o que há de melhor do que polemizar... para mais nos compreendermos e entendermos? Polémico e o resumo do resumo!
É sabido que em 1483 Diogo Cão chegou à foz do rio Zaire, onde tomou conhecimento de um potentado africano, o Manicongo. Desembarcam e são festivamente recebidos pela população. Para não interromper a viagem de exploração do Atlântico, segue para o Sul até ao Cabo de Santa Maria, mas manda emissários ao rei do Congo. No regresso não encontra os emissários e leva alguns congoleses até Portugal. Regressa no ano seguinte, trazendo de volta os africanos que levara, e é ele quem vai cumprimentar o rei do Congo, na sua embala, a cerca de 200 quilômetros da costa. O reino englobava algumas áreas a que depois se deram nomes “europeus”: ducados, marquesados e condados.
Para ajudar o novo “irmão” do rei D. Manuel, não tardou a que soldados portugueses tivessem que entrar em guerras entre os vários nobres da região, procurando que entre todos houvesse paz. Portugal queria parceiros comerciais e só com paz haveria comércio. Jamais houve.
Entretanto, um pouco a sul, o N‘Gola, sabendo do convívio dos portugueses com o rei do Congo, manda uma mensagem ao rei de Portugal pedindo-lhe missionários. E vai Paulo Dias de Novais, como embaixador, acompanhado de quatro missionários, desembarca em Luanda e segue ao encontro do chefe indígena. Já não era o que tinha escrito a carta, mas um filho seu. Paulo Dias acaba prisioneiro durante cinco anos!
E as guerras entre os vários sobas e destes com os portugueses, não acabam nunca. Ora se alinhavam de um lado ora de outro.
Sem que se conheçam as suas procedências e suas histórias, algumas centenas de portugueses já se haviam espalhado por Angola, negociando diretamente com os povos indígenas. Desde o Congo até Benguela, e para o interior, esses foram, por sua conta e risco, os primeiros europeus a habitarem a África negra.
Por influência destes e de alguns relatórios dos jesuítas, em Portugal era grande o sonho da prata que Angola teria. Nunca teve.
Em 1498, a caminho da Índia, chegam os portugueses a Moçambique. O objetivo desta viagem era muito mais importante do que o hipotético comércio com Angola. A Índia e as suas especiarias, negócio altamente rendoso, na Europa nas mãos de venezianos e genoveses e nos mares até à Europa com os árabes, muçulmanos, inimigos da cristandade, que havia pouco tinham sido despejados da Península Ibérica. O objetivo era tomar esse negócio das suas mãos, e fazer de Lisboa o centro de distribuição dessas especiarias para toda a Europa.
Em Moçambique, a Ilha, era o ponto obrigatório de passagem de todos os comércios com a Índia, e apesar de pequena, era já povoada por árabes e macuas islamizados. A partir desta visita, Portugal consegue uma pequena parte, cria uma Misericórdia para aí deixar doentes, e ter o seu apoio logístico.
Começa a ganância. Naus cada vez maiores e com mais naufrágios, em poucos anos o custo da “Índia” era superior ao seu rendimento e, além de se endividar, Portugal começou por proibir a instalação de colonos nas terras a que se outorgou possuidor, por terem sido “descobertas” pelas suas caravelas.
Assim que o Brasil se mostrou colonizável, Angola passou a viver do negócio da escravatura. Escravos era a principal “mercadoria” que todos encontravam em África. Além disso, Angola, pouco mais tinha: um pouco de cera, para iluminação e para as igrejas, um tiquinho de marfim, e prata... zero.
Na costa Oriental, tudo quanto Portugal pretendia era ter livre o acesso ao Monomotapa. Ao ouro do Monomotapa! Nada de colonizações. Mas arrogava-se o direito de ser senhor das terras primeiro visitadas e depois daquelas em que, em permanência, se batia com os árabes, ali instalados há vários séculos, para garantirem o comércio do precioso metal, e para combaterem o negócio de escravos.
Além do ouro tinha muito marfim, normalmente enviado para a Índia onde era trabalhado por artistas artesãos. Da Índia saíam os principais produtos que serviam de troca com o nativo moçambicano.
E durante séculos as colônias africanas era “propriedade” dos reis de Portugal, mas limitadas a uma pequena faixa de terra litorânea e a algumas capitanias em portos onde pudesse haver negócio.
Lourenço Marques “descobre” a “Baía da Lagoa, que mais tarde teve o seu nome, mas onde durante uns dois séculos não residia nem um único português ou colono.
Foi assaltada por austríacos, ingleses e franceses, porque ali o negócio de marfim era importante. Mas sempre Portugal reclamava que aquelas terras lhe pertenciam porque fora o primeiro a descobri-las!
Em 1781 o ministro Martinho de Melo e Castro mandou povoar o interior de Sofala, porque na fortaleza só havia uma dúzia de famílias portuguesas, todas já mestiçadas ou de origem goesa. Em 1885 Gungunhana afirmava ao Conselheiro Almeida que a fronteira portuguesa passava a duas léguas de Sofala e para o interior o território era dele.
Em Angola a situação diferia um pouco, mas todo o interior pouco mais gente tinha do que um outro sertanejo como o famoso Silva Porto.
Na Zambézia, Portugal criou uma invenção curiosa: para poder arrecadar mais algum imposto passou a conceder “Prazos”, praticamente sempre a famílias mestiças e/ou também de origem goesa, mas neles não exercia nenhum domínio.
As lutas sustentadas contra os nativos não foram provocadas, até final do século XIX por lutas entre portugueses e africanos, mas por necessidade de apoiar um ou outro régulo afim de manter a paz no interior e assim o comércio poder fluir.
É o olho gordo dos ingleses que querem as melhores regiões de África para expandirem a sua “religião” comercial que provocam grande instabilidade. Estavam em plena revolução industrial e descobriram que só para cima de Moçambique havia mais de quarenta milhões de africanos que não usavam calçado nem camisa, o que pressupunha uma imensa possibilidade de negócio.
A partir daí, quando os portugueses, que tanto em Angola como em Moçambique sempre tinham precisado da autorização dos sobas e régulos para comerciarem, o que implicitamente reconhecia a soberania destes, a Conferência de Berlim, estimulada também pela ganância do rei dos belgas, determina que só ficam com direito a terras em África os países que os ocupem militar e administrativamente.
Virou-se o jogo. Agora eram os sobas e régulos que dependiam de Portugal, e isso foi um imenso desastre.
Portugal que até essa altura não admitia, sobretudo em Moçambique, colonizar esses “seus” territórios, começou a “vendê-lo” em parcelas. E mais, se não admitira nunca estrangeiros, teve que os ir buscar, porque, sempre pobre e endividado, não dispunha de capitais para desenvolver as “novas” colônias.
E assim nascem a Companhia dos Diamantes de Angola, com capitais portugueses (pouquíssimo), mas de maioria belgas, americanos, ingleses e sul-africanos, a Companhia Agrícola de Angola - CADA - financiada por capitais belgas, em Moçambique as Companhias Majestáticas como a Cia. de Moçambique, Cia. da Zambézia, Cia. do Niassa, Cia. do Boror, todas com capitais estrangeiros, que quando viram que o negócio agrícola não era rentável, começaram a vender trabalhadores para as minas de ouro da África do Sul, e outras várias.
Depois lembrou-se de fundar o Banco Nacional Ultramarino, visando o desenvolvimento colonial, mas que se verificou ter sido um elemento de falência para os incautos e entusiastas que se lembraram de a ele recorrer para a agricultura.
Angola rendeu, sobretudo para os traficantes, enquanto floresceu a escravatura, em Moçambique lutava-se contra esse tráfico. O Brasil já independente teimava em traficar e, como sempre, os contrabandistas e desonestos, conseguem durante muito tempo ainda negociar, vergonhosamente, gente.
No século XIX e Portugal, sempre pobrezinho e mal governado, decide defender as colónias, sobretudo das forças de países europeus, e luta sobretudo contra os alemães.
As poucas e mal pagas e mal treinadas tropas da metrópole, auxiliadas por soldados africanos lutaram valentemente. Foi a época dos heróis, brancos e negros, que procuravam pacificar os territórios que lhe foram “oferecidos”!
O século XX abre os olhos da metrópole e começa a desenvolver-se Angola e Moçambique, já sem recursos a escravaria, marfim, ouro ou a imaginada prata, sempre por iniciativa privada, e não por ação e planificação do “reino”, que nem no pequenino espaço europeu se entendia.
Este surto de desenvolvimento, que cresce de forma importante sobretudo a partir do final da II Guerra Mundial, marca profundamente a economia dos dois países que, logo a seguir ascendiam à sua independência.
O que é inimaginável para qualquer outro povo é que o grande surto de desenvolvimento se dá com o começo da guerra colonial, a partir de 1961.
Em 1974 acabam as colónias.
Os 500 anos tão badalados sumiram na bruma do tempo.
Em todo o lado por onde andou Portugal deixou a sua marca própria de convivência, desde Cabo Verde a Timor, Malásia, Indonésia e Índia, e sobretudo em Angola e Moçambique.
Não foram 500 anos de ocupação ou colonização. É um sofisma chorarem os portugueses pelos cinco séculos que “perderam, assim como o é também dos africanos dizerem que sofreram cinco séculos de dominação.
Ainda hoje, em Angola o nome mais respeitado de governante daquela terra, incluindo todos os que vieram depois da independência, é o de Dom Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho.
Por Moçambique também passaram grandes homens: Mouzinho, Freire de Andrade, João de Azevedo Coutinho, e outros.
Os sofismados “500 anos” foram, isso sim, cinco séculos de muita vivência, convivência, apesar de haver páginas tristes, como sempre houve em todo o lado e, infelizmente, continuará a haver.
Cada vez que se falar em “500 anos
em África” devemos celebrá-los como sendo “500 anos a conviver” com irmãos mesmo que por vezes desavindos.
em África” devemos celebrá-los como sendo “500 anos a conviver” com irmãos mesmo que por vezes desavindos.
Eu estive por lá pouco mais de vinte.
E como guardo toda aquela África no coração.
12/07/2017
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