Fotografia: Kity Amaral
Texto: Luís Santos
OURO PRETO
...também em simbólica homenagem às vítimas, e aos que lhes são mais próximos, do violento incêndio que se fez sentir nos últimos dias em Pedrógão Grande, coração de Portugal.
Reconheço de imediato essas cores. Portadas e véus. Nunca lá estive, mas tenho uma bandeira igual no vão da minha janela. Arquitetos do universo, pedreiros livres, triângulos em cima de quadrados. Da embarcação 5-15 para vera cruz, nossa terra.
Lembro-me de como era dantes, dos garimpeiros e dos bandeirantes. Do ouro preto da pele que era a minha. Do sonho que então tive com um reino divino, que vinha depois de vir, e dos escravos agrilhoados, a minha família. Daqueles índios, daquela índia.
Ajudámos a fazer um país e demos um grito que foi até ao fundo do mundo, pela libertação da alma de todos, pelo querer fraterno de todos em um, um sentimento de nascermos todos à mesma hora. Do que nos é justo afinal.
A tempestade amainou. Cessou a trovoado seca e o vento enrodilhado das chamas. Mas o desesperante cheiro de carne queimada ficou. O sacrifício foi pesado e, depois, um novo dia nasceu, estranhamente, em paz. O paradoxo é que tudo faz parte e o motivo é uma razão maior, do claro dia.
Hoje somos, e como diz o acaso da foto, rebuscamos "motivos para ser feliz" (como se alternativa houvesse...). A essa feliz cidade, a essa idade feliz. A natureza é assim, e que tempestade é essa? O preço a pagar por termos mantido a discórdia.
Ai, saudade… Foi por ela.
E a música é? - https://youtu.be/hc0QISkjKZs
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