A Festa Popular do Património
(contributos para o estudo e realização de uma animação
performativa em património edificado e cultural)
por José Gil e Sandra Cordeiro
RESUMO:
Com esta Comunicação procuramos abordar uma experiência no campo
do Património (Tróia Romana) de Animação Teatral na Zona das Termas durante um
Mercado Romano encenado em abril de 2017 com estudantes de APPC da ESE/IPS de
Setúbal Curso de Animação.
Objetivos: (1) Conhecer a vida na zona termal das Ruínas Romanas
de Tróia (2) Estudar os modos de vida das senhoras e das escravas, do Imperador
e Imperatriz, do Poeta Ovídeo e da sua Musa.(3) Preparar seis cenas de ações
teatrais performativas em território patrimonial com estudantes do 2º ano da UC
APPC – Animação Património Promoção Cultural .
Metodologia: os instrumentos de criação e investigação são
sobretudo digitais. Falamos também com uma das organizadoras do Mercado Romano
que se deslocou à nossa aula e escola. Estudámos também os flyers, folhetos e
sites de divulgação do evento. Realizamos seis cenas (dinâmicas) para a
representação envolvendo estudantes e docentes.
Resultados: os resultados foram muito interessantes. Destaco o
primeiro (1) A Animação Teatral cumpriu o seu objetivo interagindo com o
público apesar da ausência de palavras na performance por problemas óbvios do
teatro ao ar livre em espaço aberto e conservado cuidadosamente como
património. O público raramente era fixo ou se sentava nas pedras, passava
pelas zonas que desenhamos para nós como palcos. Adotamos dois territórios. Um
em baixo junto ao público onde eram as termas e as massagens para as senhoras.
Numa área mais alta ficou o Imperador e a Imperatriz e depois o poeta e a Musa.
O segundo resultado (2) Foi uma passagem do Imperador e da Imperatriz pelas
zonas do público Mercado Romano, “quinta” Romana com animais vivos (cotovias,
falcões). Fomos ainda nesta peregrinação ao Museu São Miguel de Odrinhas .Onde
estivemos no “céu” com o sol e a lua.
Conclusões: seria positivo em novas intervenções patrimoniais
realizar ensaios com Guarda-Roupa e adereços no local próprio. Tudo correu da
melhor maneira. Estamos gratos aos estudantes e à organização.
Palavras-Chave –Património-Animação-Teatro-Poesia-Ruínas Romanas
Termas Tróia.
- Introdução
Garum é a palavra chave do nosso mistério. Magia da luz do nosso
trabalho criativo. Molho de peixe muito especial, na Tróia Romana, utilizado na
gastronomia e no vinho e como óleo nas massagens e tratamentos termais.
Celebramos nesta Festa do Garun a Deusa Flora no maior território
de salgas de peixe.
No Mercado Romano encontrámos vários produtos regionais e
nacionais e até de outros povos e culturas distantes.
Nas suas típicas tabernas de sabores muito antigos encontramos o
hidromel, o porco no espeto, provamos os crepes salgados , o vinho e a sopa de
“entulho”.
Nas bancas dos vendedores peças artesanais de ferro e cerâmica,
bijutarias e coroas de flores.
Descobrimos também frutos secos, doces e mel e apreciamos a
música, as danças e a animação. Num espaço que hoje poderíamos denominar de
Quinta Romana havia animais vivos com os quais brincamos e tiramos
fotografias .
Foi da surpresa do significado do termo Garun na
“boca” das organizadoras do evento Mercado Romano presentes numa das nossas
aulas em Março de 2017 que iniciamos esta narrativa comunicacional . Evento que
foi oleado por esse garun mágico na preparação da Performance no Património.
Tróia perto da Páscoa tem a sua Festa Popular do Património na
Zona Termal das Ruínas.
Justificamos assim o título. Centenas de pessoas passam num fim de
semana intenso de Mercado e espetáculos em terra e no rio por esta Celebração à
Deusa Flora.
O Património assume-se por um dia o foco de visitantes de Setúbal
e Grândola mas também de todo o país e estrangeiro.
Poesia destas populações de uma peninsular junto ao azul é uma Jornada
histórica teatral e de animação comunitária numa viagem na linha do tempo Como
contar numa encenação das vidas quotidianas os hábitos, a gastronomia, os
figurinos e os ambientes romanos. Trabalho de rigor e brilhantismo saudável.
2. Enquadramento
Esta participação enquadra-se na Unidade Curricular APPC –
Animação Promoção do Património Cultural que ambos lecionamos no ano de
2016-2017. No 2º Semestre, na Escola Superior de Educação do Instituto
Politécnico de Setúbal que sendo uma Opção apresentou de início dificuldade de
número de participantes.
Pretendeu-se que o estudante possa nesta UC adquirir competências
ao nível da:
a)
Organização e gestão de informação (baseada no levantamento e
identificação de indicadores culturais, das estruturas sociais e comunitárias
existentes);
b)
Apropriação e utilização de conceitos diferenciados (que permitam
identificar as especificidades e “pontes” entre, nomeadamente, cultura,
educação, arte, desenvolvimento);
c)
Compreensão dos fatores que orientam a fruição cultural (consumo
cultural);
d)
Apropriação de conhecimentos práticos, utilizadas na animação do
património cultural; História ao Vivo, Museu Aberto, Animação da Escrita
Criativa, Poesia, património imaterial…
A unidade curricular de Animação e Património Cultural procurou
articular o domínio da animação sociocultural com as inúmeras vertentes de que
se reveste o património cultural (nas suas dimensões materiais e imateriais),
de modo a conduzir a uma consolidação de conhecimentos e práticas específicas,
passíveis de serem aplicadas na promoção, divulgação e preservação do mesmo.
Neste sentido, os conteúdos programáticos abordados visaram dotar
os estudantes de conhecimentos ao nível conceptual e a possibilidade de os
operacionalizar na análise de situações concretas, estruturando-se em três
níveis complementares:
1.No primeiro bloco programático foram abordados um conjunto
diferenciado de conceitos-chave que intervêm na definição, compreensão,
legitimação e fruição/ consumo de património cultural – entendido nas suas
inúmeras configurações;
2.O segundo bloco incidimos sobre as metodologias de animação do
património cultural atendendo à articulação e operacionalização dos conceitos
anteriormente discutidos a contextos de atuação concretos, considerados nas
suas diversas modalidades
3.O terceiro bloco dedicamos à exploração prática de técnicas e
processos de seleção de recursos humanos e materiais, que possam apoiar a
animação em contexto, de atuação concretos, considerados nas suas diversas
modalidades
Através da articulação entre conceitos, o contacto com situações
reais e a produção de elementos de apoio à animação foi possível a apropriação,
reflexão/debate, gestão, operacionalização de conhecimentos e metodologias de
atuação na realização de trabalhos dirigidos à intervenção em contextos de
ação.
Como sabem o conceito base de património tem origem na palavra
Pather (pai) com o significado de conjunto de bens de família
partindo da herança pais filhos.
Segundo a Lei de Bases do Património, nº 107 /2001 de 8 de
setembro, “(...)integram o património cultural todos os bens que, sendo
testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse
cultural relevante, devam ser objeto de especial proteção e valorização.” bem
como“ Todos os bens materiais e imateriais que constituem testemunhos culturais
ou civilizacionais de interesse relevante (histórico, paleontológico,
arqueológico, arquitectónicos linguístico, documental, artístico, etnográfico,
científico, social, industrial ou técnico).E que reflitam valores de memória,
antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou
exemplaridade.”
CONCEITO DE PATRIMÓNIO Cultural e IMATERIAL
Segundo Ana Carvalho (2011) “A expressão património cultural e
imaterial foi evoluindo ao longo de décadas de discussão no seio da Unesco(…) e
mediante um processo evolutivo foram-se incorporando novas dimensões ao
Património (arquitetura vernacular, industrial , património natural, entre
outras), conferindo-lhe maior complexidade. Por outro lado, uma conceção
antropológica do património cultural tanto as expressões imateriais tais como o
saber fazer, a tradição oral entre outras como os monumentos, sítios bem como o
contexto social e cultural nos quais se inscrevem, contribuiu de certo modo,
para se alcançar uma noção de património mais alargada, diversificada e
reveladora, muitas vezes de relações de interdependência.”
CONCEITO DE TEATRO
“Segundo Jorge Luís Rodrigues
Teatro é por exemplo: num palco, preparado para tanto, se recitam
perante o público (plateia) textos dialogados; o gênero literário desses
textos; em sentido mais amplo, a instituição inteira, integrada pelo autor,
diretor de cena, atores, cenógrafos e outros colaboradores. A arte dos atores e
do diretor de cena não sobrevive à representação; os textos ficam.”(4)
CONCEITO DE ANIMAÇÃO
A base da formação destes estudantes inscreve-se no campo da
Animação Sociocultural, tendo Ander - Egg definido como“(...) um conjunto de
práticas sociais que têm como finalidade estimular a iniciativa e a
participação das comunidades no processo de seu próprio desenvolvimento e na
dinâmica global da vida sociopolítica em que estão integradas.”
As metodologias trabalhadas maioritariamente “(...) expressam um
projeto pedagógico de consciencialização, de participação e de criatividade
social em que cada participante conforme as suas próprias perspetivas
ideológicas, políticas e científicas assim como a sua própria prática poderá
escolher ou rejeitar.”
(UNESCO, in Ander-Egg
Ezequiel, 2000:107)
OBJECTIVOS EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Nesta Unidade Curricular semestral os fins convergem para os
Objetivos de Educação Patrimonial, os quais segundo Ana Duarte (1994) “os
objetivos pretendem:
-Desenvolver atitudes de preservação e animação do Património;
-Conhecer o património local para compreender o património
nacional e universal “da Humanidade”;
-Incentivar o gosto pela descoberta.”
3. Práticas e Reflexões
APRENDIZAGEM PELA DESCOBERTA
Tendo em consideração os objetivos da Unidade Curricular vulgo
Disciplina reunimos com as estudantes as propostas de atividade. Pelo fazer e
refletindo sobre o realizado avançar nas aprendizagens e tomado consciência de
novos conhecimento individual e de grupo.
O teatro e a Animação têm essa vantagem são práticos. Ou se fazem
ou não se fazem. Perguntou uma vez um ator jovem a um ator experiente o que é
que pode acontecer 5 minutos antes de começar a peça – o espetáculo. E ele
disse muito nervoso e com muita ansiedade de conhecer novos públicos. O velho
ator costumava espreitar por um buraco pequeno na flanela da moldura do palco
da sua cidade.
O outro ator respondeu. A única coisa que pode acontecer e por
isso não fico ansioso nem nervoso é a minha capacidade de entrar ou não entrar
no palco e na performance.
Esse foi também o desafio constante que colocamos ao nosso grupo
de aprendizagem de APPC e é uma verdade de La Palice. Ou participamos ou não
participamos.
O desafio colocado às estudantes partiu da perspectiva de uma
aprendizagem pela descoberta. “Em que aprender é construir significado e a
aprendizagem consiste na seleção e organização a partir das sensações que nos
rodeiam (Silva e Filipe) – à partida na primeira aula conjunta e como estávamos
no dia dos namorados – 14 de fevereiro lançamos poemas diversos de namoro ou amor
e solicitamos às jovens que escrevessem para uma Primeira Atividade com público
na Biblioteca Municipal do Pinhal do Novo no Dia Mundial da Poesia 21 de Março
2017. Nesta comunicação refletimos sobre práticas textuais e teatrais da
criação, práticas de escrita criativa. Escolhemos o poema de Cecília, estudante
de 21 anos, de Erasmus Brasil-Mobilidade Internacional.
Segundo Barriga e Silva, “(sem data) Nas últimas décadas temos
vindo a caminhar da Sociedade da Informação para a Sociedade do
Conhecimento e da Aprendizagem, o que implica uma importante passagem da
campanha pelo acesso à informação, ao campo, mais exigente, da responsabilidade
individual e coletiva na utilização dessa mesma informação e na criação de
ambientes para a verdadeira promoção da aprendizagem e do conhecimento como
ferramentas essenciais ao desenvolvimento.
Porque ter acesso à informação não é necessariamente sinónimo de
aprendizagem, esta mudança de paradigma promove cada vez mais a consciência de
que os indivíduos são ativos na sua construção de conhecimento e de que os
equipamentos culturais e educativos têm um papel fundamental a cumprir neste
campo. Enquanto instrumentos para a criação de espaços democráticos e
inclusivos de acesso, construção e debate do saber, as instituições e projetos
culturais cumprem ainda a dupla função de responder às exigências de lazer e
fruição da sociedade de consumo contemporânea.”
Foi em jeito de percurso pelas leituras de vida que algumas
estudantes selecionaram os autores e partilharam a importância dos educadores
na criação do gosto; estes espaços de relação com o eu e o outro são muito
importantes para a criação de processos performativos integrados e com
significados únicos nas aprendizagens e competências.
4. Literacias Práticas e Princípios de Aprendizagens
Partindo dos anteriores conceitos de património, teatro e animação
tentamos desenvolver o nosso percurso pedagógico na interdisciplinaridade entre
a Animação e o Teatro nas perspectivas da Educação Formal, Não formal e
Informal – há um desafio pedagógico na conjugação de competências e
aprendizagens que as práticas teatrais, poéticas de participação e de relação
interativa com públicos potenciam uma formação e uma literacia global dos
estudantes. O que transmite o património à comunidade nomeadamente neste caso a
zona termal das Ruínas Romanas de Tróia com diversas personagens em 6 ações de
movimento e gestualidade mímica ilustrada pelo guarda-roupa e pequenos
adereços, que transportam para possíveis cenas de quotidiano do lugar, no
período romano.
Segundo S. Silva , “A opção de utilizar os museus como lugares
propiciadores de aprendizagens significativas implica, assim, por parte dos
educadores, a construção de estratégias para uma exploração estruturada capaz
de conduzir ao desenvolvimento de competências exploratórias efetivas que
confiram uma razão e um sentido ao que se vê e se experimenta. A utilização de
elementos lúdicos é uma estratégia de desenvolvimento da curiosidade e sentido
de descoberta potenciadora de aprendizagens efetivas. A aprendizagem lúdica tem
efeitos duradouros e propicia memórias significativas na experiência dos
participantes, estimulando a sua criatividade e capacidade de responder aos
desafios. Associada ao universo do prazer ,a abordagem lúdica permite a
construção de uma relação de familiaridade que potencia a inteligência
emocional.”
São exemplos os projetos de animação do património, que visando
ampliar o nível de literacias dos participantes pelas ações e processos de
teatro e animação.
As noções de património têm vindo a evoluir de acordo com as
práticas de animação dos respetivos serviços educativos dos museus.
Ana Duarte refere “(1994) Um Museu não pode ser túmulo da memória,
mas sim a solicitação activa da memória, senão mesmo a memória viva. (...) Mais
do que nunca, nos dias de hoje, o museu deverá problematizar, questionar,
intervir...há um conjunto de relações que se vão estabelecendo e, com o
decorrer dos anos, o ato de educar pode, ser fruto de uma equipa muito vasta da
qual o museu faz parte.”
Com a publicação da Lei Quadro dos Museus Portugueses e a
concomitante definição do conceito de museu, é estabelecida a função de
“educação” como uma das basilares funções museológicas, plasmando o art.ºº.
42.º daquela lei a obrigatoriedade de o museu desenvolver “de forma sistemática
programas de mediação cultural e atividades educativas que contribuam para o
acesso ao património cultural e às manifestações culturais.” O ponto 2 do mesmo
artigo refere que “o museu promove a função educativa no respeito pela
diversidade cultural tendo em vista a educação permanente, a participação da
comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos.” Os princípios presentes
no anterior enunciado remete para um entendimento muito amplo da função de
educação no museu, numa perspetiva de educação permanente e de interligação com
a problemática da relação com os públicos, consubstanciando-se no artigo
seguinte da lei a questão específica da articulação com o sistema de ensino
As nossa área museológica a intervir inscreveu-se nas Ruínas
Romanas de Tróia, complexo de excelência para recreação do mundo romano e
o seu conjunto está classificado como monumento nacional desde 1910 e desde
2011 voltaram a funcionar com várias atividades de serviço educativo, dinâmicas
em que se integram o Mercado Romano.
O núcleo visitável inclui uma zona residencial, termas,
necrópoles, um mausoléu e uma basílica paleocristã, inseridos no maior
complexos de produção de salgas de peixe do mundo Romano, convidados a recuar
até ao século I d.C..
Atualizar com a poesia e o teatro o conceito de património é
contribuir para a sua melhor preservação e defesa fazendo emergir uma partilha
e interação constante com os seus visitantes e espectadores ativos durante todo
o ano.
Viver o que os nossos antepassados viveram – as personagens das
suas épocas e o nosso humilde contributo com a poesia e a animação teatral
Entendemos como Quadro Vivo a construção das personagens de um
quadro/pintura ou de uma escultura com atores ao vivo com um guarda –roupa
rigoroso e um cenário do ambiente de fundo da pintura.(aplica-se este conceito
a espaços interiores como Museus de Pintura ou Pintores ou a espaços de
Galerias de Arte com pintura ou escultura).
Entendemos também como Quadro ao Vivo uma situação de animação
teatral num monumento e no seu exterior uma praça ou um mercado por exemplo em
que os performers ou atores desenvolvem uma situação que é “espelho” “imagem
parada” num espaço determinado em que todo o corpo, mãos, pernas rosto
“congelam” como se fossem esculturas vivas antes ou depois de um pequeno
movimento. Como uma sucessão de “fotogramas”
Antes de Tróia APPC esteve em Palmela no Pinhal Novo, no Dia
Mundial da Poesia a convite da Biblioteca Municipal num Atelier de Escrita
Criativa e Performance:
O trabalho foi ensaiado nas aulas e nasceram os primeiros escritos
de que sublinhamos um poema de uma Jovem Erasmus – Mobilidade
Internacional-Brasil Cecília de 21 anos. Partimos do Dia dos Namorados (14 de
fevereiro de 2017) para poemas de enamoramento e amor.
À partida na primeira aula conjunta e como estávamos no dia dos
namorados – 14 de fevereiro lançamos poemas diversos de namoro ou amor e
solicitamos às jovens que escrevessem para uma Primeira Atividade com público
na Biblioteca Municipal do Pinhal do Novo no Dia Mundial da Poesia 21 de Março.
Escolhemos o poema de Cecília, estudante de 21 anos, de Erasmus
Brasil-Mobilidade Internacional:
“Quadris
Balançando ao som da canção
Entre contração e convulsão
Os passos consoados vão desenhando a dança
O movimento dos quadris aos poucos revela
A sedução velada que o corpo não nega
Mas esconde do tabu instituído e velado
O corpo fala enquanto a mente consente
Com as regras infundadas, mas conscientes
E funciona como escape para o real desejo
E quando liberto o corpo explode
Extravasa, respira, suspira, transborda
E revela a verdadeira essência da carne”
Cecília, 21 anos
Há 5 ou 6 Pressupostos da facilidade ou dificuldade de iniciar a
escrita pelos estudantes
1 – Professor, eu não escrevo sobre isso (vergonha);
2 – Professor, eu não sou capaz (medo);
3 – Professor, o poema, a representação ainda não está pronta, preciso de
voltar a reescrever, só mais uma versão um novo ensaio amanhã e depois
(perfeccionismo);
4 – Professor, se escrevo assim sobre esse assunto cai-me logo o mundo em cima
(culpa);
5 – Professor, eu já escrevi muito, já escrevi muito eu sou muito melhor que os
meus colegas (arrogância);
6 – (…)
“Património é poesia” (2) Poesia é Património
Podíamos dizer que de todo o Património emerge a poesia como de
toda a escrita teatral faz-se um novo património
Por isso desenvolvemos a 4 cena das dinâmicas teatrais com uma
performance em mímica muito simples entre o poeta romano Ovídeo e a sua Musa.
Como não podíamos utilizar a voz na representação sentimos interiormente a
poesia de. Ovídeo que aqui sublinhamos:
“Musica
Dos ensinamentos que me resta dar
Já me sinto corar
Mas diz-me a benévola Dione
“ o que causa vergonha, eis a nossa tarefa”
Que cada uma de vós a fundo se conheça
E escola a atitude
Que mais harmonia com o corpo lhe pareça
Ovídeo”
5. Aprendizagem pela Descoberta, Escrita Criativa e Património
Temos que cuidar, preservar, recuperar o património. Mas também
temos que deixar o nosso património presente às gerações futuras. Por isso a
escrita criativa no Património, com o Património de forma Performativa.
Apostar na Promoção uma das palavras chave de APPC.
Tentar obter um visitante um espectador não passivo do património
neste caso edificado.
6. Animação Teatral
As SEIS DINÂMICAS
- Cena de senhoras e
escravas nas Termas – Massagens;
- Cena das senhoras
e escravas nos Jogos;
- Passeios das
senhoras e escravas na zona das Termas;
- Imperador e
Imperatriz a observar o povo de um ponto mais alto;
- Poeta Ovídeo e
Musa;
- Imperador e
Imperatriz visitam o Mercado Romano, a “quinta” Romana com os seus animais
vivos exóticos e de caça e o Museu Arqueológico de S. Miguel de
Odrinhas no meio do público.
Utilizamos guarda-roupa própria e alguns adereços como os óleos e
as bolas de trapo.
O Mercado Romano de Tróia é anual na Freguesia do Carvalhal
–Concelho de Grândola
Ações Teatrais sem palavras, mímica rústica como uma aguarela
interagindo com o público apesar da ausência de palavras na performance por
problemas óbvios do teatro ao ar livre em espaço aberto e conservado
cuidadosamente como património.
Desenhar o teatro como um esquiço a carvão saindo da tela.
O património edificado ao ar livre é como uma pintura que se
derrama para fora de qualquer moldura.
O público raramente era fixo ou se sentava nas pedras, passava
pelas zonas que desenhamos para nós como palcos. Adotamos dois territórios. Um
em baixo junto ao público onde eram as termas e as massagens para as senhoras.
Numa área mais alta ficou o Imperador e a Imperatriz e depois o poeta e a Musa.
O segundo resultado (2) Foi uma passagem do Imperador e da Imperatriz pelas
zonas do público Mercado Romano., “quinta” Romana com animais vivos (cotovias,
falcões).Fomos ainda nesta peregrinação ao Museu São Miguel de Odrinhas .Onde
estivemos no “céu” com o sol e a lua.
7. Raízes Culturais e Património Familiar Pessoal
Focando na ESE, e concretamente no nosso trabalho nesta UC – APPC
- não podemos deixar de ser difusores de instituições projetos atividades
como facilitadores de aprendizagens na história, na poesia e nas artes que
foram comuns na raiz e nas famílias individuais de cada um dos estudantes.” Não
se pode escamotear que eventos ou ações com componente cultural são
percepcionados de forma negativa [junto dos estudantes] nem contornar o facto
de estas percepções sendo relativamente distintas dentro de diferentes classes
e estratos sociais.
“As importâncias dos fatores familiares condicionam atitudes
perante a cultura e as artes também os contextos que envolvem a família, amigos
e professores. Hábitos familiares de práticas culturais, lacunas de informação
receio do que é desconhecido agravam a distanciação dos jovens. Não estamos só
perante barreiras físicas mas também psicológicas e sociais, que advém da
percepção que a cultura e a arte ou são irrelevantes ou podem mesmo constituir
fator de exclusão junto do que é valorizado pelos segmentos jovens.
“A inclusão cultural implica atribuir um papel mais reforçado no
desenvolvimento de competências criticamente construídas de ver, ouvir, ler,
dramatizar, improvisar, representar e de construir sentido”
Segundo Susana Gomes da Silva, “(2006)as atividades educativas
necessitam de envolver a mente (minds-on) tanto quanto as mãos (hands-on) e de
permitir a produção de uma reflexão sobre a prática realizada, sobre o que se
aprende e como se aprende. A organização das atividades em torno de
conceitos-chave e a conceção de projetos educativos que constituam desafios
(colocando problemas e levantando questões) e que impliquem uma participação
directa dos participantes na resolução desses «problemas» são formas de
enriquecer a experiência educativa. Participação que se faz também pelo
envolvimento dos sujeitos nas tarefas potenciando a inteligência emocional e
afetiva (hearts-on). Só assim a trilogia da aprendizagem se completa:
aprender-fazendo (hands-on), fazer-pensando (mindson), pensar envolvendo-se
(hearts-on).”
É este o desafio que pretendemos ganhar na formação dos animadores
socioculturais pois só com vivências e convivências significativas nos vários
âmbitos da Animação Sociocultural conseguiremos habilitar futuros profissionais
numa missão de desenvolvimento de projetos com as comunidades e as
pessoas. Pois é neste caminho de “(...)Lançar desafios e questões, fazer
uso dos vários sentidos, desenvolver diferentes tarefas, criar diversos objetivos
(diferentes pontos de partida para múltiplos pontos de chegada), comparar
fontes diferenciadas é permitir e potenciar diferentes estilos e perfis de
aprendizagem, promovendo a entreajuda, a tolerância, a inclusão, a
complementaridade, a criatividade e a cidadania ativa.
Living History
O conceito de História ao Vivo (Living History) forma de encenação
da vida quotidiana de qualquer sociedade que se pode teatralizar e fazer
espetáculo teve a sua época e moda e ainda sobrevivem algumas (poucas)
experiências de rigor histórico, de pesquisa do traje e dos cenários de
determinado período ou época social.
Temos contudo alguma resiliência à utilização massiva e sem
critério rigoroso e histórico de Feiras e Mercados Medievais em todo o país é
preciso virar a página nesta paralisia criativa estudando outras épocas e
fazendo uma reflexão fértil sobre a história dos locais. (diz-se quase como
anedota atual que hoje em Portugal existem mais Feiras Medievais do que
na Idade Média).
Os anos 80 e 90 do século XX foram pioneiros da metodologia
de trabalho de projetos Living History os quais preconizavam um trabalho
profundo de relação curricular e aprendizagens pelas recriações históricas,
tendo sido pioneiros os distritos de Faro e Setúbal, após colóquio da APOM em
1986. Ana Duarte(1986) refere ainda , toda a abordagem de um tema passa, também
por uma intervenção no meio e a formação de uma opinião pública. A educação
cívica é, neste caso essencial pois impõe regras de acesso e fruição do
património e não há público mais entusiasmado que um grupo de jovens que tenham
participado sistematicamente nestas áreas.”
O abrandamento desta metodologia de formação e animação pelas
escolas, em contextos de educação formal, gerou um novo ciclo de recriações
pelas artes de palco e de guerra, gerando um novo formato de criação de eventos
culturais e turísticos, muitos replicados sem fundamentos históricos e relações
com as comunidades locais, mas que se replicam de forma massiva como feiras de
períodos marcantes na história nacional, em cenários de monumentalidade. É
exemplo de referência a Viagem Medieval por Terras de Santa Maria da Feira,
como a emergência de um mercado para as artes – que diretamente introduz o
conceito de públicos massificados e com ele a democratização dos produtos histórico
artísticos.
Em termos formativos e de conhecimento do património pelas artes e
animação, é muito importante para futuros animadores socioculturais poderem
contactar com as equipas de produção dos eventos, assim como fazerem parte dos
diferentes quadros animados em contextos patrimoniais, mas as aprendizagens
mais significativas são inscritas em processos curriculares formais.
8. Conclusão
Em educação somos tentados sempre a avaliações das Unidades
Curriculares por fases. Nesta UC Animação Património e Teatro somos tentados a
“adivinhar “projeções da avaliação na linha do tempo dos percursos profissionais dos estudantes.
Há necessariamente que avaliar que aprendizagens e competências
ao nível da expressão artística, comunicação com público, noção de
património e de “sociedades” da informação com espetáculo.
Esta experiência de APPC concretizou-se num semestre, numa
primeira edição, como tal será fundamental dar-se continuidade à participação e
implicação dos estudantes em futuros eventos nas comunidades.
9. Nota Final
Para terminar um especial agradecimento à equipa Organizadoras em
Troia. Que continuem este excecional convívio dos espectadores com o
Património. Todos os anos algumas centenas de novos públicos. Bem Hajam.
Uma palavra de especial gratidão aos estudantes que participaram.2º Ano
da Licenciatura de Animação e Intervenção Sociocultural - UC de Opção. E a
todos os outros estudantes da mesma licenciatura que apoiaram e enquadraram os
colegas. Palavra final com uma citação:
“Ser radical é aprender as coisas de raiz” [9]. Pode-se ainda
contrapor a valia do desejo de aprender e conhecer coisas novas, o que permite
dispor de informação mais completa, para que o “consumidor” cultural se
transforme também em “produtor” da atividade promovida, e se sinta gratificado
com essa experiência.
Queremos estudantes criadores “produtores” de atividades ou
eventos como hoje se diz na linguagem comum. Sempre valorizados pelas novas
experiências.
Notas
- (Professores da
Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal -José Gil
tb. Diretor Teatro Porta a Porta –T.P.IPS)
- Fórum em Évora
2016-http://contemporanea.pt/agosto-setembro2016/16/ captado em
27-8-2017
3. Karl Marx, citado em “Contributions à la guerre en cours”
Referências Bibliográficas
Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro- Lei de Bases do Património.
Lei n.º 47/2004, de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus
Portugueses.
ANDER-EGG, Ezequiel (1999), «O Léxico do Animador Sociocultural».
Amarante, Edições ANASC.
CARVALHO, Ana (2011), «Os Museus e o Património Cultural
Imaterial». Lisboa, Edições Colibri.
DUARTE, Ana (1994), «Educação Patrimonial – Guia para Professores,
Educadores e Monitores de Museus e Tempos Livres». Lisboa, Texto Editora.
NEVES, José Soares, SANTOS, Jorge Alves dos, “Aspectos da Evolução
dos Museus em Portugal no período 2000- 2005” in Boletim RPM, n.º 21, Lisboa,
IPM, Setembro 2006.
RYAN; Joseph J.,
«Living History Manual”.
SILVA, Susana Gomes da (2001), «Museus, Cultura e Sociedade: novos
desafios, novas relações», in Educar Hoje–Enciclopédia dos Pais, vol. IV, Lexicultural-Activ.
Editoriais, Amadora, pp. 134-135.
SILVA,Vera e Filipe, Susana, “Olhar a animação, visando serviços
educativos para as literacias e competências de informação”.Biblioteca
Municipal do Seixal.
SILVA, Susana Gomes da (2004), «Aprender nos museus», in Activa
Multimédia (col.), Métodos de Estudo, Vol. XVI, Lexicultural, Actividades
Editoriais, Amadora.
SILVA, Susana Gomes da (2006), «Museus e Públicos: estabelecer
relações, construir saberes», in Revista Turismo e Desenvolvimento, 5/2006, Universidade
de Aveiro, Aveiro, pp 161-167 .
Vários PRAÇA, J. Henrique (2007), «Serviços Educativos na
Cultura», Setepés, Porto.