Peniche e Buddha Eden
A A8 e a IP6 são exemplos da extraordinária rede viária que
Portugal soube construir nos últimos vinte anos. É verdade que também foram
desperdiçados alguns milhões de euros, dadas algumas derrapagens nos orçamentos
das obras, mas os “pecados” acabaram por ser largamente compensatórios...
Quanto ao Hotel MH Peniche, poucos reparos: o solicitado
quarto com vista para o Baleal não foi o melhor e o serviço de bar chegou
a ter atrasos significativos, mas os aspetos positivos rapidamente fizeram
esquecer as deficiências.
Sobre Peniche, coube dentro das medianas expectativas que se
levavam. O cheiro à azáfama da pesca, das suas ruas interiores labirínticas, dos
seus turísticos restaurantes em serviços de meia tigela, e pouco mais. O Cabo
Carvoeiro e a Nau dos Corvos, mais o vento agreste e as paisagens de brutas
rochas talhadas pela força do mar infinito que se estende até se adivinhar o
continente americano, constituem um dos inesquecíveis momentos da sua
enorme paisagística beleza. Ao longe as Berlengas.
Depois as praias, o Baleal donde se avista Ferrel, onde em
tempos quiseram fazer uma central que “para alguns é nuclear, mas para outros é
mortal”, lembrando a velhinha mas sempre valiosa canção do Fausto; e a praia
dos “Super Tubos” muito apreciada pelos surfistas de todo o mundo que, mal
rasga um solinho, salpicam o mar com as suas pranchas luzidias, à espera de agarrarem
uma onda, único prémio maior que nada. Mas é saudável o mar, mais o embalo
das ondas, apesar dos perigos que se escondem por detrás da sua bravura.
Quanto ao Forte de Peniche, fechado para obras, em vias de
musealização, mas que sempre relembra a prisão e a tortura daqueles que durante
o regime político autoritário do Estado Novo lutavam por outras políticas, que
nem sempre de liberdade, cuja omnipresença em nossas memórias nos
trazem a franzina figura física, mas não mental, de Àlvaro Cunhal, e de outros
comunistas que estiveram na linha da frente na luta contra o fascismo. Ao longe, o
socialismo russo que, porventura, não era mais livre, mas onde, de maneira
certa, se punha a tónica na emancipação dos trabalhadores e na busca de
melhores condições de vida para operários e camponeses.
Enfim, fascismo nunca mais!
Por fim, o ponto alto da viagem, a visita ao Buddha Eden, na
Quinta dos Lóridos, muito perto do Bombarral, onde o comendador Berardo com um super investimento, dando largas à
sua imaginação fértil, cultural e artística, produz artes em cima de artes.
Absoluta criatividade à solta, bem desenhada. Quarenta e cinco hectares de
quinta transformados em jardins, lagos, anfiteatros, múltiplos espaços em que
divindades se recriam, de raríssima beleza. Um infindo jardim com o perfume
espiritual do Oriente, onde pontificam os motivos budistas e o vinho, Baco e
Dionísio, mais as suas desnudadas ninfas. Tudo sob os miraculosos olhares do
panteão budista, mas onde tudo é muito mais. E, depos, à saída, lá está a loja
dos vinhos, da Bacalhoa de Azeitão, da alentejana Quinta do Carmo, e dos
Lóridos espumantes acompanhados de um branco da casta alvarinho da região do
Bombarral.
A com-provar.
A com-provar.
Luís Santos
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