José Gil e Barbara Pollastri
O Intérprete-sombra
para um Teatro inclusivo | uma experiência.
Diário de Trabalho
A Disciplina de Expressão Dramática, vulgo Teatro, existe
no Currículo de Tradução e Interpretação para Língua Gestual Portuguesa (TILGP)
desde há 20 anos na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de
Setúbal. Foi uma inovação nestes
cursos e, apesar de muitas alterações curriculares, conseguiu desenvolver a sua
ação.
Não é de
estranhar que o Teatro Politécnico IPS já com 5 anos tenha nascido pela mão de
duas estudantes de TILGP em 2013: Daniela Sousa e Liliana Machado.
Atualmente
a presença do curso manifesta-se com uma dúzia de estudantes/atrizes e com o
apoio à direção da estudante finalista Barbara Pollastri que ao longo do seu
segundo ano (2016/17) impulsionou de forma ativa e proactiva a continuidade
deste projeto.
Quem é o
nosso intérprete-sombra? Um ator com conhecimentos de Língua Gestual Portuguesa
(LGP), um intérprete de LGP ou um ator/intérprete de LGP?
O intérprete-sombra traz à comunidade surda uma nova forma de vivenciar o
Teatro. O intérprete-sobra já não atua no canto do palco, mas sim movimenta-se
entre os atores, tornando-se ele próprio um ator. O intérprete-sombra funde-se
assim no elenco tornando-se parte do universo cênico. Dessa forma, o espetador
surdo já não é obrigado a desviar o olhar para o canto do palco para acompanhar
as deixas dos atores. Pode desfrutar de tudo o que se está a passar no palco. Para
o espetador ouvinte, o intérprete-sombra distrai menos do que a presença
de um intérprete ao lado do palco. Assim como os próprios atores sentem a
própria voz de alguma forma “amplificada” através da Língua Gestual.
Mas afinal, quem é o intérprete-sombra? Como todos os atores que acreditam
profundamente na Arte do Teatro como expressão de Vida, é alguém que leva esse credo
para a comunidade surda, vivenciando em primeira pessoa a emoção do Teatro. Repetir,
repetir, repetir... até cair de lado pelo cansaço da emoção... eis quem é o
intérprete-sombra.
15-2-2018
Começamos
neste dia uma jornada de trabalho de seis ensaios em 4 semanas aproximadamente.
Realizar de forma original um espetáculo de teatro com interpretação em LGP em
que cada ator tem um intérprete/ator ao seu lado (o intérprete-sombra).
19-2-2018
Abordamos pela primeira vez a vida e obra dos autores das
cenas. O primeiro autor a estudar Karl Valentin:
“Nasceu em Munique
a 4 de Junho de 1882 como marceneiro, começa uma carreira de cantor popular nas
cervejarias de Munique.
É em 1907 que conhece, com O Aquário, o seu primeiro grande
êxito. E passa a assinar Karl Valentin. Será em 1908, quando trabalha como ator
em Frankfurter Hof, que
conhece Liesl Karlstad que se viria a tornar a sua parceira em palco, durante
cerca de trinta anos. Bertolt Brecht frequenta os seus espetáculos, toca na sua
orquestra, reconhece a sua influência. Quando, por razões de saúde, Liesl
Karlstad abandona a parceria em 1935, Valentin não encontra substituta à altura
Quase esquecido,
Karl Valentin morre de pneumonia a 9 de Fevereiro de 1948. O seu teatro é
redescoberto nos anos 70, a partir das traduções que foram feitas em França,
por Jean-Jourdheuil e Jean-Louis Besson (Éditions Théâtrales), tendo desde
então sido reconhecido como um dos maiores autores cómicos de sempre.
[http://www.artistasunidos.pt/publicacoes/40-pessoas/autores/796-karl-valentinValentin
Ludwig Fey.recolhido em 26-3-2018]
21 e 26 de
fevereiro de 2018
Logo no
primeiro ensaio com intérprete-sombra, perguntámo-nos se todas as peças podem ter
o intérprete-sombra. Por exemplo neste fragmento de Bombeiro vamos sublinhar as dificuldades.
“Sra. MARTIN: Pois
bem, hoje, ia eu ao mercado para comprar legumes que estão cada vez mais caros.
Sra. SMITH: Onde é
que isto vai parar!
Sr. SMITH: Não
interrompas, querida, sua feia.
Sra. MARTIN: Na
rua, ao lado de um café, vi um senhor, decentemente vestido, com uns cinquenta
anos, nem isso, que ...
Sr. SMITH: Que o
quê?
Sra. SMITH: Que o
quê?
Sr. SMITH: Não
interrompas, querida, estás a ser nojenta.
Sra. SMITH: Querido, foste tu que interrompeste primeiro,
malcriadão”
Este
trabalho só foi possível com a participação muito especializada das professoras
de TILGP Ana Silva e Maria José Coda. Esta cena pressupõe que os personagens se
interrompam constantemente, que se atropelem. Ainda um ator não acabou já o
outro está a avançar. Se não se interromperem perde-se a graça, o cómico e o
ritmo. O teatro como a música tem um passo e um andamento próprio. Eis que é um
grande desafio encenar esta peça mesmo pelo ritmo que obriga a observar. Será
que conseguimos? Como melhorar? Talvez distribuindo os atores de forma a terem
uma proximidade que permita ao espetador surdo ou ouvinte de focar o seu olhar
num perímetro restrito, de forma a conseguir com a visão periférica a
acompanhar qualquer movimento, inclusive o diálogo (na perspetiva do surdo),
sem perder o ritmo acelerado do mesmo. Sem dúvidas percebemos quantos são os
aspetos a trabalhar para um Teatro inclusivo e isso deu-nos ainda mais vontade
de continuar nesta experiência.
1-3-2018
O segundo autor a conhecer neste roteiro cómico foi – “Eugene Ionesco: o principal autor do Teatro do
absurdo-… filho de um advogado e foi batizado na
religião ortodoxa, à qual pertenceu durante toda a vida. Ainda criança mudou-se
com a família para Paris, onde seu pai tornou-se catedrático em leis. Com a
eclosão da Primeira Guerra Mundial, seu pai voltou para a Romênia, deixando
Eugene e sua irmã aos cuidados da mãe. Entre 1917 e 1919, Eugene Ionesco morou
em La Chapelle Anthenaise, cuidando de sua saúde frágil. Em 1922, voltou a
Bucareste para viver com seu pai. Lá fez seus estudos e começou a trabalhar num
banco, em 1926. Ionesco cursou a faculdade de francês na Universidade de
Bucareste e colaborou com diversos revistas literárias romenas. Em 1934
publicou "Nu!" ("Não!"), uma coletânea de artigos e textos
que provocou escândalo no meio literário oficial. Em 1948 começou a escrever a
peça "A Cantora Careca", que estreou em 1950. Esta anti-comédia,
plena de surrealismo verbal, foi uma das principais peças do chamado
"teatro do absurdo". Seguiram-se várias outras peças, que marcaram o
teatro do século 20, como "A Lição", "As Cadeiras" e
"O Novo Inquilino"... Em 1960 estreou sua obra mais conhecida,
"O Rinoceronte". Ionesco tornou-se um escritor de prestígio e em 1971
foi admitido na Academia Francesa. Morreu aos 81 anos, em sua residência, e foi
enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris. [https://educacao.uol.com.br/biografias/eugene-ionesco.htm,
recolhido 26-3-2018]
15-3-2018 e reposições na semana sucessiva.
ETIQUETAS
| Estreia na Casa da Cultura de Setúbal
Teatro Politécnico do
Instituto Politécnico de Setúbal na Casa da Cultura de Setúbal às 11h. Seguimos
desta vez o Método do Mestre Peter Brook.
Como sempre no dia de
comemorar o Dia mundial do Teatro Entrada Livre até ao limite da lotação da
sala. Vamos ler parte das Mensagens; “Deixe-nos remover do teatro tudo o que é
supérfluo. Deixe-nos desnudá-lo. Porque quanto mais simples é o teatro, mais
fácil é lembrar-nos do único fato inegável: nós somos, enquanto estamos no
tempo; que somos enquanto somos carne e osso e corações batendo em nosso peito”
(Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2018).
LEITURAS | Vamos ler e
recitar alguns dos melhores poemas do mundo em português. Um poema em Língua
Gestual Portuguesa pela atriz Cidália Jesus. Acompanhada pela atriz
leitora Ana Carolina. Outras Atrizes
nas Leituras de Poemas Cristina Roldão, Federica
Podda, Leida entre muitos outros.
K. Representaremos o nosso espetáculo
K com as atrizes e atores Catarina Carvalho, Cristina
Roldão, Diogo Mariano, Susana Costa, Inês
Macedo, Nicole Viviana, Ana Rosa, Ana
Santos, Inês Santos e Catarina
Vilelas entre outros
ENCADERNADORA | Estreia
de Leonor Xarepe
BOMBEIRO (2018) | com as atrizes
- Laura Sérgio (na foto), Filipa Ferreira, Ana Carolina foto), Carolina Calado, Inês Filipa, Inês Lourenço Jones.
CASAL INCOMUNICANTE | Finalmente
o grande êxito do semestre passado “Casal Incomunicante” com Rafaela
Alface, Inês Macedo e Sara Alexandra Batista.
Encenação José Gil,
Assistente de Encenação Eliana Silva
Direção Barbara Pollastri
Direção Barbara Pollastri
Técnicos: Ricardo
Duarte, Marian Mariana Silva, Sara Alexandra Batista
e Inês Trindade.
26-3-2018
A IMPORTÂNCIA DA LUZ NO
TEATRO
O Teatro não são só os atores
e os espectadores. Há várias ferramentas e criadores como o Autor, o
dramaturgo, o fotografo, o designer gráfico digital, o sonoplasta, o cenógrafo,
o guarda roupa, o comunicador, a costureira, a maquilhadora, o aderecista... Hoje centramo-nos apenas na
importância da luz num espetáculo de teatro.
Temos aqui duas boas fotos da mesma cena do mesmo espetáculo Etiquetas. Uma com
luz de Teatro outra sem luz. Vejam a diferença. Não preciso de dizer mais...
Fotos excelentes de Francisco
Ferreira e João Pires
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