sábado, 24 de março de 2018

QUANDO NOS DESSINTONIZAMOS DO QUE DIZEMOS SINTONIZAR


Abdul Cadre


Vou roubar a palavra «ouver» ao José Duarte, do Cinco Minutos de Jazz, para dizer assim: estava eu a "ouver", na pantalha televisiva, uns maduros que por ali andam, aos Sábados – um trio de quatro, como diriam no meu bairro – quando dos três, que são quatro, mas naquela noite três apenas, o mais estentórico, uma senhora que gosta de dizer coisas em "amaricano", a propósito da obrigatoriedade ou não de vacinar as criancinhas contra o sarampo, se sai com esta aleivosia: "os pais não são donos dos filhos".
Que primor!
É como dizer-se que a chuva molha, porém, com um senão, a chuva quando cai é para todos, mesmo para os que se previnem com guarda-chuva.
Ora, a pergunta que se impõe é se o estado é dono, não só dos filhos, como dos pais. O americanês tem disto, não consegue dobrar a língua sem entrar de mercado.
As crianças não têm dono, porque não são coisas e só ao arrepio das leis entram no mercado, nomeadamente o mercado paralelo das adopções e das barrigas de aluguer. Mas isto de barrigas de aluguer quem sabe da poda é o Cristiano Ronaldo.
Mas adiante: a obrigação de vacinar e de obrigar a ser vacinado é uma prerrogativa do estado e assenta no direito de defesa do grupo perante ameaças de abuso da liberdade dos indivíduos que o integram.
Só isso. Não tem a ver com donos.
Numa altura em que temos extraterrestres infiltrados na Assembleia da República, que exigem direito de personalidade para os cães, periquitos, canários e similares, alienados do qualificativo de coisas, chamados de gente de companhia, que até ao restaurante vai, e achar que os pais não são donos dos seus rebentos de companhia, faz subentender que alguém será dono. Dou de barato que a estentórea senhora não queira que seja o estado, talvez o Mercado, cujas virtudes louva. Ou a Casa Pia.

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